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fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...

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século passado no chamado "concordismo", sobretudo nas tentativas <strong>de</strong> confirmação<br />

das narrações bíblicas pela <strong>ciência</strong>. Mas o gênero subsiste ainda, embora <strong>de</strong> maneira<br />

mais cautelosa, particularmente no campo da física e da cosmologia, como testemunha o<br />

recente diálogo <strong>de</strong> Jean Guitton com dois físicos (J. Guitton, G. Bogdanov, I. Bogda-<br />

nov, Dieu et la science: vers le métaréalisme, Paris, Grasset, 1991). Ou mesmo, n<strong>uma</strong><br />

forma bem mais complexa e elaborada, na cosmovisão <strong>de</strong> Teilhard <strong>de</strong> Chardin. Também<br />

não tratamos aqui <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> relação entre <strong>fé</strong> e <strong>ciência</strong>.<br />

Outro problema que nos interessa mais diretamente é o problema da hermenêutica<br />

ou interpretação da linguagem original da <strong>fé</strong> como Palavra <strong>de</strong> Deus revelada, por meio<br />

<strong>de</strong> alg<strong>uma</strong> outra forma <strong>de</strong> linguagem sobretudo da que permita a transposição da lin-<br />

guagem da revelação nas categorias e estruturas <strong>de</strong> um discurso articulado segundo a<br />

lógica <strong>de</strong> um saber <strong>de</strong>monstrativo ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>ciência</strong>. É esse o problema que está na<br />

origem da teologia, que é <strong>uma</strong> hermenêutica da linguagem da <strong>fé</strong> na forma <strong>de</strong> um certo<br />

tipo <strong>de</strong> saber da <strong>fé</strong> ou <strong>de</strong> <strong>uma</strong> lógica da <strong>fé</strong>. Ele já está presente nas teologias implícitas<br />

no texto bíblico, sobretudo no Novo Testamento. Mas torna-se explícito no momento<br />

em que um saber já constituído em <strong>ciência</strong> e plenamente <strong>de</strong>senvolvido como tal, ou seja,<br />

a filosofia grega, passa a exercer po<strong>de</strong>rosa atração sobre os apologistas e Padres da Igre-<br />

ja. Esse tipo <strong>de</strong> Saber não apenas se prestou a possibilitar <strong>uma</strong> hermenêutica bem suce-<br />

dida da linguagem da <strong>fé</strong> na teologia patrística e medieval, mas propiciou igualmente<br />

<strong>uma</strong> linguagem apta à expressão do conteúdo da <strong>fé</strong> nas <strong>de</strong>finições dogmáticas dos gran-<br />

<strong>de</strong>s Concílios dos séculos IV e V. Um problema análogo ao da utilização da filosofia<br />

grega <strong>para</strong> a hermenêutica da linguagem original da <strong>fé</strong> é proposto freqüentemente tanto<br />

a respeito da filosofia mo<strong>de</strong>rna quanto das <strong>ciência</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, tanto das empírico-<br />

formais quanto das hermenêuticas. O fato é que nenh<strong>uma</strong> <strong>de</strong>ssas novas <strong>linguagens</strong> cien-<br />

tíficas se mostrou capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar satisfatoriamente <strong>para</strong> com a linguagem da <strong>fé</strong> a<br />

função hermenêutica que a filosofia grega exerceu com indiscutível êxito. Todas as ten-<br />

tativas nesse sentido tem resultado n<strong>uma</strong> forma qualquer <strong>de</strong> reducionismo que atinge<br />

algum dos aspectos essenciais do conteúdo da <strong>fé</strong>, ou da fi<strong>de</strong>s quae creditur. Não seja<br />

possível abordar aqui essa questão, mas po<strong>de</strong>mos dizer que a dificulda<strong>de</strong> maior vem, no<br />

caso da filosofia, do fato <strong>de</strong> que a filosofia mo<strong>de</strong>rna, na sua intenção profunda, é essen-<br />

cialmente imanentista e antropológica, ao passo que a filosofia antiga é <strong>uma</strong> filosofia da<br />

transcendência e estruturalmente teológica (Ver H. C. Lima Vaz, Religião e mo<strong>de</strong>rnida-<br />

<strong>de</strong> filosófica, Síntese, 53 (1991): 147-165). Isso não quer dizer que muitos dos avanços

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