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fé e ciência: duas linguagens para uma verdade - Centro Loyola de ...

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conceptuais da filosofia mo<strong>de</strong>rna, sobretudo da fenomenologia, não possa, ser utilizados<br />

na hermenêutica da linguagem da <strong>fé</strong>. Quanto ao uso hermenêutico das <strong>ciência</strong>s <strong>para</strong><br />

interpretação do conteúdo da <strong>fé</strong>, é dificultado pelo método e seu caráter operacional e<br />

pela intenção profunda da inteligibilida<strong>de</strong> científica voltada <strong>para</strong> a compreensão do<br />

mundo em termos da sua utilização técnica, o que vale igualmente das <strong>ciência</strong>s herme-<br />

nêuticas ou h<strong>uma</strong>nas, que são <strong>ciência</strong>s do comportamento e presci<strong>de</strong>m metodicamente<br />

da pergunta o que é o homem? Passemos, pois, a expor brevemente a estrutura da lin-<br />

guagem e da <strong>verda<strong>de</strong></strong> da <strong>fé</strong>.<br />

b. A linguagem da <strong>fé</strong> - A primeira característica da linguagem da <strong>fé</strong> mostra-se no<br />

fato <strong>de</strong> que nela há <strong>uma</strong> primazia essencial da palavra sobre o discurso. Isso significa<br />

que a linguagem da <strong>fé</strong> não é, primeiramente, <strong>uma</strong> linguagem <strong>de</strong> persuasão e muito me-<br />

nos <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração mas é, antes <strong>de</strong> tudo, <strong>uma</strong> linguagem <strong>de</strong> revelação ou <strong>de</strong> anúncio<br />

ou confissão <strong>de</strong> <strong>fé</strong>. Essa, por sua vez, é <strong>uma</strong> linguagem <strong>de</strong> tipo performativo, ou seja, na<br />

qual o enunciado não é apenas o registro <strong>de</strong> um fato (p. ex., faz sol) mas implica um<br />

envolvimento do locutor e, portanto, <strong>uma</strong> ação (p. ex., eu prometo, eu creio). A resposta<br />

positiva ao anúncio da <strong>fé</strong> é a ação <strong>de</strong> crer, expressa em linguagem performativa, como<br />

no caso do Símbolo dos Apóstolos ou o Credo nas suas diversas versões (ver J.<br />

Ladrière, L'articulation du sens, I, op. cit., pp. 91-139). Na linguagem da <strong>fé</strong> <strong>de</strong>vemos<br />

distinguir, pois, o anúncio <strong>de</strong> um acontecimento salvífico (fi<strong>de</strong>s quae creditur) e a pro-<br />

fissão da eficácia <strong>de</strong>sse acontecimento na vida <strong>de</strong> quem recebe o anúncio (fi<strong>de</strong>s qua<br />

creditur). Por sua vez, o fundamento da <strong>verda<strong>de</strong></strong> do anúncio e da sua eficácia transfor-<br />

madora na vida <strong>de</strong> quem professa o que é anunciado, é o Deus que revela e opera a sal-<br />

vação (fi<strong>de</strong>s cui creditur). A palavra da <strong>fé</strong> como anúncio torna-se finalmente substancial<br />

na i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da Palavra <strong>de</strong> Deus com o próprio Deus, Palavra que se fez carne e habi-<br />

tou no meio <strong>de</strong> nós.<br />

Se a linguagem da <strong>fé</strong> é, primeiramente, palavra que atinge o discurso h<strong>uma</strong>no co-<br />

mo algo que <strong>de</strong>sconcerta e escandaliza (1 Cor. 2, 1-16) é também discurso, pois a lin-<br />

guagem h<strong>uma</strong>na é essencialmente discursiva. Mas não é o discurso da sabedoria h<strong>uma</strong>-<br />

na mas da sabedoria do Deus que age e revela (ibid., 1, 18-30). Essa dimensão discursi-<br />

va da linguagem da <strong>fé</strong> aparece já no próprio texto da Escritura. Ela se prolonga na dida-<br />

ché, no ensinamento apostólico e se <strong>de</strong>senvolve posteriormente no magistério da Igreja<br />

ao longo dos tempos. Mas a discursivida<strong>de</strong> da linguagem da <strong>fé</strong> encontra seu campo pró-

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