fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...
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mesmo <strong>de</strong> se<strong>para</strong>r em registros incomunicáveis <strong>de</strong> <strong>verda<strong>de</strong></strong>, a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> e a <strong>verda<strong>de</strong></strong><br />
da <strong>ciência</strong>. Nenh<strong>uma</strong> contradição po<strong>de</strong> substituir entre as <strong>duas</strong> <strong>linguagens</strong>, sob pena <strong>de</strong><br />
<strong>uma</strong> ruptura irremediável do horizonte do ser ao qual se or<strong>de</strong>na a inteligência, e do salto<br />
irracional da <strong>fé</strong> na escuridão do absurdo. Convém lembrar, no entanto, que a analogia <strong>de</strong><br />
proporcionalida<strong>de</strong> não exclui, ao contrário, implica <strong>uma</strong> relação secundum prius et pos-<br />
terius entre seus termos, ou seja, <strong>uma</strong> relação <strong>de</strong> anteriorida<strong>de</strong> ontológica <strong>de</strong> um termo<br />
com respeito ao outro, sob pena da predicação analógica permanecer num horizontalis-<br />
mo que retorna, <strong>de</strong> certo modo à univocida<strong>de</strong> (Ver A. <strong>de</strong> Muralt, Néoplatonisme et aris-<br />
tot;elisme dans la métaphysique médiévale, Paris, Vrin, 1995, p. 42, n. 1). É claro, nesse<br />
caso, que a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong>, <strong>para</strong> o cristão, reivindica <strong>uma</strong> anteriorida<strong>de</strong> ontológica com<br />
relação à <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>ciência</strong>, sendo a <strong>verda<strong>de</strong></strong> divina princípio e medida transcen<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> toda <strong>verda<strong>de</strong></strong>.<br />
Convém lembrar, finalmente, que a <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong> implica, no próprio assentimen-<br />
to da inteligência e no consentimento da liberda<strong>de</strong>, sob a ação da graça, <strong>uma</strong> transfor-<br />
mação existencial do sujeito, a abertura <strong>de</strong> um novo horizonte <strong>de</strong> vida. A <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong><br />
é, indissoluvelmente, <strong>verda<strong>de</strong></strong> da contemplação e <strong>verda<strong>de</strong></strong> da ação. É a mais alta forma<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> <strong>verda<strong>de</strong></strong> prática, <strong>uma</strong> vez que a sua enunciação como <strong>verda<strong>de</strong></strong> da Palavra <strong>de</strong><br />
Deus é o bem maior da inteligência, que se comunica à liberda<strong>de</strong> como sua <strong>verda<strong>de</strong></strong> e o<br />
seu fim. Nessa perspectiva alg<strong>uma</strong> analogia po<strong>de</strong>ria também ser estabelecida entre a<br />
dimensão prática da <strong>fé</strong> e o caráter intrinsecamente operativo da <strong>verda<strong>de</strong></strong> científica que se<br />
traduz mo<strong>de</strong>rnamente no imenso processo histórico <strong>de</strong> transformação técnica do mundo.<br />
Mas a com<strong>para</strong>ção <strong>de</strong>ve ser extremamente cautelosa e não po<strong>de</strong> ter lugar no mesmo<br />
plano epistemológico, pois aqui os tênues traços da semelhança são envolvidos por <strong>uma</strong><br />
máxima dissemelhança: <strong>de</strong> um lado temos a transformação do sentido mais profundo da<br />
vida h<strong>uma</strong>na por <strong>uma</strong> operação <strong>de</strong> natureza teândrica na qual a ação da graça divina é<br />
soberana; <strong>de</strong> outro o projeto fáustico do home <strong>de</strong> transformar a natureza - e a si mesmo -<br />
segundo o seus <strong>de</strong>sígnios <strong>de</strong> realização terrena do seu bem h<strong>uma</strong>no. Subsiste, no entan-<br />
to, a analogia, pois tudo o que proce<strong>de</strong> genuinamente do homem revela um traço da<br />
imagem e semelhança divinas, nele impressa na criação. Depois da Gaudium et Spes o<br />
olhar cristão sobre a imensa aventura técnica da h<strong>uma</strong>nida<strong>de</strong>, sem se <strong>de</strong>ixar levar por<br />
um otimismo ingênuo, é um olhar que po<strong>de</strong>ríamos reconhecer como teolhardiano: a<br />
<strong>ciência</strong> e a técnica aparecem aos olhos da <strong>fé</strong> como o pressentimento e o anelo daquela<br />
liberda<strong>de</strong> e glória <strong>de</strong> que fala São Paulo (Rm, 8, 18-23), que os filhos <strong>de</strong> Deus partilha-