XVIII Gente de fora — Pois é isso, menina<strong>da</strong>! — disse logo depois a velha. — Vocês já sabem como se formam as palavras <strong>da</strong> língua. Grande número veio diretamente do latim. Foi o começo, a primeira plantação. Depois começaram a reproduzir-se lá entre elas, ou a derivar-se umas <strong>da</strong>s outras. Depois houve muita entra<strong>da</strong> de palavras exóticas, isto é, procedentes de países estrangeiros. Depois houve invenção de neologismos — e desses vários modos a língua foi crescendo. Aqui na ci<strong>da</strong>de <strong>no</strong>va as palavras vin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de velha misturaram-se com inúmeras de origem local, ou palavras índias, que já existiam nas terras do Brasil quando os portugueses as descobriram. A maior parte dos <strong>no</strong>mes de ci<strong>da</strong>des, rios e montanhas do Brasil são de origem índia, como Tremembé, Itu, Niterói, Itatiaia, Goiás, Piauí, Pirambóia, etc. Ita é uma palavra <strong>da</strong> língua tupi que quer dizer Pedra, e tem servido de Prefixo para a formação de muitos Nomes. Temos em São Paulo a ci<strong>da</strong>dezinha de Itápolis, forma<strong>da</strong> de Ita, que é indígena, e Polis
(ci<strong>da</strong>de), que é grega. Pira (peixe) é outra palavra tupi muito usa<strong>da</strong>. Piracicaba, Piraquara, Guapira. — Eu gosto muito <strong>da</strong>s palavras tupis e lamento que o Brasil não tenha um <strong>no</strong>me tirado dessa língua — disse Pedrinho. — Em compensação muitos Estados do Brasil possuem <strong>no</strong>mes indígenas, como Pará (rio grande), Pernambuco (quebra-mar), Paraná (rio e<strong>no</strong>rme), Paraíba (rio ruivo), Maranhão (mar grande) e outros. O tupi conseguiu encaixar na língua portuguesa grande número de palavras de uso diário, como Taba, Moranga, Jaguar, Araçá, Jabuticabal, Capim, Carioca, Marimbondo, Pipoca, Pereba, Cuia, Jararaca, Urutu, Tipiti, Embira, etc. — E também muitos Nomes Próprios — advertiu Narizinho. — Conheço meninas chama<strong>da</strong>s Araci, Iracema, Lindóia, Inaiá, Jandira. . . — E eu conheço um meni<strong>no</strong> chamado Ubirajara Guaporé de Itapuã Guaratinguaçu, filho dum turco que mora perto do sítio do Tio Barnabé -— lembrou Pedrinho. — Pois é isso — continuou a velha. — To<strong>da</strong>s as línguas vão <strong>da</strong>ndo palavras para a língua desta ci<strong>da</strong>de. O grego deu muitas. O hebraico deu várias, como Messias, Rabi<strong>no</strong>, Satanás, Maná, Aleluia. O árabe deu, entre outras, Alfândega, Alambique, Alface, Alfaiate, Alqueire, Álcool, Algarismo, Arroba, Armazém, Fatia, Macio, Matraca, Xarope, Cifra, Zero, Assassi<strong>no</strong>. A língua francesa deu boa quanti<strong>da</strong>de, como Paletó, Boné, Jornal, Bandido, Tambor, Ven<strong>da</strong>val, Comboio, Conhaque, Champanha. A língua espanhola deu me<strong>no</strong>s do que devia <strong>da</strong>r. Citarei Fan<strong>da</strong>ngo, Frente, Muchacho, Castanhola, Trecho, Savana. A língua italiana deu muito mais. Ágio, Bancarrota, Bússola, Gôndola, Cantata, Cascata, Charlatão, Macarrão, Te<strong>no</strong>r, Pia<strong>no</strong>, Violi<strong>no</strong>, Carnaval, Gazeta, Soneto, Ópera, Fiasco e Polenta são palavras italianas. O inglês está <strong>da</strong>ndo muitas agora. Das antigas posso citar Cheque, Clube, Tilburi, Trole, Esporte, Rosbife, Sanduíche; e entre as
- Page 1 and 2:
EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA http
- Page 3 and 4:
CÍRCULO DO LIVRO S.A. São Paulo,
- Page 5 and 6:
I Uma idéia da Senhora Emília Don
- Page 7 and 8:
Parece que andam voando por aqui mi
- Page 9 and 10:
explique-nos que cidades são aquel
- Page 11 and 12:
-— Es-drú-xu-las! — repetiu Em
- Page 13 and 14:
cidade e passam a morar aqui, até
- Page 15 and 16:
— São palavras da Gíria, criada
- Page 17 and 18:
otar num soneto este pobre Galicism
- Page 19 and 20:
III Gente importante e gente pobre
- Page 21 and 22:
homens exigem dele bastante serviç
- Page 23 and 24:
desses dois Nomes quando passam per
- Page 25 and 26:
IV Em pleno mar dos Substantivos Ha
- Page 27 and 28:
Ladra. — E qual o feminino de Rab
- Page 29 and 30:
esquisita, que vem latindo. Senhora
- Page 31 and 32:
dizendo que os livros são o pão d
- Page 33 and 34:
— Não burrifique tanto, Emília!
- Page 35 and 36:
está incubando uma idéia. — O S
- Page 37 and 38: Pronome Eu. — Aqui na nossa cidad
- Page 39 and 40: os homens e todas as mulheres que e
- Page 41 and 42: mora lá? VII Artigos e Numerais
- Page 43 and 44: VIII No acampamento dos Verbos —
- Page 45 and 46: novo de pau para substituir o que a
- Page 47 and 48: Depois desfilou o MODO SUBJUNTIVO,
- Page 49 and 50: queimou, seja mato, lenha ou carvã
- Page 51 and 52: -— Pois vá, e interesse-se pelo
- Page 53 and 54: humanas. — Mas também morrem —
- Page 55 and 56: X A tribo dos Advérbios — O cami
- Page 57 and 58: Nada. Na sétima viu os Advérbios
- Page 59 and 60: XI As Preposições — Gosto dos A
- Page 61 and 62: XII ficava ao lado. Entre as Conjun
- Page 63 and 64: XIII A Casa da Gritaria — Que bar
- Page 65 and 66: — Dona Benta é viúva. Vá, que
- Page 67 and 68: apareceu sem mais nem menos? — Pe
- Page 69 and 70: céu; e vendo que era o rinoceronte
- Page 71 and 72: XV Uma nova Interjeição Houve um
- Page 73 and 74: — E os ignorantes de hoje continu
- Page 75 and 76: constituem verdadeiros rabinhos, qu
- Page 77 and 78: XVI Emília forma palavras — Pois
- Page 79 and 80: palavra nova, que quer dizer muitas
- Page 81 and 82: de qualquer planta. Que velha sabid
- Page 83 and 84: dá azeitonas e a que dá Sobrenome
- Page 85 and 86: meio de Sufixos e Prefixos. Já fal
- Page 87: Nariz pequeno é narizinho. . . —
- Page 91 and 92: Mas isso é curteza de vistas. Esse
- Page 93 and 94: — Irra! — berrou a boneca. —
- Page 95 and 96: — Quer dizer — indagou Narizinh
- Page 97 and 98: — Pois é isso, meus meninos. Sou
- Page 99 and 100: — E os Pronomes Oblíquos, que é
- Page 101 and 102: — Este aqui — disse, indicando
- Page 103 and 104: XXI Os Vícios de Linguagem Logo de
- Page 105 and 106: — Este é o CACÓFATO, que faz mu
- Page 107 and 108: — Este é o PROVINCIANISMO, que f
- Page 109 and 110: XXII As Orações ao ar livre Foram
- Page 111 and 112: E, para exemplificar, gritou na dir
- Page 113 and 114: XXIII Exame e Pontuação Depois de
- Page 115 and 116: mais Vírgulas! Parecem bacilos do
- Page 117 and 118: XXIV E o Visconde? Tornava-se preci
- Page 119 and 120: Emília entrou em cena. Agarrou um
- Page 121 and 122: Como fosse ali o bairro ortográfic
- Page 123 and 124: — Pois a senhora precisa trabalha
- Page 125 and 126: Introduziram-se na língua outros A
- Page 127 and 128: XXVI Emília ataca o reduto etimol
- Page 129 and 130: Emília que nem pôde abrir a boca
- Page 131 and 132: Alfabeto. Avise todos os KK que o t
- Page 133 and 134: Suma-se. — E eu como fico? — mu
- Page 135 and 136: Depois da tremenda revolução orto
- Page 137 and 138: XXVII Epílogo Quando Emília volto
- Page 139 and 140:
O AUTOR E SUA OBRA A elegante benga
- Page 141 and 142:
OBRA INFANTO-JUVENIL DE MONTEIRO LO