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fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...

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a si mesma e se explica a si mesma. Essa originalida<strong>de</strong> da <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> se manifesta já<br />

na intencionalida<strong>de</strong> do ato que a ela a<strong>de</strong>re. Sua referência não é a um estado <strong>de</strong> coisas<br />

apreendido pela experiência, mas aos acontecimentos salvíficos anunciados na lingua-<br />

gem da revelação recebida na audição da Palavra (RN, 10, 8-18). Ora, a Palavra não traz<br />

em si a evidência das proposições que enuncia nem as faz acompanhar <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>de</strong>mons-<br />

tração lógica. Como anúncio ela é um apelo e dirige-se tanto à inteligência quanto à<br />

liberda<strong>de</strong> que aqui, <strong>de</strong> modo análogo ao que suce<strong>de</strong> no juízo da cons<strong>ciência</strong> moral, a-<br />

gem n<strong>uma</strong> sinergia pela qual a liberda<strong>de</strong> se move à aceitação livre da Palavra e a inteli-<br />

gência é dotada <strong>de</strong> um movo olhar (lês yeux <strong>de</strong> la foi, na expressão <strong>de</strong> P. Rousselot),<br />

capaz <strong>de</strong> penetrar <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> maneira a <strong>verda<strong>de</strong></strong> do que é anunciado. Mas o campo <strong>de</strong><br />

intencionalida<strong>de</strong> do ato <strong>de</strong> <strong>fé</strong> é povoado <strong>de</strong> sinais salvíficos e é através da sua interpre-<br />

tação que a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> se manifesta. Para que essa interpretação seja possível é ne-<br />

cessária a transformação interior da inteligência e da liberda<strong>de</strong> na graça da <strong>fé</strong>: o Deus<br />

que se revela é o Deus que move aficazmente nossa inteligência e nossa liberda<strong>de</strong> ou,<br />

mais exatamente, a sua sinergia vital em or<strong>de</strong>m à aceitação da <strong>verda<strong>de</strong></strong> revelada. O ato<br />

<strong>de</strong> <strong>fé</strong> tem, assim, <strong>uma</strong> estrutura teândrica: nele, em analogia com a Encarnação da Pala-<br />

vra substancial <strong>de</strong> Deus, a palavra da <strong>fé</strong> se faz em nós, palavra h<strong>uma</strong>no-divina. Eis por-<br />

que há na <strong>fé</strong> <strong>uma</strong> tensão permanente entre a <strong>verda<strong>de</strong></strong> e a linguagem: as possibilida<strong>de</strong>s<br />

semânticas da nossa linguagem são necessariamente transgredidas ao tentarmos enunci-<br />

ar a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong>. Essa enunciação, nas diferentes <strong>linguagens</strong> da <strong>fé</strong> - catequética, ma-<br />

gisterial, teológica - nunca é a<strong>de</strong>quada ao seu objeto. Ela aponta na sua intencionalida-<br />

<strong>de</strong>, <strong>para</strong> <strong>uma</strong> profundida<strong>de</strong> irradiante <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> mas incircunscritível pela nossa<br />

inteligência e pela nossa linguagem, e que a tradição <strong>de</strong>signou com o nome <strong>de</strong> mistério.<br />

Po<strong>de</strong>mos, pois, dizer que a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> é a <strong>verda<strong>de</strong></strong> do mistério e diante <strong>de</strong>la a inten-<br />

ção teórica <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ce<strong>de</strong> a primazia à intenção existencial <strong>de</strong> viver. Mas a partir<br />

da vida da <strong>fé</strong>, a intenção <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r ressurge no dinamismo da fi<strong>de</strong>s quaerens in-<br />

tellectum. A Palavra se faz discurso nas diferentes formas da linguagem da <strong>fé</strong> que nas-<br />

cem e se alimentam da inteligibilida<strong>de</strong> do mistério n<strong>uma</strong> dialética <strong>de</strong> ocultação e revela-<br />

ção que está presente tanto na simples linguagem da catequese quanto na linguagem<br />

intelectualizada da <strong>de</strong>finição dogmática, no discurso teológico ou nas audácias alegóri-<br />

cas da linguagem mística.<br />

Seria ainda necessário explicar que o fato h<strong>uma</strong>no da linguagem da <strong>fé</strong> como aco-<br />

lhimento da sua <strong>verda<strong>de</strong></strong> pressupõe como condição <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>uma</strong> concepção da

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