Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis
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Faz uns três meses que a Inter-Redes, <strong>da</strong> qual a ABONG faz parte, mandou<br />
uma carta para o presidente <strong>da</strong> República, para a Casa Civil, para a Secretaria<br />
Geral e todos os ministros que participaram dessas audiências, apresentando<br />
os acordos feitos e cobrando. Tivemos respostas dos ministros que participaram<br />
como: “Isso é <strong>da</strong> competência <strong>da</strong> Secretaria Geral”. Teve secretário-executivo de<br />
Ministério que me ligou para saber por que man<strong>da</strong>mos a carta para lá. Diziam<br />
que estava sendo encaminha<strong>da</strong> para a Secretaria Geral.<br />
Não houve pronunciamento <strong>da</strong> Secretaria Geral sobre a primeira carta. Em maio,<br />
aconteceu uma reunião <strong>da</strong> Inter-Redes em que tomamos posição. Estamos<br />
elaborando uma carta em que dizemos que é um processo longo e, como tem<br />
muitos atores, é uma coisa que o governo não entende. Como há muitos atores<br />
envolvidos nesse processo, há um tempo para construir suas posições. Não pode<br />
acontecer de cinco ou seis pessoas tomarem posição e acharem que têm com<br />
o que dialogar. O que estamos fazendo é conversar com as outras redes, com<br />
os Comitês Estaduais que se formaram, e também com as organizações que<br />
tiveram papel de coordenação nos Estados.<br />
A posição <strong>da</strong> Inter-Redes é de não participarmos mais <strong>da</strong>quele processo. Rompemos.<br />
Aceitamos conversar sobre outro processo e o primeiro item <strong>da</strong> pauta é<br />
acertar as regras do jogo. E o que isso significa? Agen<strong>da</strong> com conteúdo, definição<br />
de que espaço público é esse, de como se <strong>da</strong>rá publici<strong>da</strong>de a esse espaço, quem<br />
são os atores. Tudo que dizemos ser preliminar para se entrar em um processo<br />
de participação. Há conflito e qual é o espaço público existente para resolver<br />
esse conflito? Estamos concluindo esse processo de consulta para enviar uma<br />
carta ao governo. A Secretaria Geral já sabe disso.<br />
Mário Sérgio Cortella Chico, agora é a sua última presença nessas questões.<br />
Chico Menezes Uma pergunta questiona até que ponto a democracia pode ser de<br />
fato participativa se o governo não faz a sua parte, não contribui com o poder<br />
que tem para atender aos anseios, às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil?<br />
Evidentemente, essa pergunta traz a questão mais geral que deve ter sido<br />
bastante discuti<strong>da</strong> nesses dias. Eu só a colocaria como provocação. Se não<br />
for para discussão aqui, pelo menos para a gente pensar. Esse governo foi<br />
eleito em um quadro de democracia representativa. É isso que se pretendia,<br />
a partir de determina<strong>da</strong>s afirmações. Tinha o histórico do partido que lidera<br />
essa frente, com uma forte associação ou, pelo menos, com a compreensão <strong>da</strong><br />
importância <strong>da</strong> participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Na reali<strong>da</strong>de, há todo um processo<br />
a construir em que, dentro desse mesmo governo, a idéia de democracia<br />
participativa está longe de ser unanimi<strong>da</strong>de.<br />
Eu acho que está muito ligado ao aspecto <strong>da</strong> inexistência de um aspecto nacional.<br />
Na reali<strong>da</strong>de, na esteira <strong>da</strong> democracia representativa que temos hoje, de<br />
um processo eleitoral como se dá – vamos verificar isso nas próximas eleições<br />
municipais –, o espaço para unificação em torno de projetos praticamente não<br />
existe. Essa inexistência faz com que a prática do processo participativo seja<br />
desespera<strong>da</strong> de defesa de interesses específicos, sem convergirem para algo que<br />
aponte para um projeto articulado.