14.04.2013 Views

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ADRIANO MIRANDA<br />

Apresento o que [as três religiões] têm<br />

em comum: a fé no Deus único <strong>de</strong><br />

Abraão, entendido como criador misericordioso<br />

<strong>de</strong> todos os seres huma<strong>nos</strong>.<br />

O monoteísmo é o terreno comum <strong>de</strong>stas<br />

religiões, que têm um conceito <strong>de</strong><br />

história que não é circular, mas progressivo.<br />

Há também figuras proféticas<br />

e mandamentos éticos comuns — crer<br />

em Deus tem várias consequências.<br />

Para referir brevemente as diferenças:<br />

para os ju<strong>de</strong>us, Israel enten<strong>de</strong>-se<br />

como a terra e o povo <strong>de</strong> Deus. Para o<br />

cristianismo, Jesus Cristo é o messias e<br />

filho <strong>de</strong> Deus. Para os muçulma<strong>nos</strong>, o<br />

Alcorão é o livro e a palavra <strong>de</strong> Deus.<br />

Não acredito na unida<strong>de</strong> das três religiões,<br />

mas acredito na paz entre elas.<br />

O que quer dizer que po<strong>de</strong>mos aceitar<br />

as diferenças e respeitá-las, enfatizando<br />

que há muitas coisas em comum e<br />

que <strong>de</strong>vemos excluir a intolerância e as<br />

guerras, trabalhando em conjunto <strong>de</strong><br />

muitos modos.<br />

Estamos a passar do paradigma mo<strong>de</strong>rno,<br />

em que as religiões estavam em<br />

confronto, para um paradigma pósmo<strong>de</strong>rno,<br />

mais pacífico, <strong>de</strong> mútua compreensão,<br />

cooperação e integração<br />

social. O sincretismo não é solução.<br />

Várias das questões com que o islão<br />

hoje se confronta têm relação directa<br />

com a sua origem. Küng faz esse percurso,<br />

<strong>de</strong>screvendo como, entre tensões,<br />

se <strong>de</strong>fine a primeira comunida<strong>de</strong>;<br />

o alargamento dos direitos da<br />

mulher; a constituição do islão como<br />

“religião <strong>de</strong> ética” e o reduzidíssimo<br />

número <strong>de</strong> “<strong>ver</strong>sículos jurídicos” do<br />

Alcorão (80, em 6666) — mesmo nestes<br />

casos, não são “regulamentações<br />

<strong>de</strong>talhadas com sanções penais”, mas<br />

“exigências morais”.<br />

Küng explica também como a comunida<strong>de</strong><br />

islâmica é o “<strong>ver</strong>da<strong>de</strong>iro<br />

núcleo em volta do qual se ergue o<br />

Estado” — ao contrário do cristianismo,<br />

que nasce exterior ao Estado ou<br />

mesmo opondo-se ou sendo perseguido<br />

por ele. Ou como o Alcorão passa<br />

<strong>de</strong> narrativa oral à fixação escrita,<br />

como a i<strong>de</strong>ia da relação umbilical entre<br />

islão e guerra é um “estereótipo”<br />

ou, ainda, como o profeta se vê transformado<br />

em homem <strong>de</strong> Estado.<br />

Maomé estava numa situação difícil:<br />

ele não tinha um Estado, havia uma<br />

série <strong>de</strong> problemas com as diferentes<br />

“Se formos às origens,<br />

vemos que o ju<strong>de</strong>ocristianismo<br />

é semelhante ao islão.<br />

É significativo que<br />

o Alcorão fale sempre<br />

<strong>de</strong> modo positivo<br />

sobre Jesus”<br />

tribos em Medina, em conflito com Meca.<br />

Des<strong>de</strong> o princípio, ele funcionou<br />

não só como profeta mas também como<br />

homem <strong>de</strong> Estado, esteve envolvido em<br />

questões políticas e mesmo em batalhas.<br />

Embora se tenha envolvido no<br />

conflito com Meca, não executou todos<br />

os seus inimigos, trabalhou pela paz e<br />

foi capaz <strong>de</strong> reconciliar as pessoas.<br />

Devemos tomar o islão literalmente:<br />

islão é submissão a Deus, tem a <strong>ver</strong> com<br />

“salam”, que quer dizer paz, e há muitos<br />

muçulma<strong>nos</strong> hoje que trabalham<br />

intensamente pela paz. E que estão chocados<br />

com a atitu<strong>de</strong> dos fanáticos que<br />

querem promo<strong>ver</strong> a tirania.<br />

Na obra, Hans Küng apresenta seis<br />

paradigmas para ler a história do islão:<br />

o da comunida<strong>de</strong>, o império árabe,<br />

o da religião mundial, o ulemásufi,<br />

a mo<strong>de</strong>rnização e o pós-mo<strong>de</strong>rno.<br />

Todos eles vão <strong>de</strong>ixando em<br />

herança diferentes características,<br />

que permitem enten<strong>de</strong>r o islão multifacetado.<br />

O qual se confronta com<br />

outro problema já (quase) resolvido<br />

no cristianismo: o da exegese crítica<br />

do texto. Questão que, na con<strong>ver</strong>sa<br />

com o Ípsilon, Küng consi<strong>de</strong>ra “crucial”.<br />

O Alcorão, elemento distintivo em<br />

relação a ju<strong>de</strong>us e cristãos, é entendido<br />

como palavra <strong>de</strong> Deus, mas a sua<br />

fixação é progressiva. Inicialmente,<br />

“o profeta não <strong>de</strong>u quaisquer indicações<br />

para a edição <strong>de</strong> um livro”. Pelo<br />

contrário: a fixação do texto sagrado<br />

serve, no início, uma estratégia <strong>de</strong><br />

centralização política.<br />

Ligadas umbilicalmente a esta<br />

questão, surgem a laicida<strong>de</strong> e a secularização.<br />

Questões importantes, consi<strong>de</strong>ra<br />

Küng:<br />

Sim. Mas não <strong>de</strong>vemos ignorar a religião.<br />

Mesmo na Turquia, perceberam,<br />

<strong>de</strong>pois da revolução <strong>de</strong> Kemal Atatürk,<br />

que a religião não po<strong>de</strong> ser perseguida<br />

ou ignorada. A Turquia mostra que o<br />

islão po<strong>de</strong> ser respeitado. O sistema político<br />

<strong>de</strong>ve ser uma <strong>de</strong>mocracia, mas a<br />

<strong>de</strong>mocracia admite as religiões. Mesmo<br />

em França, estão a tentar hoje ter um<br />

sistema mo<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> cooperação.<br />

Uma leitura política e económica<br />

leva-<strong>nos</strong> a consi<strong>de</strong>rar os recursos e o<br />

po<strong>de</strong>r. Mas a religião tem um papel importante,<br />

porque tem a <strong>ver</strong> com o nível<br />

mais profundo do coração humano e<br />

as mais profundas dimensões da socieda<strong>de</strong><br />

humana.<br />

As religiões po<strong>de</strong>m influenciar conflitos<br />

políticos ou económicos. Po<strong>de</strong>m<br />

ajudar a intensificar a luta contra outras<br />

religiões e outros países mas, especialmente<br />

após a II Guerra Mundial,<br />

quando entrámos no paradigma pósmo<strong>de</strong>rno,<br />

vemos que as religiões po<strong>de</strong>m<br />

trabalhar também pela paz.<br />

Se tomar como exemplo o caso <strong>de</strong><br />

Moçambique, a influência <strong>de</strong> pessoas<br />

<strong>de</strong> diferentes igrejas ajudou a estabelecer<br />

a paz num contexto difícil. A mesma<br />

coisa [se passou] com a intervenção <strong>de</strong><br />

pessoas <strong>de</strong> diferentes igrejas na abolição<br />

do apartheid na África do Sul.<br />

Enfim, esta obra — reunida às outras<br />

duas da trilogia <strong>de</strong> Küng — serve<br />

o propósito (paradoxalmente possibilitado<br />

pela con<strong>de</strong>nação do Vaticano)<br />

a que o teólogo tem <strong>de</strong>dicado as<br />

três últimas décadas: o diálogo interreligioso<br />

e o seu contributo para a<br />

busca <strong>de</strong> uma ética mundial. Hans<br />

Küng afirma-se convicto da possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um “triálogo” entre ju<strong>de</strong>us,<br />

cristãos e muçulma<strong>nos</strong>. Mesmo se,<br />

pessoalmente, não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser cristão<br />

e católico, como confessa.<br />

Se formos às origens, <strong>ver</strong>emos que o<br />

ju<strong>de</strong>o-cristianismo é muito semelhante<br />

ao judaísmo e também ao islão. É significativo<br />

que o Alcorão fale sempre <strong>de</strong><br />

modo positivo sobre Jesus. Há muitos<br />

textos [no Alcorão] que elogiam Jesus.<br />

A única condição é que não faz <strong>de</strong>le<br />

Deus. Há muitas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discutir<br />

isto positivamente.<br />

Se eu tivesse nascido em Meca, provavelmente<br />

seria muçulmano. Analisei<br />

cuidadosamente as diferentes religiões<br />

nestes meus livros para <strong>ver</strong> quais são<br />

os aspectos positivos <strong>de</strong> cada religião.<br />

Tal como dizia o Concílio Vaticano II,<br />

posso hoje estar consciente <strong>de</strong> que as<br />

outras religiões são caminhos para a<br />

salvação e não para ir para o inferno.<br />

Para mim, Jesus Cristo é um caminho<br />

<strong>de</strong> vida. Segui-lo é continuar a <strong>de</strong>scobrir<br />

um sentido para a minha vida, o<br />

meu sofrimento e a minha luta. É um<br />

excelente modo <strong>de</strong> continuar, neste tempo,<br />

a encontrar a salvação.<br />

-<strong>nos</strong> o islão<br />

s três monoteísmos e da busca <strong>de</strong> uma ética mundial. Hans<br />

s plural do que se julga no Oci<strong>de</strong>nte. António Marujo<br />

ESCRITA NA PAISAGEM APRESENTA<br />

THAT SUBLIMINAL KID<br />

THE SECRET SONG<br />

1 JULHO ¬ 22H00<br />

ESTRUTURA FINANCIADA POR PARCEIRO<br />

ÉVORA<br />

COLÉGIO DO ESPÍRITO SANTO<br />

UNIVERSIDADE DE ÉVORA<br />

CONTACTOS<br />

WWW.ESCRITANAPAISAGEM.NET<br />

INFO@ESCRITANAPAISAGEM.NET<br />

Tel. elm. 919 306 951<br />

<strong>de</strong>baixo das oliveiras<br />

TEATRO NUMA<br />

NOITE DE VERÃO<br />

Um evento único em Vale dos Barris: 13 Companhias europeias <strong>de</strong><br />

teatro apresentam, em 13 palcos ao ar livre, histórias dos recreios, o<br />

que vos dará uma visão sobre a di<strong>ver</strong>sida<strong>de</strong> do trabalho realizado <strong>nos</strong><br />

diferentes países. A varieda<strong>de</strong> das culturas europeias soprará como a<br />

brisa através do vale - e mais <strong>de</strong> 100 artistas europeus celebrarão um<br />

solstício <strong>de</strong> Verão inesquecível. Deixem-se levar...<br />

Reserva Obrigatória: 212 336 850 / www.obando.pt<br />

Financiado pelo Programa<br />

Cultura 2007-2013<br />

da União Europeia<br />

Estrutura financiada por / iniciativa com o apoio <strong>de</strong><br />

Estrutura apoiada por / co-organização<br />

Ípsilon • Sexta-feira 25 Junho 2010 • 33

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!