Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis
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<strong>Democracia</strong> e participação<br />
A grande riqueza deste encontro é a capaci<strong>da</strong>de de elaboração coletiva<br />
que temos. O próprio desenho do Seminário deposita grande expectativa nas<br />
oficinas que vêm depois. Então, me disponho a problematizar algumas coisas,<br />
quem sabe complicar um pouco mais, e a pontuar algumas questões.<br />
A base para que se comece a fazer o raciocínio é um diagnóstico que está<br />
sendo desenhado a múltiplas vozes sobre o momento que estamos vivendo<br />
no Brasil, e de que governo é esse que temos em nível federal. Alguns pontos<br />
começam a se tornar consenso em nosso campo. Penso que é deles que deveremos<br />
partir para discutir as possibili<strong>da</strong>des, as práticas e a repercussão dos<br />
movimentos nessa conjuntura.<br />
A primeira questão é que, independente de to<strong>da</strong> a trajetória de lutas sociais,<br />
organização sindical, organização dos movimentos sociais, de to<strong>da</strong> experiência<br />
de combate dos 30 anos <strong>da</strong> história mais recente do país, contraditoriamente,<br />
este governo está capturado pela lógica do pensamento único. Por que digo<br />
isso? Porque a política pratica<strong>da</strong> por esse governo, no sentido de “P” maiúsculo,<br />
quer dizer, olhando para a macroeconomia, para as estratégias, é uma política<br />
de aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> estratégia anterior neoliberal, com to<strong>da</strong>s as repercussões<br />
que conhecemos. Isso define um cenário. O ciclo de financeirização dessa<br />
política, o compromisso de pagamento do serviço <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>, o compromisso<br />
com a rentabili<strong>da</strong>de do setor financeiro, estão sendo as âncoras de organização<br />
<strong>da</strong>s políticas federais, e elas geram conseqüências. E estamos tratando só <strong>da</strong>s<br />
conseqüências. Não estamos tratando de considerar, analisar, aprofun<strong>da</strong>r a<br />
nossa reflexão sobre o núcleo duro dessa política.<br />
Essa política neoliberal, pratica<strong>da</strong> desde o início dos anos 1990, fragilizou<br />
a capaci<strong>da</strong>de de intervenção do Estado pela via <strong>da</strong>s privatizações, <strong>da</strong>s terceirizações.<br />
E eu não diria que isto se deu só em nível federal. Ocorreu também em<br />
níveis estadual e municipal. Hoje em dia uma série de políticas de serviços que<br />
antes eram exerci<strong>da</strong>s diretamente pelos governos municipais, pelos governos<br />
estaduais, foram terceiriza<strong>da</strong>s, foram valoriza<strong>da</strong>s como mercadoria e desvaloriza<strong>da</strong>s<br />
como bens e serviços de interesse comum. Essas mu<strong>da</strong>nças ocorreram<br />
também pela reduzi<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de controle do Estado sobre as empresas<br />
contrata<strong>da</strong>s e pela falta de compromisso com a quali<strong>da</strong>de dessas políticas.<br />
Silvio Caccia Bava<br />
Sociólogo, diretor do Instituto<br />
<strong>Polis</strong> e membro do<br />
Conselho Nacional de Segurança<br />
Alimentar e Nutricional<br />
(CONSEA).<br />
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