Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Emília no País da Gramática - MiniWeb Educação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
— E os ig<strong>no</strong>rantes de hoje continuam a mexer nela — observou<br />
Narizinho. — A gente <strong>da</strong> roça diz Espeio.<br />
— Muito bem lembrado — concordou a velha. — Essa forma<br />
Espeio é hoje repeli<strong>da</strong> com horror pelos cultos moder<strong>no</strong>s, como a forma<br />
Espelho devia ter sido repeli<strong>da</strong> com horror pelos cultos de <strong>da</strong>ntes. Mas<br />
como os cultos de hoje aceitam como certo o que já foi erro, bem pode<br />
ser que os cultos do futuro aceitem como certo o erro de hoje. Eu, que<br />
sou muito velha e tenho visto muita coisa, de na<strong>da</strong> me admiro. O<br />
homem é um animal comodista. Daí a sua tendência a adotar os erros<br />
que exigem me<strong>no</strong>r esforço para a pronúncia. Espelho exige me<strong>no</strong>r<br />
esforço do que Speculum, e por isso venceu. Espeio exige me<strong>no</strong>r esforço<br />
do que Espelho. Quem <strong>no</strong>s diz que não acabará vencendo nestes mil ou<br />
dois mil a<strong>no</strong>s?<br />
Hoje está mais difícil a ação dos ig<strong>no</strong>rantes sobre a língua, por<br />
causa do grande número de livros e jornais que existem e fixam a forma<br />
atual <strong>da</strong>s palavras. Mas antigamente quem fazia a língua era<br />
justamente o ig<strong>no</strong>rante.<br />
Dona Etimologia tomou fôlego e bebeu um golinho de chá.<br />
<strong>Emília</strong> foi cheirar a xícara para saber se era chá-<strong>da</strong>-índia ou de erva-<br />
cidreira. . .<br />
— Mas qual a sua principal ocupação nesta ci<strong>da</strong>de, minha<br />
senhora? — perguntou o meni<strong>no</strong>.<br />
— Eu ensi<strong>no</strong> a origem e a formação de to<strong>da</strong>s as palavras.<br />
— Pois então <strong>no</strong>s conte a origem de algumas.<br />
Dona Etimologia bebeu mais um golinho de chá (enquanto<br />
<strong>Emília</strong> cochichava para Narizinho: "É de cidreira!") e começou:<br />
— As palavras desta ci<strong>da</strong>de <strong>no</strong>va, onde estamos, vieram quase<br />
to<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de velha, que fica do outro lado do mar. Lá na ci<strong>da</strong>de<br />
velha, porém, essas palavras levaram uns dois mil a<strong>no</strong>s para se<br />
formarem.<br />
— Como foi isso? Explique.<br />
— Nos começos, as terras em redor dessa ci<strong>da</strong>de haviam sido<br />
ocupa<strong>da</strong>s pelos sol<strong>da</strong>dos roma<strong>no</strong>s, que só falavam latim.