?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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trás palavras, são as crianças que estão<br />
carregando o fardo mais pesado do<br />
"progresso".<br />
Para quase novecentos mi-<br />
lhões <strong>de</strong> pessoas, aproximadamente um<br />
sexto da humanida<strong>de</strong>, a marcha do pro-<br />
gresso humano tornou-se, agora, um<br />
retrocesso. Em muitas nações, o <strong>de</strong>sen-<br />
volvimento está em marcha-a-ré. O es-<br />
tado <strong>de</strong> penúria e miséria que se espa-<br />
lha pelo mundo não vem ocorrendo em<br />
partes isoladas do mundo, ou em <strong>de</strong>-<br />
terminado tempo, mas sim ao longo<br />
dos anos e em vários continentes, seja<br />
nas favelas, nas malocas ou nas comu-<br />
nida<strong>de</strong>s rurais.<br />
No Brasil esta tragédia mani-<br />
festa-se não apenas nas taxas <strong>de</strong> óbitos<br />
infantis crescentes, mas também nos<br />
vinte e cinco milhões <strong>de</strong> crianças aban-<br />
donadas e marginalizadas em todos os<br />
pontos <strong>de</strong>ste país.<br />
A situação da criança no Bra-<br />
sil é uma das mais graves, principal-<br />
mente por ser uma população relati-<br />
vamente jovem, sendo aproximada-<br />
mente 50% <strong>de</strong>sta população formados<br />
<strong>de</strong> crianças, e que apenas uma minoria<br />
usufrui <strong>de</strong> bens básicos como saú<strong>de</strong>,<br />
educação, lazer, cultura, alimentação<br />
a<strong>de</strong>quada, etc.<br />
"Para quase um sexto da hu-<br />
manida<strong>de</strong>, a marcha do pro-<br />
gresso humano tornou-se um<br />
retrocesso."<br />
A maioria da população in-<br />
fantil brasileira encontra-se jogada nas<br />
ruas tentando sobreviver às custas <strong>de</strong><br />
mil estratégias, enfrentando a violên-<br />
cia, a discriminação, o perigo das dro-<br />
gas e da <strong>de</strong>linqüência.<br />
Os compromissos assumidos<br />
pelo Estado com esse contigente da<br />
população são dos mais duvidosos<br />
possíveis, pois os meios <strong>de</strong> comuni-<br />
cação lançam a público projetos com<br />
resultados eficazes, mas que <strong>de</strong> fato<br />
não influem em nada no interior <strong>de</strong>ssa<br />
parcela da população.<br />
O Brasil enfrenta graves<br />
questões que vão do campo às gran<strong>de</strong>s<br />
cida<strong>de</strong>s na questão da terra, do <strong>de</strong>sem-<br />
prego e do controle <strong>de</strong> bens, causando<br />
um profundo <strong>de</strong>snível no modo <strong>de</strong> vida<br />
da população.<br />
32<br />
CUÍRA<br />
A miséria também <strong>de</strong>sagrega a fairília<br />
É sabido que 10% da popu-<br />
lação brasileira <strong>de</strong>têm 90% da pro-<br />
dução <strong>de</strong> bens neste país, acirrando es-<br />
sa <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> classe cada vez<br />
maior, sendo que toda essa crise é re-<br />
fletida <strong>de</strong> forma bastante cruel na<br />
existência da infância brasileira,que é<br />
obrigada a buscar a suasobrevivênciamo<br />
espaço das ruas, causando com isso<br />
uma trauma no crescimento do ser<br />
humano,que é obrigado a optar por um<br />
precoce comportamento adulto.<br />
A maior parte dos menores<br />
que trabalham ou vivem nas ruas,<br />
provém das famílias mais pauperizadas<br />
da classe trabalhadora. Geralmente os<br />
pais <strong>de</strong>stes menores apresentam baixo<br />
nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>squalificação<br />
profissional, não restando-lhes outra<br />
alternativa senão a inserção em setores<br />
economicamente improdutivos, carac-<br />
terizados por ocupações pouco rentá-<br />
veis, subempregos ou ativida<strong>de</strong>s autô-<br />
nomas; os que são absorvidos como<br />
trabalhadores em setores produtivos<br />
têm baixa remuneração por seu traba-<br />
lho. A instabilida<strong>de</strong> ocupacional ocorre<br />
frenqüentemente. Percebe-se portanto<br />
que a sobrevivência do grupo familiar<br />
só é- conseguida com gran<strong>de</strong>s sacrifí-<br />
cios.<br />
i<br />
Em caso da existência <strong>de</strong> uma<br />
família formalmente estruturada, os<br />
responsáveis por ela são obrigados a<br />
enfrentar, além da jornada <strong>de</strong> trabalho<br />
excessiva, a realização <strong>de</strong> "bicos" nos<br />
finais <strong>de</strong> semana. Em <strong>de</strong>corrência dis-<br />
so, acontece uma divisão sexual do tra-<br />
balho on<strong>de</strong> a menina assume preco-<br />
cemente o papel da mulher adulta nos<br />
serviços domésticos. Os meninos pas-<br />
sam também por processo semelhante<br />
<strong>de</strong> adultização precoce, <strong>de</strong>sempenhan-<br />
do tarefas que contribuam para o or-<br />
çamento familiar.