19.04.2013 Views

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Depois <strong>da</strong> tremen<strong>da</strong> revolução ortográfica <strong>da</strong> <strong>Emília</strong>, o Brasil<br />

ficou envergonhado de estar mais atrasado que uma bonequinha e<br />

resolveu aceitar as suas idéias. E o gover<strong>no</strong> e as academias de letras<br />

realizaram a reforma ortográfica. Não saiu coisa muito boa, mas serviu.<br />

Infelizmente cometeram um grande deslize: resolveram adotar uma<br />

porção de acentos absolutamente injustificáveis. Acento em tudo!<br />

Palavras que sempre existiram sem acentos e jamais precisaram deles,<br />

passaram a enfeitar-se com esses risquinhos. O coitado do "ha" do<br />

verbo haver, passou a escrever-se com acento agudo — "há", sem que<br />

na<strong>da</strong> <strong>no</strong> mundo justificasse semelhante burrice. E introduziram acentos<br />

<strong>no</strong>vos, como o tal acento grave (`), que, por mais que a gente faça, não<br />

distingue do acento agudo (´). O "a" com crase passou a "à", embora<br />

conservasse exatamente o mesmo som! E apareceu até um tal trema<br />

(••), que é implicantíssimo. A pobre palavra "freqüência", que to<strong>da</strong> a<br />

vi<strong>da</strong> foi escrita sem acento nenhum, passou a escrever-se assim:<br />

"freqüência"!. . . <strong>Emília</strong> <strong>da</strong><strong>no</strong>u.<br />

— Não quero! Não admito isso. É besteira <strong>da</strong> grossa. Eu fiz a<br />

reforma ortográfica para simplificar as coisas, e eles com tais acentos<br />

estão complicando tudo. Não quero, não quero e não quero.<br />

Quindim interveio.<br />

— Você tem razão, <strong>Emília</strong>. A tendência natural duma língua é<br />

para a simplificação, por causa <strong>da</strong> grande lei do me<strong>no</strong>r esforço. Se a<br />

gente pode fazer-se perfeitamente entendi<strong>da</strong> dizendo, por exemplo,<br />

"tísica", por que dizer "phthisica" como <strong>no</strong>s tempos <strong>da</strong> ortografia<br />

etimológica? A forma "tísica" entrou na língua por efeito <strong>da</strong> lei do me<strong>no</strong>r<br />

esforço. Mas a tal acentuação inútil vem contrariar essa lei. Em vez de<br />

simplificar, complica. Em vez de exigir me<strong>no</strong>r esforço, exige maior<br />

esforço. Logo, é um absurdo.<br />

— Mas é obrigatório hoje escrever-se assim, com dez mil<br />

acentos — observou Pedrinho.<br />

Quindim não concordou.<br />

— Est modus in rebus — disse ele. — A língua é uma criação<br />

popular na qual ninguém man<strong>da</strong>. Quem a orienta é o uso e só ele. E o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!