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Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis

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Da social-democracia ao neoliberalismo:<br />

a reprivatização <strong>da</strong> democracia<br />

O movimento dialético que fundou o anti-valor como negação <strong>da</strong> mercadoria<br />

ampliou a força <strong>da</strong> organização dos trabalhadores até o ponto de disputar a<br />

destinação do excedente no capitalismo, medido pelos coeficientes <strong>da</strong> despesa<br />

social pública sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Hayek já havia antevisto<br />

esse momento em suas perorações de Mont Pélérin e no seu “O Caminho <strong>da</strong><br />

Servidão”. Este foi o ponto de inflexão do conflito que, talvez por ironia <strong>da</strong><br />

história, tenha começado também na Inglaterra. Mas como Marx havia dito<br />

De Te Fabula Narratur, a reversão espraiou-se por todo o sistema capitalista.<br />

Entrava em ação um movimento de re-privatização <strong>da</strong> democracia. Mrs. Tatcher<br />

guar<strong>da</strong> para si o duvidoso galardão de ter inaugurado esse período. Qual é a<br />

dinâmica desse movimento, de onde ele extrai sua força? Certamente ela não<br />

se deve ao estilo bolo-de-noiva dos trajes e penteados <strong>da</strong> Dama de Ferro, clone,<br />

aliás, de Sua Majestade.<br />

Mas a formação do fundo público liberou o capital dos constrangimentos que<br />

lhe impunha a força-de-trabalho como mercadoria, e soltou as forças <strong>da</strong> Caixa<br />

de Pandora <strong>da</strong> nova potência de acumulação. Pela negativi<strong>da</strong>de, caía por terra<br />

definitivamente a teoria ricardiana do valor-trabalho, em que este comparece<br />

como um custo de capital. Uma acumulação de capital poderosa entrou em<br />

ação, a partir <strong>da</strong> combinação “virtuosa” <strong>da</strong>s políticas anti-valor com a riqueza<br />

pública transforma<strong>da</strong> em pressuposto <strong>da</strong> produção de valor. <strong>Os</strong> “Trinta Anos<br />

Gloriosos” foram a on<strong>da</strong> mais larga de expansão do capital, se quisermos usar<br />

por analogia os termos de Kondratiev. As formas técnicas <strong>da</strong> acumulação de<br />

capital ultrapassaram a materiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s coisas para transformarem-se numa<br />

coisificação virtual, cujo poder de plasmar a vi<strong>da</strong> humana ultrapassa todos os<br />

limites. É, ao mesmo tempo, um limite nunca antes alcançado do fetiche <strong>da</strong><br />

mercadoria e <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de sua anulação. Trata-se de um conflito de classes<br />

de dimensões planetárias. Sua primeira expressão é de intensa regressivi<strong>da</strong>de<br />

e sua segun<strong>da</strong> dimensão depende inteiramente <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de que as classes<br />

sociais revelarem de apropriarem-se de sua potência, qual novo Prometeu.<br />

A regressivi<strong>da</strong>de aparece radicalmente na dissolução <strong>da</strong> dimensão do tempo<br />

e leva de cambulha<strong>da</strong> o contrato mercantil como temporali<strong>da</strong>de, uma <strong>da</strong>s bases<br />

para o estabelecimento do estatuto <strong>da</strong> mercadoria; para Marx, o valor é em<br />

primeiro lugar a quanti<strong>da</strong>de de tempo de uso <strong>da</strong> mercadoria força-de-trabalho.<br />

A temporali<strong>da</strong>de é substituí<strong>da</strong> por uma estrutura atomística do trabalho:<br />

trabalho em redes, trabalho em células, trabalho abstrato virtual levando ao<br />

paroxismo a intercambiali<strong>da</strong>de entre os môna<strong>da</strong>s que carregam sua força-detrabalho.<br />

Um poderoso aumento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de do trabalho, multiplicado<br />

pelas novas formas técnicas <strong>da</strong> acumulação de capital, no centro, não tanto<br />

suprime o emprego assalariado – estes são ain<strong>da</strong> a maioria – mas modifica-lhes

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