Os Sentidos da Democracia e da Participação - Polis
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maiores são os níveis de filiação ou associação a organizações associativas, bem<br />
como de participação político-social. Da mesma forma, também se observa a<br />
relação entre o nível de escolari<strong>da</strong>de e a utilização de jornais e revistas como<br />
fonte de informação política.<br />
Apesar de to<strong>da</strong>s as transformações no mundo do trabalho, com a conseqüente<br />
flexibilização <strong>da</strong>s relações trabalhistas, a dimensão sindical, basicamente<br />
forma<strong>da</strong> pela filiação a sindicatos, ain<strong>da</strong> representa a principal forma associativa<br />
nas regiões metropolitanas. E em geral, verificam-se diferenças significativas<br />
no associativismo intrametropolitano, entre a capital e as suas periferias, em<br />
relação tanto ao maior percentual <strong>da</strong> população com vínculo associativo, quanto<br />
ao maior grau de informação política.<br />
Tanto nossa experiência de trabalho quanto os <strong>da</strong>dos disponíveis sobre<br />
associativismo indicam que o tecido associativo brasileiro passa por grandes<br />
mu<strong>da</strong>nças. Até os anos 1980, podemos identificar dois formatos de organização<br />
predominantes: um relacionado ao mundo do trabalho, os sindicatos e<br />
associações profissionais, e outro, ligado ao bairro, através <strong>da</strong>s associações de<br />
moradores e de amigos de bairro. O final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 e o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><br />
de 1990 foram marcados pela reconfiguração do tecido associativo, no sentido<br />
<strong>da</strong> sua diversificação e complexi<strong>da</strong>de. Multiplicaram-se as organizações sociais,<br />
cresceram as organizações religiosas, surgiram novos sujeitos articulados em<br />
torno do movimento feminista, do movimento ambiental e de movimentos<br />
culturais, e se constituíram diferentes redes e fóruns de articulação desses<br />
atores. Desde então, o tecido associativo brasileiro é marcado pela ausência de<br />
centrali<strong>da</strong>de, em um movimento de permanente reconfiguração, onde ganham<br />
destaque as redes e fóruns.<br />
Afinal, o que podemos extrair dessa síntese, na perspectiva <strong>da</strong> nossa discussão<br />
sobre a democracia e a participação, requeri<strong>da</strong> pelo modelo de governança<br />
democrática?<br />
Inicialmente, é preciso constatar que existe uma rica e diversifica<strong>da</strong> experiência<br />
de participação, mas imersa em enorme bolha de alienação e indiferença<br />
<strong>da</strong> população em geral. A parcela que vive a apatia política convive com<br />
aquela que assume a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia ativa, tanto nas relações de mercado como<br />
através de outros tipos de interação, e aqui pensamos, sobretudo, nas relações<br />
clientelistas, paternalistas, de negação dos direitos, no “jeitinho” de resolver<br />
conflitos e em tantas outras práticas não-convencionais, tão características<br />
do comportamento brasileiro.<br />
Assim, podemos dizer que a socie<strong>da</strong>de brasileira alcançou dois requisitos<br />
básicos <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des democráticas: a acumulação econômica associa<strong>da</strong> ao<br />
elevado grau de urbanização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e a expansão <strong>da</strong> participação eleitoral,<br />
que também se expressa na competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> dinâmica partidária. Por outro<br />
lado, esses aspectos parecem que não foram suficientes para garantir uma<br />
dinâmica democrática, por não incorporarem a maior parte <strong>da</strong> população na<br />
dinâmica social, econômica e política <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.