18.04.2013 Views

3º Ciclo

3º Ciclo

3º Ciclo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Finalmente, a imagem e o som tornaram-se, nesta aldeia<br />

global em que vivemos, sistemas prioritários para o homem<br />

comunicante, em detrimento da escrita. Portanto, esta negociação<br />

entre experiências de linguagem verbal oral e escrita<br />

revela-se difícil.<br />

2. Ausência de um interlocutor: A mensagem terá de ser explícita<br />

e compreensível para o leitor (visto que o escritor é<br />

impossibilitado de proceder a esclarecimentos in loco),<br />

atendendo a que os conhecimentos do mundo empírico de<br />

ambos possam ser muito diferentes. É necessário que ele<br />

escreva fora de uma relação pessoal (e por isso contextual)<br />

e torna-se difícil, para uma criança ou para um jovem, “descentralizar-se<br />

de si próprio” e escrever para o outro entender.<br />

Se, na oralidade, ele consegue certificar-se de que<br />

o ouvinte está a perceber ou a gostar do que ele diz, o processo<br />

na escrita é contrário: o texto terá de ser consequência<br />

de um conhecimento previsível acerca das reações<br />

do leitor e conter toda a informação considerada necessária<br />

à compreensão, ou seja, toda a informação “nova” relativamente<br />

ao leitor.<br />

3. Compreensão do tipo de escrita a produzir / (re)conhecimento<br />

do tema: No âmbito das atividades escripturais escolares,<br />

as instruções dadas pelo professor, quanto ao tema<br />

e tipo de produção, nem sempre são claras e rigorosas, de<br />

forma a permitir o entendimento face às expetativas de<br />

quem pede e ao que é pedido. É necessário perceber se se<br />

pretende um maior ou menor envolvimento do escritor no<br />

texto, mais ou menos “factos”... , se deve ser produzido um<br />

conto ou reconto, uma carta formal ou informal, um texto<br />

explicativo ou argumentativo, um poema num estilo particular...<br />

, se o professor atribuirá mais importância às questões<br />

de ortografia, à seleção do léxico ou à pertinência do<br />

conteúdo, no ato de avaliação.<br />

É difícil escrever desconhecendo as intenções do professor<br />

e o tipo de produção escrita pedido. Além disso, referir temas<br />

como “Texto livre” ou “Fala de ti”, ou ainda outros que se reportem<br />

a um assunto desconhecido ou demasiado abstrato<br />

para determinados alunos, como por exemplo “O mito” ou<br />

“A crítica”, em certos níveis de escolaridade, podem ser<br />

fatores desencadeadores de dificuldades que recaem não na<br />

aplicação de recursos linguísticos propriamente ditos mas<br />

no nível conceptual da tarefa.<br />

Textos Para Reflexão<br />

4. Adequação discursiva a diferentes situações enunciativas:<br />

O aluno terá que saber adequar a escrita aos dados contextuais<br />

do momento e do lugar em que escreve, recorrer<br />

à sua formação ideológica e linguística, delinear a própria<br />

imagem do professor porque ela é fundamental como fator<br />

condicionante do texto. De facto, o interlocutor/professor<br />

afeta fortemente a forma como se escreve. E cedo o aluno<br />

se apercebe de que para diferentes professores há que produzir<br />

textos diferentes. Tal como afirmam Burgess et alii.<br />

(1973: 119), “It is remarkable how quickly children pick up<br />

the idiosyncracies of their teachers and modify their writing<br />

accordingly. A great deal of school writing is in this way<br />

modified by the child’s expectation of his teacher’s reaction;<br />

he has a picture of his reader as a judge – someone who<br />

will say ‘this is good’ and ‘that is bad’ (1973: 120, 121).<br />

Mas, e se o texto a escrever não tem como leitor o professor?<br />

A dificuldade recai então no entendimento que o aluno<br />

terá das diferentes situações de comunicação, que envolvem<br />

o seu ato de escrita, visando as expetativas do leitor,<br />

mesmo sendo este desconhecido, ou seja, ele terá de se<br />

centrar no factor intencionalidade, que está submetido à<br />

aceitabilidade do texto.<br />

5. Construção de uma unidade estrutural de interconexões:<br />

trabalhos recentes da análise textual vieram mostrar que<br />

“la textualisation ne résulte pas de la mise en œuvre d’un<br />

algorithme grammatical, mais est une activité processuelle<br />

obéissant à des contraintes qui sont essentiellement d’ordre<br />

cognitif et communicationnel” (Ducrot et Schaeeffer, 1995:<br />

501). Isto vai ao encontro da constatação de Burgess et alii.<br />

(1973: 17) de que a mobilização de recursos relativos à escrita<br />

está subordinada a dois aspetos: “first, the commitment to a<br />

search for meaning; second, a framing of that commitment in<br />

terms of the situation which the writer has to meet.”<br />

Neste sentido, é difícil para um sujeito (ainda em situação<br />

de aprendizagem, no caso dos jovens alunos), no momento<br />

em que escreve, “aplicar” mecanismos de ordem cognitiva<br />

e comunicacional, ou, dito de outra forma, proceder a uma<br />

interconexão de conhecimentos advindos do contexto situacional<br />

(da emissão e da receção) e da aprendizagem de<br />

um código escrito “fixo”, nos diferentes níveis:<br />

• letras, palavras (limitá-las com espaços anteriores e posteriores)<br />

3 , regras de pontuação, regras de acentuação, emprego<br />

das iniciais maiúsculas, divisão silábica, representação de<br />

vogais nasais, ditongos, ...<br />

• estrutura das unidades morfológicas e lexemáticas, frásicas.<br />

• estruturas globais e funções do texto.<br />

3 Como afirmam Burgess et alli., 1973: 117: “(Most infants write in one consecutive string of letters, without any indications of word-boundaries, because that<br />

is what happens, as close as they can make it, in speech.)”<br />

73

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!