fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...
fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...
fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
SEGUNDA PARTE - Verda<strong>de</strong> e linguagem na <strong>ciência</strong> e na <strong>fé</strong><br />
Trata-se agora <strong>de</strong> estudar, levando-se em conta o que foi dito na 1ª parte, <strong>duas</strong><br />
formas fundamentais <strong>de</strong> acesso a <strong>verda<strong>de</strong></strong> e <strong>de</strong> respectiva linguagem, presentes na nossa<br />
cultura e nas nossas convicções, mas muitas vezes em <strong>de</strong>sconhecimento mútuo ou em<br />
conflito: a <strong>ciência</strong> e a <strong>fé</strong>. Passamos, pois, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> metafísica e lógica da <strong>verda<strong>de</strong></strong> (1ª par-<br />
te) <strong>para</strong> <strong>uma</strong> antropologia da <strong>verda<strong>de</strong></strong>, entendida porém, ao menos primariamente, não<br />
conto atributo ou forma da existência h<strong>uma</strong>na (ver supra, Fenomenologia da <strong>verda<strong>de</strong></strong>),<br />
mas como atributo ou forma do conhecimento h<strong>uma</strong>no e, portanto, na sua dimensão<br />
epistemológica. O que preten<strong>de</strong>mos portanto mostrar é como a <strong>verda<strong>de</strong></strong>, em razão, fi-<br />
nalmente da sua unida<strong>de</strong> analógica, como iremos ver, diferencia-se nessas <strong>duas</strong> formas<br />
fundamentais que são a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> e a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>ciência</strong>, com suas respectivas lin-<br />
guagens.<br />
1. Verda<strong>de</strong> e linguagem da <strong>ciência</strong><br />
a. O termo <strong>ciência</strong> (episthéme em grego) recebe inicialmente <strong>uma</strong> acepção muito<br />
ampla, incluindo todo saber <strong>verda<strong>de</strong></strong>iro e capaz <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>monstrado como tal. Na termi-<br />
nologia clássica não há distinção entre <strong>ciência</strong> e filosofia que, entre os Gregos, é emi-<br />
nentemente <strong>uma</strong> teologia, nem posteriormente entre teologia cristã e <strong>ciência</strong>. O proble-<br />
ma mo<strong>de</strong>rno entre <strong>ciência</strong> e <strong>fé</strong> e a sua conceptualização teológica, começam a <strong>de</strong>linear-<br />
se a partir do século XIII com a chamada teoria averroista das "<strong>duas</strong> <strong>verda<strong>de</strong></strong>s" recebia<br />
por alguns Mestres <strong>de</strong> Artes (filósofos) das Universida<strong>de</strong>s medievais, no chamado aver-<br />
roismo latino. Mas é só a partir do século XVII, com o advento <strong>de</strong> <strong>uma</strong> nova forma <strong>de</strong><br />
<strong>ciência</strong> da Natureza, por obra <strong>de</strong> Galileu e <strong>de</strong> seus continuadores, que se configura <strong>de</strong>fi-<br />
nitivamente o problema mo<strong>de</strong>rno da relação entre <strong>ciência</strong> e <strong>fé</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início consagra-<br />
do emblematicamente no chamado "caso Galileu". Nessa 2ª parte vamos tratar, portanto,<br />
da <strong>ciência</strong> no sentido mo<strong>de</strong>rno, pós-galileiano do termo, pois é a respeito <strong>de</strong>la que se<br />
coloca hoje o problema da <strong>verda<strong>de</strong></strong> e linguagem da <strong>ciência</strong> confrontadas com a <strong>verda<strong>de</strong></strong><br />
e linguagem da <strong>fé</strong>.<br />
b. A <strong>ciência</strong> mo<strong>de</strong>rna se divi<strong>de</strong> em dois gran<strong>de</strong>s ramos, com suas numerosas rami-<br />
ficações secundárias: <strong>ciência</strong>s empírico-formais e <strong>ciência</strong> hermenêuticas. Essa termino-<br />
logia foi proposta por Jean ladrère e caracteriza bem os dois tipos <strong>de</strong> <strong>ciência</strong> (ver J.<br />
Ladrière, L'articulation du sens: discours scientifique et parole <strong>de</strong> la foi, Paris, Cerf,