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Untitled - Centro de Artes Universidade Federal de Pelotas

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Dramaturgia <strong>de</strong> Série <strong>de</strong> Animação<br />

Assim é possível consi<strong>de</strong>rar que a produção cultural em série <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> tanto dos elementos<br />

invariáveis quanto dos variáveis. Os elementos invariáveis (fixos) funcionam não apenas<br />

estabelecendo uma continuida<strong>de</strong> com as expectativas e conhecimentos do público, mas,<br />

principalmente, como reiteração das partes estruturais dos códigos do sistema <strong>de</strong> uma série.<br />

Assim, por exemplo, ao assistir a um episódio <strong>de</strong> uma sitcom, o espectador já espera das<br />

personagens <strong>de</strong>terminadas reações, e o roteirista irá interagir com essa <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> forma a<br />

atendê-la ou frustrá-la, <strong>de</strong> acordo com as reações que queira causar. Já os elementos variáveis<br />

têm a função <strong>de</strong> palimpsesto, isto é, <strong>de</strong> introduzir novas peripécias e informações a partir <strong>de</strong><br />

uma estrutura previamente existente. Po<strong>de</strong>mos, portanto, comparar este modo <strong>de</strong> produção à<br />

própria dinâmica da vida cotidiana, que ao se renovar, também se mantém atada às estruturas<br />

cumulativas prévias.<br />

Esse novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> produção altera, obviamente, toda a ca<strong>de</strong>ia da produção cultural. Sob a<br />

perspectiva da criação, a própria noção <strong>de</strong> autoria passa a ser questionada, visto que muitas vezes<br />

o processo criativo em si é resultado direto <strong>de</strong> colaborações diversas em diferentes estágios <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do produto. A própria serialida<strong>de</strong> implica, muitas vezes, um “autor no gerúndio”,<br />

isto é, um autor <strong>de</strong> uma obra aberta, que se apresenta em constante estágio <strong>de</strong> criação. Em outras<br />

palavras, o autor <strong>de</strong> uma obra seriada tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construí-la em movimento, uma espécie<br />

<strong>de</strong> work in progress sujeito às interferências diretas <strong>de</strong> seu público.<br />

Quanto à recepção <strong>de</strong> produtos culturais, é preciso pensar que a serialida<strong>de</strong> estabelece<br />

novos critérios <strong>de</strong> apreciação da obra. Inicialmente <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar sua apresentação<br />

como fragmentação <strong>de</strong> um sintagma, <strong>de</strong> um fluxo contínuo maior, seja o episódio, muitas<br />

vezes separado em partes pelos breaks comerciais, seja a própria série, constituída em sua<br />

totalida<strong>de</strong> pela soma <strong>de</strong> seus episódios exibidos separadamente.<br />

À experiência <strong>de</strong> mediação do público, a partir <strong>de</strong> seu próprio repertório, somase<br />

a uma nova experiência que a mensagem seriada é capaz <strong>de</strong> produzir, <strong>de</strong>scontínua e<br />

fragmentariamente, baseada na intertextualida<strong>de</strong>. A esse receptor atribui-se o papel <strong>de</strong><br />

interator capaz <strong>de</strong> reorganizar elementos (objetivos e subjetivos) preexistentes e proporcionar<br />

novas (re)leituras <strong>de</strong>sse mesmo sintagma. Tais leituras só conseguem ser apreendidas em sua<br />

totalida<strong>de</strong> por aqueles que compartilharem a estrutura dos códigos do sistema <strong>de</strong> serialida<strong>de</strong><br />

que se apresenta. Neste caso, as séries passam a funcionar com uma espécie <strong>de</strong> arquitexto, <strong>de</strong><br />

uma enciclopédia na qual, por meio <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> aprendizagem, o próprio espectador<br />

estabelece o seu conceito <strong>de</strong> serialida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> compreensão, interpretação<br />

e <strong>de</strong> diferentes estratégias <strong>de</strong> leitura.<br />

Para Lorenzo Vilches (1984), <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta estrutura seriada da produção cultural, as séries<br />

<strong>de</strong> televisão se apresentam como um caso à parte. Para o pensador espanhol, há três fatores<br />

principais que interferem diretamente em sua produção: a estrutura produtiva, a estrutura<br />

narrativa e as expectativas dos <strong>de</strong>stinatários. A estrutura produtiva representa como as<br />

rotinas dos aparatos envolvidos interferem sobre o produto. Diz respeito, portanto, aos níveis<br />

e formas <strong>de</strong> autonomia técnica e criativa que o autor e o realizador da série possuem. A<br />

estrutura narrativa, por sua vez, diz respeito à maneira como a serialida<strong>de</strong> será efetivamente<br />

apresentada ao público, como veremos melhor mais adiante. Por fim, a expectativa do público<br />

é um fator que engloba aspectos sociológicos, midiáticos, psicológicos e que aborda suas<br />

relações intertextuais, permitindo integrar as partes distintas <strong>de</strong> uma série com seu todo.<br />

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