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vorecer a internacionalização da<br />

Amazônia. O secretário do Conselho<br />

Indígenista Missionário-CIMI, da Igre-<br />

ja Católica, consultado sobre a notícia,<br />

disse: "São idéias velhas, anacrônicas e<br />

inconstitucionais. A auto<strong>de</strong>terminação<br />

que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos é o direito dos povos<br />

indígenas serem povos etnicamente di-<br />

ferenciados, como a Constituição reco-<br />

" A gente encontra nas tribos<br />

um tal grau <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong><br />

social Impossível <strong>de</strong> se encon-<br />

trar nas socieda<strong>de</strong>s capitalis-<br />

tas".<br />

nhece. A ESG, ao contrário, quer im-<br />

por acima da lei a sua <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> se-<br />

gurança nacional. E acusa os que <strong>de</strong>-<br />

fen<strong>de</strong>m a Constituição <strong>de</strong> serem contra<br />

a nação." Como vocês po<strong>de</strong>m ver, no<br />

Brasil, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r os povos indígenas e o<br />

meio ambiente amazônico, sob a ótica<br />

militar, é entendido como traição, co-<br />

mo um crime!<br />

Quero apenas <strong>de</strong>stacar mais<br />

um fato. Apesar <strong>de</strong> ser uma luta <strong>de</strong>si-<br />

gual, os povos indígenas não mostram<br />

medo. Resistem, se aliam, procuram<br />

convencer a socieda<strong>de</strong> nacional, se arti-<br />

culam e assim vão construindo um ca-<br />

minho <strong>de</strong> libertaç o. A gente se alegra<br />

com pequenas vitóí...., uoao em 1984,<br />

quando da auto<strong>de</strong>marcação da terra<br />

dos Kulina e Kaxinauá, no Acre. Ou<br />

quando a pressão do movimento indí-<br />

gena e dos seus aliados na Constituinte<br />

impôs uma <strong>de</strong>rrota aos militares, lati-<br />

fundiários e empresas, garantido uma<br />

legislação favorável aos seus interesses<br />

históricos. Valendo-se disso, a Procu-<br />

radoria Geral da República vem assu-<br />

mindo causas em <strong>de</strong>fesa do patrimônio<br />

e das culturas indígenas. Num país co-<br />

mo o nosso, isto é um ganho extraor-<br />

dinário.<br />

O FUTURO: um compromis-<br />

so com a vida<br />

Quem conheceu e teve o pri-<br />

vilegio <strong>de</strong> conviver com uma das inú-<br />

meras comunida<strong>de</strong>s indígenas da<br />

Amazônia, não consegue esquecer a<br />

experiência jamais.<br />

Costumo dizer que da comu-<br />

nida<strong>de</strong> indígena não se volta o mesmo.<br />

18<br />

CUÍRA<br />

Tanto pela indignação que a gente sen-<br />

te vendo as injustiças, como pela beleza<br />

e igualitarismo que se <strong>de</strong>scobre junto a<br />

estas populações. Quando a gente as-<br />

sume o projeto indígena como uma<br />

priorida<strong>de</strong> na nossa vida, muita coisa<br />

muda. Tantc no nível <strong>de</strong> consciência,<br />

como <strong>de</strong> fé Cí mesmo no nível bem<br />

concreto da prática cotidiana. A gente<br />

se torna um cúmplice, um aliado-cúm-<br />

plice <strong>de</strong>sses povos, das suas lutas e da<br />

formulação <strong>de</strong> seus projetos <strong>de</strong> re-<br />

sistência e libertação.<br />

Um antropólogo dizia que a<br />

gente encontra formas <strong>de</strong> viver que ex-<br />

primem um tal grau <strong>de</strong> generosida<strong>de</strong><br />

social impossível <strong>de</strong> encontrar nas so-<br />

cieda<strong>de</strong>s capitalistas, <strong>de</strong> mercado, on<strong>de</strong><br />

vale a lei do mais forte, da busca indi-<br />

vidualista <strong>de</strong> lucro e vantagens pes-<br />

soais.As formas <strong>de</strong> vida tribal, mais<br />

comunitárias e interpessoais, nos <strong>de</strong>s-<br />

lumbram, nos fazem conhecer novas<br />

dimensões da vida humana. São como<br />

representações concretas <strong>de</strong> utopias<br />

que nós, homens da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, só<br />

conseguimos observar no passado (ex.<br />

comunida<strong>de</strong>s cristãs primitivas, movi-<br />

mentos milenarístas etc.) ou projetar<br />

num futuro distante, ao imaginarmos<br />

uma socieda<strong>de</strong> nova, sem explorados<br />

nem exploradores. Essa utopia que um<br />

dia um famoso pensador alemão <strong>de</strong>s-<br />

creveu assim: na nova socieda<strong>de</strong> se po-<br />

<strong>de</strong>rá, finalmente, "caçar pela manhã,<br />

pescar ao meio dia, cuidar do gado ao<br />

entar<strong>de</strong>cer e filosofar <strong>de</strong>pois do jantar"<br />

(Marx). Ora, isto eu encontrei entre os<br />

Kulina, com quem convivi por 5 anos,<br />

numa pequena al<strong>de</strong>ia do alto rio Purus<br />

(Acre). Evi<strong>de</strong>ntemente, isto tem seu<br />

preço. Baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> população,<br />

uma vida muito simples, em um relati-<br />

vo isolamento. É claro que não é mo-<br />

<strong>de</strong>lo para nós, das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>r-<br />

nas. Mas nos ajudam a buscar novas<br />

formas <strong>de</strong> vida e convivência nas quais<br />

o ser humano em aliança com a nature-<br />

za seja o objetivo mais importante.<br />

A questão indígena na<br />

Amazônia é tão grave que supõe um<br />

compromisso com a Vida. Nesse senti-<br />

do, é urgente unir esforços do Primeiro<br />

e do Terceiro Mundos em <strong>de</strong>fesa dos<br />

povos indígenas, dos negros, das mu-<br />

lheres, das crianças, todos vítimas <strong>de</strong><br />

um sistema que <strong>de</strong>vora vidas humanas<br />

sem conta. E preciso garantir a vida<br />

<strong>de</strong>sta gente, preservando seu espaço fí-<br />

sico e cultural, a sua terra.<br />

No fundo, é uma questão que<br />

diz respeito ao tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocracia que<br />

queremos para o nosso país. O Brasil<br />

só será livre e <strong>de</strong>mocrático se pu<strong>de</strong>r-<br />

mos, no futuro, contar com a presença<br />

autônoma dos Povos Indígenas, com<br />

suas culturas e seus modos <strong>de</strong> vida e<br />

projetos alternativos. Sua sobrevivên-<br />

cia está ligada à nossa sobrevivência<br />

como povo soberano, on<strong>de</strong> prevaleçam<br />

os critérios <strong>de</strong> justiça social e paz.<br />

Roberto Zwetsch é pastor da Igreja Luterana.<br />

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