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Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis

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e pelas políticas neoliberais, modelo que caminha no limite oposto a esse<br />

processo de participação. Ou seja, há um forte movimento de esvaziamento<br />

do papel do Estado em decorrência do mercado. Esse movimento tem conseqüências<br />

graves sob o ponto de vista social, do direito, <strong>da</strong> empregabili<strong>da</strong>de e,<br />

conseqüentemente, sobre tudo que esse movimento de democratização <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de vinha pleiteando.<br />

Então, acho que essa é a primeira contradição importante que tem que ficar clara.<br />

Esses processos de participação, como vínhamos fazendo, estão resultando num<br />

desenvolvimento histórico de desconstituição de direitos, portanto, num processo<br />

econômico que não aju<strong>da</strong> a luta histórica. Essa democracia participativa, num<br />

contexto de uma economia excludente, é possível? Essa é uma questão que está<br />

coloca<strong>da</strong> para nós. Por quê? Porque esse processo econômico avança contra a idéia<br />

de universali<strong>da</strong>de de direito, contra a idéia de políticas universais para formas de<br />

políticas compensatórias. Avança para a terceirização, para formas de despolitização<br />

dos temas sociais, para uma lógica mais técnica, mais produtivista.<br />

Muito bem. O que ocorre no contexto do governo Lula e que se reflete nos<br />

governos locais, estaduais, nos próprios governos do PT e em outros governos<br />

com identi<strong>da</strong>de de esquer<strong>da</strong>, progressista? O que percebemos é que, sob o ponto<br />

de vista dos processos participativos, houve um avanço na idéia de participação<br />

geral – no âmbito dos conselhos, <strong>da</strong>s conferências –, mas com o seu sentido de<br />

realização limitado. Vou explicar isso um pouco mais à frente. Sob o ponto de<br />

vista de outras ações, esse deslocamento efetuado pelo PT – que nasceu e <strong>da</strong><br />

socie<strong>da</strong>de civil e ganha status de governo e, portanto, passa para o âmbito institucional<br />

como Executivo – traz conseqüências para a socie<strong>da</strong>de civil naquelas<br />

lutas históricas. Por exemplo: muitas <strong>da</strong>s lutas diretas passam a ser media<strong>da</strong>s,<br />

porque grande parte desses atores sociais está no poder público e, portanto,<br />

acaba realizando uma mediação entre essas lutas, que tradicionalmente se<br />

<strong>da</strong>vam de maneira direta. Muito do embate <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil entre setores<br />

conservadores e progressistas deixa de ocorrer na relação entre socie<strong>da</strong>de civil<br />

e Estado. Ou seja, nós vínhamos tendo dificul<strong>da</strong>de de realizar essa luta direta no<br />

âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, e acho que é importante continuá-la. O âmbito dos<br />

conselhos e <strong>da</strong>s conferências é o espaço em que vimos debatendo e sentindo<br />

as dificul<strong>da</strong>des. Como é que ele vem se <strong>da</strong>ndo?<br />

E encerro com isso. Eu senti pelas conversas que, apesar de tudo, o discurso<br />

participativo vem se realizando de forma muito desigual, o que se dá por<br />

diversos motivos. Primeiro, porque no âmbito do Estado, se você discute com<br />

a Secretaria Geral <strong>da</strong> Presidência, que é o espaço de diálogo com a socie<strong>da</strong>de<br />

civil e faz parte do núcleo duro de governo, os limites e o debate político se<br />

dão nesse núcleo duro de poder e, portanto, há muito mais limites sob a forma<br />

de avanço. Essa é uma contradição, porque justamente o espaço de debate no<br />

âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil é aquele de maior controle. Isso quer dizer que no<br />

outro âmbito, a negociação pode se <strong>da</strong>r de maneira mais flui<strong>da</strong>, mas os seus<br />

limites são colocados no momento seguinte.<br />

E segundo, é que há, portanto, avanços diferenciados, dependendo do Ministério<br />

e <strong>da</strong> parte do Executivo com o qual você trabalha, dependendo <strong>da</strong> aliança<br />

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