LIVRO ELIEZER - ta valendo (6 de julho) - Insight
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EUGÊNIO<br />
GUDIN FILHO<br />
Oprofessor<br />
Eugênio Gudin entrou para a história do Brasil pelo arco do triunfo da sabedoria<br />
acadêmica. I<strong>de</strong>alizou a primeira faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ciências econômicas e administrativas do país, ainda na<br />
década <strong>de</strong> 1930, e foi o introdutor da teoria monetária no Brasil – sua obra Princípios da Economia<br />
Monetária foi carregada por uma geração <strong>de</strong> economis<strong>ta</strong>s como tábuas sagradas. Ministro da Fazenda,<br />
reuniu entre seus seguidores Roberto Campos, Octávio Gouvêa <strong>de</strong> Bulhões e seu sobrinho Mário Henrique<br />
Simonsen. No en<strong>ta</strong>nto, por mais paradoxal que possa parecer, é outro Gudin que preservo em<br />
minha memória: o engenheiro, formado pela Escola Politécnica do Rio <strong>de</strong> Janeiro, amante da boa<br />
economia física e apaixonado por ferrovias. Chegou a presidir a Associação das Estradas <strong>de</strong> Ferro do<br />
Brasil. Guardo com carinho <strong>ta</strong>mbém o Gudin ecológico, profundo conhecedor <strong>de</strong> botânica e enamorado<br />
das orquí<strong>de</strong>as. Em mui<strong>ta</strong>s das viagens que fazia, eu trazia sementes <strong>de</strong> espécies diferentes para ele<br />
plan<strong>ta</strong>r na sua casa. Definitivamente, eu e o Brasil conhecemos “Gudins” diferentes, o que não quer<br />
dizer nada, porque Gudin era múltiplo, um homem <strong>de</strong> incontáveis aptidões.<br />
Gudin reunia características multidisciplinares. Era brilhante sobre uma planilha ou em frente a<br />
um quadro-negro e, ao mesmo tempo, um genial economis<strong>ta</strong> do concreto. Era capaz <strong>de</strong> fazer uma<br />
solene disser<strong>ta</strong>ção sobre a visão <strong>de</strong> Milton Friedman da moeda na economia e, minutos <strong>de</strong>pois, com a<br />
mesma intensida<strong>de</strong>, apon<strong>ta</strong>r sob a linguagem <strong>de</strong> equações matemáticas, uma série <strong>de</strong> soluções para os<br />
principais nós da infra-estrutura do país. Apesar <strong>de</strong> sempre ter sido um gran<strong>de</strong> ba<strong>ta</strong>lhador do <strong>de</strong>senvolvimento<br />
do Brasil, <strong>de</strong>ixava transparecer, no canto dos olhos, uma tristeza danada. Costumava dizer que<br />
não chegaria a ver este país próximo do seu verda<strong>de</strong>iro potencial.<br />
Eu costumava ir frequentemente à casa <strong>de</strong> Gudin, várias vezes acompanhado por Mário Rolla, que<br />
era meu chefe <strong>de</strong> gabinete e muito amigo <strong>de</strong>le. Permanecíamos horas conversando sobre economia em<br />
geral e estudos técnicos. Ficava absolu<strong>ta</strong>mente fascinado pelo <strong>de</strong><strong>ta</strong>lhe. Passava uma <strong>ta</strong>r<strong>de</strong> falando sobre<br />
o coeficiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sgaste dos trilhos <strong>de</strong> uma ferrovia e vibrava com suas próprias explicações. Ele tinha<br />
uma enorme familiarida<strong>de</strong> com a física.<br />
208 CONVERSAS COM <strong>ELIEZER</strong>