Anais do I Congresso de Bioetica e Bem-Estar Animal - Unoesc
Anais do I Congresso de Bioetica e Bem-Estar Animal - Unoesc
Anais do I Congresso de Bioetica e Bem-Estar Animal - Unoesc
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
90<br />
<strong>Anais</strong> <strong>do</strong> I <strong>Congresso</strong> Brasileiro <strong>de</strong> Bioética e <strong>Bem</strong>-<strong>Estar</strong> <strong>Animal</strong> e<br />
I Seminário Nacional <strong>de</strong> Biossegurança e Biotecnologia <strong>Animal</strong><br />
produzir resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejáveis, quanto em seus aspectos morais, isto é, até que ponto ou<br />
em que situações <strong>de</strong>ve-se aceitar certos procedimentos, especialmente àqueles que tem<br />
capacida<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> afetar o bem-estar <strong>do</strong>s animais. A afirmação <strong>de</strong> que o uso <strong>de</strong><br />
animais no ensino é fundamental para que a experimentação animal continue existin<strong>do</strong><br />
não confere legitimida<strong>de</strong> moral nem a um nem a outro, apenas estabelece a lógica relação<br />
entre ambas as práticas.<br />
III<br />
O terceiro argumento menciona<strong>do</strong> acima como sen<strong>do</strong> o da facilitação <strong>de</strong> interação<br />
com os seres vivos po<strong>de</strong> ser percebi<strong>do</strong> na expressão <strong>de</strong> Greenwald ( 985), quan<strong>do</strong> critica<br />
os méto<strong>do</strong>s alternativos com base em que eles “não expõe o estudante a trabalhar com seres<br />
vivos e não permite que ele ganhe experiência em interagir com sistemas complexos como<br />
os seres vivos”. Tal argumento à primeira vista, coloca uma questão com a qual po<strong>de</strong>mos<br />
concordar, no entanto, o que se <strong>de</strong>ve questionar é qual o tipo <strong>de</strong> interação que tem se<br />
estabeleci<strong>do</strong> nesse tipo <strong>de</strong> aula e que tipo <strong>de</strong> interação se almeja alcançar com os animais.<br />
Pergunta-se, então: qual a forma <strong>de</strong> interação que se <strong>de</strong>senvolve numa sala <strong>de</strong><br />
aula, on<strong>de</strong> o animal é conti<strong>do</strong>, manipula<strong>do</strong> e invadi<strong>do</strong>? O que significa nesse caso,<br />
“trabalhar com seres vivos” se o que se valoriza nessa situações são partes <strong>do</strong>s animais,<br />
trabalhadas como peças <strong>de</strong> uma engrenagem? Será que a experiência mais esperada é que<br />
aqui o aluno reforce uma visão tradicional da “natureza-objeto” versus “homem sujeito” ?<br />
Certamente que tais alunos, submeti<strong>do</strong>s a essa forma <strong>de</strong> ensino, não ganharão experiência<br />
<strong>de</strong> interagir com sistemas complexos, pois estiveram sempre trabalhan<strong>do</strong> com a redução<br />
da complexida<strong>de</strong> que se dá nos laboratórios, quan<strong>do</strong> os animais são manipula<strong>do</strong>s, como<br />
se não fossem seres sencientes.<br />
IV<br />
Para diversos professores a gran<strong>de</strong> vantagem da experiência prática é que o<br />
conhecimento adquiri<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa forma os alunos “jamais” esquecem, o que não ocorre com<br />
imagens ou textos. Atualmente, sabe-se que estímulos emocionais facilitam a formação<br />
<strong>de</strong> memórias explícitas (HAMANN, 200 ), isto é, cenas chocantes, <strong>de</strong>sagradáveis, assim<br />
como aquelas que gostamos muito ten<strong>de</strong>m a ficar mais retidas na memória. De fato, sabemos<br />
por experiência própria que essas cenas não são esquecidas facilmente, especialmente<br />
aquelas que foram para alguns alunos, as mais chocantes, as mais <strong>de</strong>sagradáveis e, por<br />
isso, marcantes durante seu curso. Isso não revela que tenha ocorri<strong>do</strong> uma aprendizagem<br />
significativa, ou seja, embora se lembre da cena, é possível que o aluno não saiba<br />
explicar realmente o que ocorreu naquela situação em termos que seriam os <strong>de</strong>sejáveis<br />
para configurar uma aprendizagem. Sabe-se também que a indução <strong>de</strong> humor negativo<br />
piora a performance se o indivíduo tiver que realizar uma tarefa difícil enquanto o humor<br />
positivo melhora a performance (GENDOLLA & KRÜSKEN, 2001). Isso significa que<br />
um esta<strong>do</strong> emocional negativo po<strong>de</strong> dificultar mecanismos cognitivos mais complexos,<br />
isto é, atrapalhar uma aprendizagem significativa. Como gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s alunos sentemse<br />
<strong>de</strong>sconfortáveis e até mesmo choca<strong>do</strong>s com essas aulas, po<strong>de</strong>-se concluir que o que<br />
ocorre <strong>de</strong> fato é apenas uma memorização visual e não uma aprendizagem significativa,<br />
em muitas <strong>de</strong>ssas situações.<br />
Sistema CFMV/CRMVs - Comissão <strong>de</strong> Ética, Bioética e <strong>Bem</strong>-<strong>Estar</strong> <strong>Animal</strong> e Comissão <strong>de</strong> Biotecnologia e Biossegurança