15.04.2013 Views

?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

não sejam coisas bem claras e <strong>de</strong>finidas<br />

e acredito que fica claro a todos os se-<br />

gmentos que a República não dá<br />

concessões. Agora acredito que a gente<br />

po<strong>de</strong> sim conseguir conquistar espaços,<br />

principalmente na área dos meninos <strong>de</strong><br />

uma forma coerente, sem abrir mão<br />

dos princípios e sendo respeitado<br />

mesmo por aqueles que não pensam<br />

como nós, tem muita gente que não<br />

pensa como nós mas respeita, acho que<br />

nós conseguimos travar este tipo <strong>de</strong> re-<br />

lação, não sabemos te dizer porque se<br />

chegou a isso, mas chegamos. E uma<br />

pergunta assim que eu nunca <strong>de</strong>tive pa-<br />

ra uma resposta mais pensada histori-<br />

camente.<br />

CUÍRA - Vinte anos <strong>de</strong> trabalho como<br />

coor<strong>de</strong>nador geral da República e ago-<br />

ra parar, por que parar? No seu balan-<br />

ço tem algo que induz a esta parada?<br />

BRUNO: Sim, tem vários dados.<br />

Primeiro, eu, por princípio, consi<strong>de</strong>ro<br />

muito arriscado uma obra como esta,<br />

trabalho como este, estar muito vincu-<br />

lado a uma pessoa. Acho que este tra-<br />

balho está <strong>de</strong>mais vinculado a minha<br />

pessoa, é preciso que haja este <strong>de</strong>svin-<br />

culamento e no caso aqui eu tenho cer-<br />

teza que isso só vai se dar quando hou-<br />

ver mesmo um corte meio radical. Fo-<br />

ram feitas muitas tentativas neste sen-<br />

tido <strong>de</strong> convencer,como <strong>de</strong> fato é, que a<br />

República não é o padre Bruno, acho<br />

que saindo isso vai ajudar. Po<strong>de</strong> haver<br />

um momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>sajuste no começo,<br />

e é ao meu ver um dos aspectos mais<br />

fortes, que me leva a parar. Sair da<br />

República agora é importante para sis-<br />

tematizar muitas coisas (muitas coisas<br />

que eu falei aqui foram coisas que eu<br />

tenho na cabeça, mas tem coisas que eu<br />

falei que precisam ser mais bem masti-<br />

gadas, mais bem aprofundadas, refleti-<br />

das). Tem muitas questões aindapen-<br />

<strong>de</strong>ntes que não estão muito bem elabo-<br />

radas até do ponto <strong>de</strong> vista teórico.<br />

"Não vou viver <strong>de</strong> lembran-<br />

ças. Vivo <strong>de</strong> opções".<br />

Fundamentalmente, estes motivos me<br />

levam a sair da República. Fui eu quem<br />

pediu e já venho pedindo isso há muito<br />

tempo, mas no ano passado tive que<br />

colocar em xeque-mate para marcar a<br />

data pra sair. Eu saio tranqüilo e com<br />

uma profunda confiança que a Repú-<br />

blica vai continuar sem mim e amadu-<br />

recer. Deve ser esse passo que vai aju-<br />

dar a própria emancipação da Repúbli-<br />

ca. Seria um fracasso se a República<br />

não tivesse condições <strong>de</strong> sobreviver<br />

sem a minha pessoa. E <strong>de</strong>pois, eu nun-<br />

ca gostei <strong>de</strong> estar em evidência. Uma<br />

pessoa acaba virando um mito, quando<br />

na verda<strong>de</strong> o que <strong>de</strong>ve estar no centro<br />

são os meninos, não a pessoa que tra-<br />

balha, mesmo que trabalhe com eles.<br />

Isso tudo <strong>de</strong>ve ser incorporado à opi-<br />

nião pública.<br />

Aliado a isto, claro, eu tenho o <strong>de</strong>-<br />

sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ter um tempo <strong>de</strong> re-<br />

flexão, tem toda uma dimensão que le-<br />

va a aprofundar essa opção que é a fé.<br />

CUÍRA - Já existe um projeto neste<br />

sentido?<br />

BRUNO: Bom, não é bem um pro-<br />

jeto, eu vou viver uma situação um<br />

pouco diferente. Eu vou morar num<br />

quarto, numa pequena casa, num<br />

subúrbio, on<strong>de</strong> posso fazer uma expe-<br />

riência <strong>de</strong> vizinhança, <strong>de</strong> meninos que<br />

moram lá, on<strong>de</strong> eu possa <strong>de</strong> noite, com<br />

o meu pessoal, po<strong>de</strong>r me relacionar <strong>de</strong><br />

uma forma mais estreita com os meni-<br />

nos que moram na rua, on<strong>de</strong> eu possa<br />

Konhecer e evi<strong>de</strong>nciar as questões que<br />

estão hoje muito abafadas, que é a rea-<br />

lida<strong>de</strong> ou a situação dos meninos que<br />

moram no interior da Amazônia(por-<br />

que é muito evi<strong>de</strong>nciada a situação dos<br />

meninos, da "área urbana") evi<strong>de</strong>nciar<br />

o nível <strong>de</strong> abandono que estão largan-<br />

do as crianças da Amazônia, relações<br />

entre os conflitos <strong>de</strong> terras e as crian-<br />

ças, a relação entre os gran<strong>de</strong> projetos<br />

e elas, a relação entre educação e a fa^-<br />

ta <strong>de</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> educação e<br />

saú<strong>de</strong> com a criança. A evasão do cam-<br />

po para a cida<strong>de</strong>, a própria relação que<br />

existe entre o próprio garimpo e as<br />

questões das crianças. Essas são<br />

questões que são da nossa região, me-<br />

ninos e meninas que estão morrendo<br />

por aí, não só fisicamente mas em ter-<br />

mos <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>s. Isso não se evi<strong>de</strong>n-<br />

cia porque eles não.estão concentrados<br />

na cida<strong>de</strong>, incomodando. Eu gostaria<br />

<strong>de</strong> contribuir com isso também, é para<br />

isso também esta parada da República.<br />

CUÍRA - Mas mesmo sem per<strong>de</strong>r o<br />

vínculo acho que já po<strong>de</strong>ríamoos falar<br />

em lembranças. Qual seria a lembran-<br />

ça que talvez marque mais daqui pra<br />

frente?<br />

BRUNO: Olha, tem duas lembran-<br />

ças, na verda<strong>de</strong>, é a lembrança <strong>de</strong>ssa<br />

meninada toda que passou aqui, que<br />

marca a vida da gente, esta relação hu-<br />

mana muito forte que se travou com<br />

tantos meninos e uma segunda é a lem-<br />

brança <strong>de</strong> todos aqueles que <strong>de</strong> fato fi-<br />

zeram o movimento durante todo esse<br />

tempo, que foram jovens, rapazes, mo-<br />

ças, meninos e meninas que <strong>de</strong>ram uma<br />

parcela <strong>de</strong> si para que tudo isto pu<strong>de</strong>sse<br />

ser construído, que pu<strong>de</strong>sse se tornar<br />

significativo na vida dos meninos e na<br />

própria socieda<strong>de</strong>, esse pessoal que<br />

construiu realmente o movimento.<br />

Vou lembrar sem dúvida nenhume<br />

dos erros e acertos, <strong>de</strong>ssa dinâmica to-<br />

da que me ajudou a crescer numa re-<br />

lação dialética. Acho interessante co-<br />

mo isso aconteceu aqui na República.<br />

Agora, outra lembrança também é<br />

sentir que o movimento caminha muito<br />

bem. Talvez uma coisa que eu me lem-<br />

bre é o primeiro fogareiro a carvão, o<br />

restaurante, mas eu não gosto <strong>de</strong> viver<br />

<strong>de</strong> lembranças, eu vivo mais <strong>de</strong> opções.<br />

João Cláudio Arroyo é Editor da Cuíra<br />

^<br />

61<br />

CUIRA

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!