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?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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Qual o valor <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate e do<br />

resgate (ou construção?) da<br />

no o <strong>de</strong> cidadania hoje, no<br />

Brasil, no momento em que após quase<br />

rinta anos elegemos nosso Presi<strong>de</strong>nte<br />

por sufrágio direto e universal e nos<br />

preparamos, por outro lado, para in-<br />

gressar no terceiro milênio D.C. da<br />

história mundial?<br />

Por certo, a abordagem do<br />

tema não é simples e envolve dificulda-<br />

<strong>de</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m teórica e histórica, seme-<br />

lhantes às que têm sido causa e objeto<br />

da já não tão recente polêmica que se<br />

instaurou nos meios acadêmicos - e<br />

mesmo dos partidos (particularmente<br />

os <strong>de</strong> inspiração marxista) - acerca da<br />

"natureza" da <strong>de</strong>mocracia: se esta teria<br />

valor universal - in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>.". :emente <strong>de</strong><br />

sua gênese histórica (ou seja, do con-<br />

texto sócio-político que condicionou o<br />

aparecimento <strong>de</strong> certas prlticas políti-<br />

cas e da consciência da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

consolidar no plano social as noções<br />

<strong>de</strong>correntes das mesmas = "wcltans-<br />

chauung")- ou não - neste último caso,<br />

reduzindo-se o conteúdo do conceito a<br />

mera estratégia <strong>de</strong> perpetuação da do-<br />

minação burguesa.<br />

A CIDADANIA COMO<br />

"VALOR"<br />

O advento da década que tra-<br />

çará as coor<strong>de</strong>nadas do ingresso da<br />

humanida<strong>de</strong> no terceiro milênio reme-<br />

te às socieda<strong>de</strong>s latino-americanas, par-<br />

ticularmente à brasileira, questões <strong>de</strong><br />

conteúdo histórico-filosófico <strong>de</strong>cisivo.<br />

O retorno aos regimes <strong>de</strong>mocráticos,<br />

após décadas <strong>de</strong> autoritarismo susten-<br />

tado por Estados burocrático-militares,<br />

recoloca em luz a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

concluir <strong>de</strong>finitivamente o ciclo <strong>de</strong> in-<br />

gresso <strong>de</strong>ssas nações na era da contem-<br />

poraneida<strong>de</strong> mundial, marcadamente<br />

assinalada pelo resgate <strong>de</strong> valores co-<br />

mo liberda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mocracia, bem-estar e<br />

paz social. A construção (talvez o tei-<br />

mo re-construção nem mesmo caiba, no<br />

caso, por falta <strong>de</strong> raízes históricas mais<br />

estáveis) das <strong>de</strong>mocracias do cone sul,<br />

por certo, implicará uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>sa-<br />

fios. O mais significativo, por certo,<br />

será a relação dialética entre as'con-<br />

quistas objetivas <strong>de</strong> direitos e espaços<br />

organizados da socieda<strong>de</strong> civil, vis-a-<br />

vis, o avanço <strong>de</strong> uma cultura (concebi-<br />

da como exercício hegemônico <strong>de</strong> valo-<br />

64<br />

CUÍRA<br />

TEORIA E ESTRATÉGIA<br />

Cidadania:<br />

uma Ban<strong>de</strong>ira<br />

Revolucionária n<br />

Tem sentido falar <strong>de</strong> socialismo a quem não<br />

reconhece nem os seus próprios direitos como ci-<br />

dadão? É possível construir a hegemonia socialista<br />

sem que esta seja intimamente vinculada h cons-<br />

trução da <strong>de</strong>mocracia e da cidadania? E,se fosse<br />

possível, seria socialismo?<br />

rej e práticas sociais) que dê suporte e<br />

sentido a toda essa trajetória que, por<br />

ora, apenas se arrisca <strong>de</strong>nominar-se <strong>de</strong><br />

"período <strong>de</strong> transição". Den-<br />

tre esses valores, situa-se, é claro, o <strong>de</strong><br />

cidadania, cuja universalida<strong>de</strong> acaba <strong>de</strong><br />

ser consagrada pela autocrítica a que<br />

se submetem os regimes sodalisias do<br />

leste europeu. Ensaia-se um processo<br />

que parece superar, <strong>de</strong> vez, o perigo <strong>de</strong><br />

se reduzir esse conceito a um pretenso<br />

conteúdo burguês originário do revolu-<br />

cionarismo francês do final do século<br />

XVIII. Trata-se, assim, <strong>de</strong> colocar em<br />

discussão a noção <strong>de</strong> cidadania como<br />

questão cultural central à consolidação<br />

da própria <strong>de</strong>mocracia.<br />

Para início <strong>de</strong> conversa, con-<br />

si<strong>de</strong>remos o que atirma Ag-<br />

nes Heller a respeito da questão do que<br />

seja valor. Respon<strong>de</strong> ela: "Que enten-<br />

<strong>de</strong>mos por valor? Tudo o que faz parte<br />

do ser genérico do homem e contribui,<br />

direta ou indiretamente, para a explici-<br />

tação <strong>de</strong>sse ser genérico..'.'(1). E como<br />

esse humano-genérico não é uma reali-<br />

da<strong>de</strong> acabada, mas algo em elaboração,<br />

em permanente "<strong>de</strong>vir" - para usarmos<br />

uma terminologia hegeliana, mas que<br />

está afinada com os princípios do ma-<br />

Alex Fiúza Mello<br />

terialismo histórico - o valor se torna<br />

instrumento próprio e necessário <strong>de</strong>ssa<br />

caminhada rumo à auto-<strong>de</strong>finição ou<br />

auto-compreensão ontológica do ho-<br />

mem, da humanida<strong>de</strong> sobre si mesma,<br />

constituindo-se, por conseguinte, em<br />

algo objetivo - como coloca Heller -<br />

mas cuja objetivida<strong>de</strong> não é natural,<br />

mas social. Òu seja: tanto é construído<br />

quanto transformado historicamente<br />

pelo seu criador. Sendo uma "categoria<br />

ontológico-social", o valor não tem<br />

essência própria (em si), pois seu con-<br />

teúdo é <strong>de</strong>terminado pelo contexto so-<br />

cial em que é sustentado enquanto<br />

noção que <strong>de</strong>marca o agir, a vonta<strong>de</strong>, o<br />

<strong>de</strong>sejo, a necessida<strong>de</strong>, a utopia, o pra-<br />

zer humanos, e lhes dá sentido a nível<br />

da razão. Conseqüentemente, haverá<br />

valores que serão negados e esqueci-<br />

dos, outros porém sustentados e revita-<br />

lizados no <strong>de</strong>correr dos tempos e na<br />

transmutação da vida das socieda<strong>de</strong>s,<br />

reformulados por certo, porém resga-<br />

tados no bojo do processo <strong>de</strong> supe-<br />

ração das estruturas econômicas e so-<br />

ciais e universalizados como conquista<br />

da humanida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente<br />

das <strong>de</strong>terminações político-culturais<br />

que engendraram sua origem. Po<strong>de</strong>-

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