Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis
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sou: “As coisas agora estão an<strong>da</strong>ndo”. E a questão <strong>da</strong> saúde deixou de entrar<br />
na agen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s organizações com a mesma força que entrava antes. Isso teve<br />
conseqüências e continua tendo.<br />
Agora a postura continua sendo a mesma. Mobiliza-se, neste momento, em<br />
torno <strong>da</strong> regulamentação <strong>da</strong> emen<strong>da</strong> constitucional que vincula recursos para<br />
a saúde porque está em risco a vinculação. Há uma proposta do governo de<br />
reduzir o montante vinculado à saúde, o que tínhamos conseguido a duras<br />
penas no governo Fernando Henrique.<br />
Mário Sérgio Cortella Chico, a partir do que disse a Beth Barros e o Moroni, você<br />
acha que os passos institucionais, criados pelo governo Lula ou já existentes, são<br />
espaços de democratização efetiva ou apenas instâncias de gestão de conflitos?<br />
Chico Menezes O risco de ser algo apenas formal, nem sequer gestão de conflitos,<br />
é muito grave. Queria recuperar um ponto que o Moroni disse, que acho importante<br />
identificar, e que vivenciamos em relação à segurança alimentar, o<br />
campo em que atuo. Encontrávamos no governo anterior uma absoluta falta<br />
de disposição, ou uma disposição para converter qualquer possibili<strong>da</strong>de de<br />
participação, aí sim, em mera formali<strong>da</strong>de. Vivenciamos isso várias vezes. É<br />
importante ver que a reivindicação de realizar conferências foi uma tecla em<br />
que batemos durante oito anos e não tivemos nenhuma escuta. No primeiro<br />
ano do governo Lula vimos um ciclo de conferências, to<strong>da</strong>s elas cerca<strong>da</strong>s de<br />
muitos conflitos, mas ocorrendo.<br />
Um ponto importante a ver, também, é que o governo está longe de ser um<br />
todo homogêneo. Se fosse definir esse governo, diria que ele existe por ser essa<br />
diversi<strong>da</strong>de de campos, às vezes até opostos e em conflito. Nesse sentido, não<br />
sei se a linha mais correta de discussão dessas possibili<strong>da</strong>des de participação, e<br />
<strong>da</strong> postura frente à participação, é simplesmente colocar governo de um lado<br />
e socie<strong>da</strong>de de outro. Vamos ter que olhar o que ocorre dentro do governo<br />
e o que ocorre na socie<strong>da</strong>de. Existem setores no governo muito receptivos e<br />
desejosos do funcionamento efetivo <strong>da</strong>s instâncias de participação. Mas não<br />
existe ain<strong>da</strong> no país uma cultura de participação, nem no governo, nem na<br />
socie<strong>da</strong>de. E essa é uma construção longa e difícil.<br />
Mário Sérgio Cortella Arnaldo, enquanto o Chico falava, você concor<strong>da</strong>va, balançava<br />
a cabeça em concordância.<br />
José Arnaldo de Oliveira É muito bacana isso que o Chico diz porque vai levar<br />
a uma outra etapa dessa análise, que é a questão <strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de. Usemos<br />
o caso do Conselho Nacional de Segurança Alimentar. Uma <strong>da</strong>s questões que<br />
esse conselho permitiu foi o encontro de vários atores diferentes, inclusive de<br />
to<strong>da</strong>s as regiões do Brasil. Uma <strong>da</strong>s idéias em debate é a cesta básica deixar de<br />
ser política assistencialista, tornando-se uma política pró-ativa através de sua<br />
composição de produtos. Tornando-se uma política de intervenção, por exemplo,<br />
na produção agrícola extrativista e ecológica do país. É uma idéia revolucionária.<br />
São milhões de cestas básicas e você mexeria ain<strong>da</strong> com setores muito amplos<br />
<strong>da</strong> produção familiar. Mas a aplicação de uma idéia transformadora passa por<br />
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