Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
-— Pois vá, e interesse-se pelo meu caso, que não perderá o<br />
tempo — disse <strong>Emília</strong>. — Mando-lhe lá do sítio uns bolinhos de Tia<br />
Nastácia, que são excelentes.<br />
O venerando Verbo Ser ouviu o guar<strong>da</strong> e estranhou o pedido de<br />
entrevista; mas como tivesse muito medo <strong>da</strong> imprensa, não pôde<br />
recusar-se a receber aquela repórter.<br />
<strong>Emília</strong> foi leva<strong>da</strong> à presença dele e entrou muito tesa, com um<br />
bloquinho de papel debaixo do braço e um lápis sem ponta atrás <strong>da</strong><br />
orelha. O venerando ancião estava sentado num tro<strong>no</strong>, tendo em redor<br />
de si os seus sessenta e oito filhos — ou Pessoas dos seus Modos e<br />
Tempos. Parecia um velho de mil a<strong>no</strong>s, com aquela cabeleira branca de<br />
Papai Noel.<br />
— Salve, Serência! — exclamou <strong>Emília</strong>, curvando-se diante<br />
dele, com os braços espichados, à mo<strong>da</strong> do Oriente. — O que me traz à<br />
vossa augusta presença é o desejo de bem servir aos milhares de<br />
leitores do Grito do Pica-Pau Amarelo, o jornal de maior tiragem do sítio<br />
de Dona Benta. Os coitados estão ansiosos por conhecer as idéias de<br />
Vossa Serência sobre mil coisas.<br />
— Suba, menina! — respondeu o Verbo Ser com voz trêmula.<br />
<strong>Emília</strong> subiu os degraus do tro<strong>no</strong>, abrindo caminho a<br />
cotovela<strong>da</strong>s por entre a sol<strong>da</strong>desca atônita, e foi postar-se bem defronte<br />
do venerável ancião.<br />
— Fale, Serência, enquanto eu tomo <strong>no</strong>tas — disse ela, e<br />
começou a fazer ponta <strong>no</strong> lápis com os dentes.<br />
O Verbo Ser tossiu o pigarro dos séculos e começou:<br />
— Eu sou o Verbo dos Verbos, porque sou o que faz tudo<br />
quanto existe ser. Se você existe, bonequinha, é por minha causa. Se eu<br />
não existisse, como poderia você existir ou ser?<br />
falando.<br />
— Está claro — disse <strong>Emília</strong> escrevendo uns garranchos. — Vá<br />
Ser tossiu outro pigarro e continuou:<br />
— Muitos gramáticos me chamam VERBO SUBSTANTIVO, como<br />
quem diz que eu sou a substância de todos os demais Verbos. E isso é