bruxas e feiticeiras em novelas de cavalaria do ciclo arturiano
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conhecimento da realida<strong>de</strong>. É por isso que, ao contrário <strong>do</strong>s po<strong>em</strong>as <strong>do</strong> Trova<strong>do</strong>rismo, as<br />
<strong>novelas</strong> <strong>de</strong> <strong>cavalaria</strong> proporcionam uma cont<strong>em</strong>plação mais próxima <strong>do</strong> que foi o cotidiano <strong>do</strong><br />
hom<strong>em</strong> medieval. Entre os vários estudiosos que <strong>de</strong>tiveram sua atenção sobre o romance, é<br />
interessante discutir e comentar os pensamentos <strong>de</strong> Roland Bourneuf e Real Ouellet<br />
veicula<strong>do</strong>s <strong>em</strong> O universo <strong>do</strong> romance 2 , on<strong>de</strong> tratam, <strong>de</strong>talhadamente, <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os aspectos e<br />
el<strong>em</strong>entos compositivos da narrativa romanesca.<br />
Segun<strong>do</strong> os autores, a mágica da narrativa <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> romance v<strong>em</strong> da própria palavra <strong>em</strong><br />
si; é repleta <strong>de</strong> conotações leves e agradáveis, passível <strong>de</strong> pronta i<strong>de</strong>ntificação. É, muitas<br />
vezes, entendida como uma forma <strong>de</strong> lazer, uma maneira <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso para a mente através <strong>de</strong><br />
ativida<strong>de</strong> intelectual capaz <strong>de</strong> redirecionar o pensamento, livran<strong>do</strong>-o <strong>do</strong>s aborrecimentos<br />
diários provenientes da rotina <strong>de</strong> trabalho. Tal concepção, relacionada à leitura <strong>de</strong> romances, é<br />
mais freqüente entre os leitores comuns. Porém, entre os mais atentos, é provável que o<br />
romance traga uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingir melhor a própria realida<strong>de</strong>, conhecen<strong>do</strong>-a mais<br />
profundamente e, através da posição <strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> fictícia análoga à real,<br />
po<strong>de</strong> mesmo operar transformações na sua leitura <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>.<br />
A palavra romance, no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong>s séculos, sofreu alterações <strong>em</strong> seu senti<strong>do</strong> primeiro. No<br />
século XII, a palavra significava, ao mesmo t<strong>em</strong>po, um escrito <strong>em</strong> verso e a língua na qual o<br />
verso era escrito. Posteriormente <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> ao verbo romancear, que inicialmente<br />
significava traduzir <strong>do</strong> latim para o francês e, mais tar<strong>de</strong>, nos primórdios <strong>do</strong> século XV,<br />
passou a significar contar <strong>em</strong> francês. Com o t<strong>em</strong>po, a palavra esten<strong>de</strong>u-se para <strong>de</strong>finir<br />
qualquer obra escrita <strong>em</strong> língua vulgar, <strong>de</strong> caráter ficcional s<strong>em</strong> bases históricas, qualquer<br />
matéria que se opusesse à literatura oral e, já nos fins da Ida<strong>de</strong> Média, romance abarcava,<br />
inclusive, as canções <strong>de</strong> gesta.<br />
Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três séculos as narrativas <strong>em</strong> verso ce<strong>de</strong>ram espaço à prosa e o público <strong>do</strong><br />
século XVI ainda se <strong>de</strong>leitava com as histórias <strong>de</strong> valentes cavaleiros e damas <strong>de</strong> rara beleza<br />
viven<strong>do</strong> aventuras fantásticas, se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bran<strong>do</strong> <strong>em</strong> proezas heróicas para alcançar a honra, o<br />
merecimento <strong>do</strong> rei ou salvar alguém <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>o perigo.<br />
2 BOURNEUF, Roland & OUELLET, Réal. O universo <strong>do</strong> romance. Coimbra: Almedina, 1976.<br />
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