19.04.2013 Views

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ci<strong>da</strong>de e passam a morar aqui, até que morram e sejam enterra<strong>da</strong>s<br />

naquele cemitério, lá <strong>no</strong> alto do morro. Porque as palavras também<br />

nascem, crescem e morrem, como tudo mais.<br />

Narizinho parou diante duma palavra muito velha, bem coroca,<br />

que estava catando pulgas históricas à porta dum casebre. Era a<br />

palavra Bofé.<br />

— Então, como vai a senhora? — perguntou a menina,<br />

mirando-a de alto a baixo.<br />

— Mal, muito mal — respondeu a velha. — No tempo de <strong>da</strong>ntes<br />

fui moça <strong>da</strong>s mais faceiras e fiz o papel de ADVÉRBIO. Os homens<br />

gostavam de empregar-me sempre que queriam dizer Em ver<strong>da</strong>de,<br />

Francamente. Mas começaram a aparecer uns Advérbios <strong>no</strong>vos, que<br />

caíram <strong>no</strong> gosto <strong>da</strong>s gentes e tomaram o meu lugar. Fui sendo<br />

esqueci<strong>da</strong>. Por fim, tocaram-me lá do centro. "Já que está velha e inútil,<br />

que fica fazendo aqui?", disseram-me. "Mude-se para os subúrbios dos<br />

Arcaísmos", e eu tive de mu<strong>da</strong>r-me para cá.<br />

— Por que não morre duma vez para ir descansar <strong>no</strong> cemitério?<br />

— perguntou <strong>Emília</strong> com todo o estabanamento.<br />

— É que, de quando em quando, ain<strong>da</strong> sirvo aos homens.<br />

Existem certos sujeitos que, por esporte, gostam de escrever à mo<strong>da</strong><br />

antiga; e quando um deles se mete a fazer romance histórico, ou conto<br />

em estilo do século XV, ain<strong>da</strong> me chama para figurar <strong>no</strong>s diálogos, em<br />

vez do tal Francamente que tomou o meu lugar.<br />

— Aqui o <strong>no</strong>sso Visconde pela-se por coisas antigas — disse a<br />

menina. — Conte-lhe to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, desde que nasceu.<br />

O Visconde sentou-se ao lado <strong>da</strong> palavra Bofé e ferrou na prosa,<br />

enquanto Narizinho ia conversar com outra palavra ain<strong>da</strong> mais coroca.<br />

— E a senhora, quem é? — perguntou-lhe.<br />

— Sou a palavra Oga<strong>no</strong>.<br />

— Oga<strong>no</strong>? O que quer dizer isso?<br />

— Nem queira saber, menina! Sou uma palavra que já perdeu<br />

até a memória <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>. Apenas me lembro que vim do latim<br />

Hoc An<strong>no</strong>, que significa Este A<strong>no</strong>. Entrei nesta ci<strong>da</strong>de quando só havia

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!