?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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os últimos trinta anos, o Brasil<br />
foi um dos países que mais <strong>de</strong>-<br />
senvolveu a sua economia sem<br />
que isto tivesse como conseqüência a<br />
diminuição da pobreza. Como nós,<br />
somente o Paquistão e a Venezuela<br />
conseguiram combinar tão bem o<br />
crescimento econômico e concentração<br />
<strong>de</strong> renda no mesmo período. Aliás, por<br />
falar em concentração <strong>de</strong> renda, o Bra-<br />
sil, empatado com o Panamá e a<br />
Colômbia, só per<strong>de</strong> para Serra Leoa<br />
por 2 pontos e para Honduras por 5<br />
pontos. Estes dados, que por si só<br />
constituem uma grave <strong>de</strong>núncia, não<br />
são produtos <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> intelectuais<br />
<strong>de</strong> esquerda ou da oposição. Estas in-<br />
formações constam no relatório do,<br />
nada socialista. Banco Mundial. Que<br />
ainda <strong>de</strong>dica razoável espaço <strong>de</strong> sua<br />
análise sobre a lastimável situação do<br />
Brasil, para criticar o que avalia ser<br />
um dos focos do problema, ou seja, o<br />
mo<strong>de</strong>lo brasileiro <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
agrícola, baseado no favorecimento do<br />
gran<strong>de</strong> produtor, na concentração da<br />
proprieda<strong>de</strong> rural e na priorização da<br />
produção para exportação em <strong>de</strong>tri-<br />
mento da produção <strong>de</strong> alimentos bási-<br />
cos como o feijão, arroz e o trigo, que<br />
aten<strong>de</strong>riam as necessida<strong>de</strong>s das popu-<br />
lações <strong>de</strong> baixa renda. Na verda<strong>de</strong>, o<br />
Banco Mundial se queixa da distância<br />
que alguns países capitalistas guardam<br />
do próprio capitalismo, vivendo em<br />
métodos e concepções qualquer coisa<br />
que mais se aproxima do final do feu-<br />
dalismo. No entanto, avaliar a realida-<br />
<strong>de</strong> e suas potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>transfor-<br />
mar apenas pelo prisma da economia,<br />
limita enormemente esta mesma po-<br />
tencialida<strong>de</strong>. Melhor observan política<br />
como fenômeno cultural, tem sido o<br />
caminho mais eficiente para elaborar<br />
propostas aos <strong>de</strong>safios da conjuntura,<br />
como por exemplo o jogo <strong>de</strong> cena e <strong>de</strong><br />
palavras com o qual as elites econômi-<br />
cas dominam o conjunto da socieda<strong>de</strong>.<br />
Um jogo cm que se as mentiras são as<br />
verda<strong>de</strong>s e quando o passado é o que se<br />
propões como futuro. Além disso, para<br />
milhões <strong>de</strong> brasileiros, a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s-<br />
crita no relatório do Banco Mundial, é<br />
não mais do que o seu cotidiano. Por-<br />
tanto, há muito que a miséria, o aban-<br />
dono oficial e a usura <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser<br />
novida<strong>de</strong> para a gran<strong>de</strong> maioria da po-<br />
pulação.<br />
24<br />
CUÍRA<br />
A.<br />
CONJUNTURA<br />
João Cláudio Arroyo<br />
" O conceito <strong>de</strong> luta política precisa ser ampliado e<br />
atingir a dimensão <strong>de</strong> luta cultural. A análise da<br />
economia não explica tudo <strong>de</strong> uma conjuntura, é<br />
preciso observar costumes e hábitos políticos presen-<br />
tes na socieda<strong>de</strong>. Por on<strong>de</strong> começar é o maior <strong>de</strong>sa-<br />
fio, mas o Governo Paralelo já <strong>de</strong>u a dica: Educação<br />
Urgente."<br />
A Culpa é do Povo ?<br />
Velhas Novida<strong>de</strong>s<br />
Andamos em tempos <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s "novida<strong>de</strong>s". Agora mesmo,<br />
em nome <strong>de</strong> um "Brasil Novo" e da<br />
mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o governo fe<strong>de</strong>ral reedita<br />
o passado. Senão vejamos: em março,<br />
ainda nas badalações da posse presi-<br />
<strong>de</strong>ncial, é divulgado mais um re<strong>de</strong>ntor<br />
plano econômico que <strong>de</strong>veria ser o úl-<br />
timo cartucho contra a inflação, então<br />
eleita como a causa <strong>de</strong> todos os males.<br />
Só que, quando Collor dizia apontar<br />
sua única bala contra o "Monstro da<br />
Inflação", <strong>de</strong> fato - por má pontaria ou<br />
má vonta<strong>de</strong> política - o que aparecia na<br />
alça <strong>de</strong> mira, outra vez, era a testa do<br />
trabalhador brasileiro. E, mais uma<br />
vez, os salários são os principais culpa-<br />
dos pela inflação. De novo, o manjadís-<br />
simo arrocho salarial.<br />
"Com Coffor, também o dis-<br />
curso é mais importante<br />
quo a ação e a versão mais<br />
importante do que o fato".<br />
Ao lado disso tudo, como nos<br />
velhos tempos, voltamos a receber as<br />
missões do FMI dispostas a tele-<br />
guiara nossa economia. E, por fim, lan-<br />
çadá^l como gran<strong>de</strong> sacada do momen-<br />
to, reaparece a esclerosada proposta do<br />
pacto social, agora com o pseudônimo<br />
<strong>de</strong> "entendimento nacional".<br />
Por incrível que pareça, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ste<br />
brevíssimo levantamento das "novas"<br />
atitu<strong>de</strong>s governamentais, não po<strong>de</strong>mos<br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar <strong>de</strong>le. É, ele mesmo.<br />
Sarney, cruz-credo.<br />
As semelhanças entre Collor<br />
e Sarney são muitas, resguardado o<br />
momento histórico. Semelhanças estas<br />
muito bem percebidas por Jânio <strong>de</strong><br />
Freitas ao comentar o balanço <strong>de</strong> 180<br />
dias do governo em artigo publicado na<br />
Folha <strong>de</strong> São Paulo: "o discurso <strong>de</strong><br />
Collor reproduziu a montagem <strong>de</strong> fra-<br />
ses apenas retóricas e afirmações in-<br />
comprováveis, que caracterizam o esti-<br />
lo sarneiano com as tiradas sobre a<br />
gran<strong>de</strong> reforma agrária, as elevações do<br />
po<strong>de</strong>r aquisitivo dos salários, as gran-<br />
<strong>de</strong>s realizações do tudo pelo social, e<br />
outras <strong>de</strong>liberadas irrealida<strong>de</strong>s verbais<br />
dç Sarney".<br />
Com Collor também o dis-<br />
curso é mais importante que a ação e a<br />
versão mais importante do que o fato.<br />
Nesta postura, miséria e enganação<br />
tem sido um binômio constante, fican-<br />
do cada vez mais evi<strong>de</strong>nte que já não<br />
basta nos limitarmos ao estudo e 'a<br />
<strong>de</strong>núncia do primeiro termo, mas que