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?fe^5"BSo^ - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro

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mais clara para sentir que não está se<br />

fazendo um buraco na água, mas que<br />

estamos contribuindo em alguma coisa.<br />

Acredito que a própria metodo-<br />

logia nova, todo este traduzir a realida-<br />

<strong>de</strong> dos meninos, o valor da Educação<br />

<strong>de</strong> base popular foi um ganho, um<br />

avanço muito gran<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>u e ex-<br />

trapolou os limites da República. Hoje<br />

é algo consolidado a nível <strong>de</strong> Brasil.<br />

Não digo que tenha sido a República<br />

que tenha feito tudo isso sozinha, mas<br />

ela contribuiu consi<strong>de</strong>ravelmente nessa<br />

nova postura.<br />

Outra dificulda<strong>de</strong>, acredito que<br />

tenha sido também esta relação com o<br />

Estado. Durante 10 anos, na década <strong>de</strong><br />

70, nós procuramos manter distância.<br />

Hoje estamos numa relação mais ma-<br />

dura, afinal <strong>de</strong> contas nós estamos<br />

prestando um serviço ao Estado, é pre-<br />

ciso que o Estado contribua com isso,<br />

mas, mantendo autonomia. Esta foi<br />

sempre a nossa gran<strong>de</strong> preocupação,<br />

tanto é verda<strong>de</strong> que qualquer convênio,<br />

qualquer proposta à sua aceitação, ex-<br />

trapolava uma <strong>de</strong>cisão conjunta <strong>de</strong> co-<br />

or<strong>de</strong>nação geral. Por exemplo, quando<br />

em 81 ou 82 se firmou convênio com a<br />

SEDUC, foi uma discussão junto a co-<br />

munida<strong>de</strong> do bairro do Benguí.<br />

CUIRA - O movimento já ganhou uma<br />

dimensão política, ainda que não par-<br />

tidária. Por exemplo, agora recetemen-<br />

te foi aprovado o estatuto do menor<br />

que mobilizou entida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong><br />

civil, mobilizou políticos. Como é que a<br />

República participou <strong>de</strong>ste processo?<br />

BRUNO : Participou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o iní-<br />

cio. No caso do estatuto da criança e do<br />

adolescente tem que ser visto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

processo <strong>de</strong> nossa participação, não só<br />

da República e seus meninos mas junto<br />

com outros grupos <strong>de</strong> meninos <strong>de</strong> ou-<br />

tras entida<strong>de</strong>s, no próprio processo da<br />

constituição fe<strong>de</strong>ral, nas propostas, na<br />

emenda popular. Não se arranjou tudo<br />

que se queria, mas houve uma mobili-<br />

zação muito gran<strong>de</strong>. A República par-<br />

ticipou efetivamente aqui em Belém <strong>de</strong><br />

várias manifestações, atos políticos.<br />

Houve vários momentos que marca-<br />

ram um pouco a história da República<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira manifestação que<br />

ocorreu no Brasil: os meninos se uni-<br />

ram para fazer uma passeata até a fren-<br />

te do palácio, aqui em Belém, quando<br />

no Círio, a maior procissão do País, foi<br />

feita uma operação pente-fino para ti-<br />

rar os meninos da rua. Foram mais <strong>de</strong><br />

300 a 400 meninos na frente do palácio<br />

para dizer que não eram eles o lixo da<br />

cida<strong>de</strong>, e conseguiram parar com a<br />

operação, e a polícia e o secretário <strong>de</strong><br />

Segurança Pública naquela época ficou<br />

assim muito...<br />

CUÍRA - Quem era?<br />

BRUNO : Não me lembro.<br />

CUÍRA - E o governador da época?<br />

BRUNO : Na época era o Já<strong>de</strong>r.<br />

Houve outra, a questão do rapa por<br />

exemplo, teve toda uma manifestação<br />

dos meninos junto a prefeitura e a pró-<br />

pria secretaria <strong>de</strong> economia popular.<br />

Aconteceram momentos significativos na<br />

"Se a política salarial, <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> educação são<br />

do jeito que são, isto reflete<br />

nos meninos".<br />

própria assembléia na época da consti-<br />

tuinte. Então, a origem do estatuto se<br />

dá <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o processo constituinte, que<br />

iniciou a participação dos meninos a<br />

partir do I o Encontro Nacional <strong>de</strong> Me-<br />

ninos e Meninas <strong>de</strong> Rua em maio <strong>de</strong><br />

86. Isto nos fortaleceu na época especi-<br />

ficamente da constituinte, <strong>de</strong>pois nas<br />

constituintes estaduais e finalmente já<br />

no 2 o Encontro Nacional <strong>de</strong> Meninos e<br />

Meninas <strong>de</strong> Rua que foi no ano passa-<br />

do. O estatuto da criança e do adoles-<br />

cente já estava mais ou menos sistema-<br />

tizados. Organicamente, tinha se cons-<br />

tituído o Fórum D.CA, fórum <strong>de</strong> enti-<br />

da<strong>de</strong>s não governamentais em <strong>de</strong>fesa<br />

da criança e do adolescente que reco-<br />

lheu todas estas sugestões e todos estes<br />

apelos a nível <strong>de</strong> educadores <strong>de</strong> meni-<br />

nos <strong>de</strong> lodo o Brasil e sistematizou o<br />

projeto-<strong>de</strong>-lei. É claro que a República<br />

esteve envolvida em todo este processo.<br />

Realmente a dimensão política do<br />

trabalho que vem se realizando procura<br />

ser a mais clara possível. Muito embora<br />

saibamos que não po<strong>de</strong> ser uma di-<br />

mensão político-partidária, isto<br />

não significa que possamos ficar neu-<br />

tros politicamente, porque não existe o<br />

apolítico, <strong>de</strong>vemos ter consciência dis-<br />

so como a República e <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse<br />

aspecto, me parece que é preciso por<br />

exemplo notar também o seguinte:<br />

mesmo nos movimentos populares,<br />

movimentos sindicais, a questão da<br />

criança sempre foi <strong>de</strong>ixada "íl margem,<br />

nós tentamos torná-la mais próxima<br />

num movimento mais amplo. Tivemos<br />

algum avanço neste sentido, muito em-<br />

bora tenha ainda muito que andar.<br />

Acho que hoje a questão da criança<br />

não é mais vista como algo |a espera<br />

do assistencialismo, hoje já tem outra<br />

beleza. Eu acredito que a República<br />

tenha contribuído também para essa<br />

visão.<br />

"Já recusamos verbas pú-<br />

blicas, tivemos propostas<br />

tentadoras e atentadoras".<br />

CUÍRA - Então quer dizer que até<br />

mesmo o movimento político, vamos<br />

dizer assim tradicional, o movimento<br />

sindical e o próprio movimento comu-<br />

nitário, não têm Incluído a pauta da<br />

reivindicação das crianças junto às<br />

suas?<br />

BRUNO : Sempre esteve muito au-<br />

sente, é a tal coisa, refletiam um pouco<br />

a mentalida<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> que a criança é<br />

criança, não tem nada a ver com isso.<br />

CUIRA - Então o senhor concordaria<br />

que eles acabam sendo conservadores<br />

neste aspecto?<br />

BRUNO: De certa forma sim, é<br />

o não reconhecer que é todo um conti-<br />

gente da população, um segmento da<br />

população que está numa fase <strong>de</strong> cres-<br />

cimento e <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma nova<br />

mentalida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> ficar a mar-<br />

gem <strong>de</strong>sse processo esperando os 16,17<br />

ou 18 anos.<br />

CUIRA - Dentro <strong>de</strong>ste quadro, como é<br />

que po<strong>de</strong>ria haver essa união <strong>de</strong> esfor-<br />

ços entre movimento sindical e movi-<br />

mento dos partidos que têm preocu-<br />

pações sociais com o movimento <strong>de</strong><br />

"menores"?<br />

BRUNO : Eu acredito que há sindi-<br />

catos hoje que já começam a incluir a<br />

questão do menor trabalhador, até nos<br />

seus programas <strong>de</strong> luta sindical. Há ex-<br />

periências nesse sentido em várias par-<br />

tes do Brasil. O Movimento Nacional<br />

<strong>de</strong> Meninos e Meninas <strong>de</strong> Rua tem ho-<br />

je uma ligação muito estreita com esses<br />

segmentos e é reconhecido por estes<br />

segmentos como uma parcela real-<br />

mente importante no conjunto do mo-<br />

59<br />

CUIRA

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