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Numa revolução social nas favelas do Rio ... - Comunità Italiana

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Grupo Keystone<br />

atualidade<br />

A desconfiança<br />

paira no ar<br />

Crise brasileira no sistema de controle de vôos reduz quantidade de viagens aéreas, tanto as de negócios como as<br />

de turismo, afetan<strong>do</strong> o caixa e a rotina <strong>nas</strong> empresas, especialmente as atuantes no merca<strong>do</strong> de comércio exterior<br />

O<br />

vai-e-vem de acusações<br />

mútuas entre setores <strong>do</strong><br />

governo, companhias aéreas,<br />

fabricantes de aviões<br />

e passageiros – sobre o acidente<br />

com o avião da tAM em<br />

julho, no Aeroporto de Congonhas<br />

em São Paulo, em que morreram<br />

199 pessoas – abriu mais<br />

ainda a ferida já exposta da crise<br />

no sistema aéreo brasileiro. A<br />

amplitude desta pode ser medida<br />

por seus efeitos no cenário internacional.<br />

O Ministério das Relações<br />

Exteriores da Itália divulgou<br />

um alerta aos turistas sobre a situação<br />

de risco nos vôos para o<br />

brasil. Notícias <strong>do</strong> gênero correm<br />

o mun<strong>do</strong> e têm desperta<strong>do</strong> a desconfiança<br />

de empresários estrangeiros<br />

<strong>do</strong> setor.<br />

A revista italiana Panorama<br />

publicou, logo após o acidente,<br />

uma série de reportagens especiais<br />

sobre a crise aérea brasileira. Na<br />

edição eletrônica de 26 de julho,<br />

uma ex-funcionária da tAM junto<br />

à Agência <strong>Italiana</strong> para Segurança<br />

de Vôos (ANSV) denunciou<br />

que “os <strong>do</strong>is aviões MD-11 da tAM<br />

colocam em risco os passageiros<br />

da linha Milão-São Paulo-Milão”.<br />

Funcionários da companhia na<br />

Itália, ainda que no anonimato,<br />

reiteraram as denúncias sobre as<br />

condições de manutenção das aeronaves<br />

da empresa. A ANSV não<br />

quis comentar o caso.<br />

A diretora da Promos brasil,<br />

agência especial da Câmara de<br />

Comércio de Milão para o desenvolvimento<br />

de atividades internacionais,<br />

Patrícia Orrico, acredita<br />

que a imagem <strong>do</strong> brasil no<br />

exterior esteja muito prejudicada<br />

pela repercussão da crise no espaço<br />

aéreo.<br />

— Com este acidente, somamse<br />

fatos recentes que certamente<br />

criam uma imagem negativa para<br />

o país — afirma a diretora <strong>do</strong><br />

órgão italiano, para quem os mal<br />

impressiona<strong>do</strong>s são, principalmente,<br />

os europeus, que costumam<br />

primar por conceitos como<br />

segurança e apoio ao cidadão.<br />

Para Patrícia, o próprio processo<br />

de desmantelamento da<br />

Varig, com os cancelamentos <strong>do</strong>s<br />

vôos diretos para a Itália, era<br />

já sinal evidente de crise. Desde<br />

junho de 2006, quan<strong>do</strong> a Varig<br />

– após mais de um ano em<br />

processo de recuperação judicial<br />

e pouco antes da sua venda em<br />

leilão para a ex-subsidiária VARI-<br />

GLog – deixou de operar a maior<br />

parte <strong>do</strong>s seus vôos nacionais e<br />

internacionais, a única companhia<br />

aérea que operava vôos diretos<br />

e diários entre a Itália e o<br />

brasil era a Alitalia.<br />

Em março deste ano, a tAM<br />

inaugurou a sua rota Milão-São<br />

Paulo. A empresa se tornou então<br />

a única brasileira a realizar esse<br />

trajeto, na expectativa de absorver<br />

parte da demanda de merca<strong>do</strong><br />

entre os <strong>do</strong>is países. Mas Patrícia,<br />

experiente na organização<br />

de missões de empresários italianos<br />

no brasil, tem observa<strong>do</strong> que<br />

a maioria destes tem opta<strong>do</strong> por<br />

vir ao brasil por meio de companhias<br />

européias. Para eles, tratase<br />

de uma possível conseqüência<br />

<strong>do</strong> problema que abate as empre-<br />

al i n E bUa E s E ValqUíria rEy<br />

sas aéreas brasileiras. Enquanto<br />

isso, a Alitalia não tem consegui<strong>do</strong><br />

suprir essa demanda. Diante<br />

disso, passageiros têm escolhi<strong>do</strong><br />

empresas como a alemã Lufthansa<br />

ou a portuguesa tAP, mesmo<br />

sen<strong>do</strong> obriga<strong>do</strong>s a realizar escalas<br />

em outras capitais européias,<br />

como Munique ou Lisboa.<br />

O diretor-geral da Alitalia brasil,<br />

Alessandro Amadeo, garante<br />

que a empresa de bandeira italiana<br />

não foi afetada pela crise <strong>do</strong>s aeroportos<br />

brasileiros, a qual considera<br />

“conseqüência das reestruturações<br />

das atuais infra-estruturas aeroportuárias,<br />

cujo desenvolvimento<br />

não permitiu a devida gestão em<br />

relação ao aumento da demanda<br />

gerada pelo grande crescimento da<br />

indústria aérea brasileira”.<br />

Mudança de hábitos<br />

O eco internacional da crise aérea<br />

brasileira tem afeta<strong>do</strong> diretamente<br />

a rotina e o bolso <strong>do</strong>s empresários<br />

<strong>do</strong> ramo de comércio exterior.<br />

Manten<strong>do</strong> representações e<br />

parcerias com empresas italia<strong>nas</strong><br />

“Com este acidente,<br />

somam-se fatos recentes<br />

que certamente criam uma<br />

imagem negativa para o país”,<br />

Patrícia Or r i c O,<br />

d i r e t O r a d a Pr O m O s Br a s i l<br />

da área de equipamentos para a<br />

indústria alimentícia, Vincenzo<br />

Florio, estabeleci<strong>do</strong> em São Paulo<br />

há quase meio século, decidiu<br />

restringir ao máximo as viagens<br />

de avião em suas empresas, numa<br />

medida com reflexo direto no volume<br />

de seus negócios.<br />

— Qualquer dificuldade para<br />

o intercâmbio sempre afeta<br />

os negócios — afirma Florio, ao<br />

lembrar que a desordem tem provoca<strong>do</strong><br />

desconfiança no exterior.<br />

— Hoje as notícias chegam<br />

rapidamente, recebo telefonemas<br />

da família na Itália perguntan<strong>do</strong><br />

o que está acontecen<strong>do</strong>, os estrangeiros<br />

estão pon<strong>do</strong> em dúvida<br />

a capacidade <strong>do</strong> brasil em<br />

manter um espaço aéreo seguro<br />

— complementa.<br />

De acor<strong>do</strong> com Florio, além<br />

<strong>do</strong> risco que representam, outro<br />

motivo para o corte seria o fato<br />

de não se poder mais confiar no<br />

avião como garantia de pontualidade<br />

<strong>nas</strong> reuniões de negócios.<br />

também o representante de<br />

marcas italia<strong>nas</strong> no brasil Enrico<br />

Vezzani, presidente da Vomm<br />

brasil, tem evita<strong>do</strong> as viagens de<br />

avião em suas empresas, “geran<strong>do</strong><br />

economia tanto de dinheiro quanto<br />

de tempo”. Segun<strong>do</strong> o empresário,<br />

o acidente foi o motivo concreto<br />

para a decisão, tomada nos<br />

últimos meses devi<strong>do</strong> à desorganização<br />

<strong>do</strong> sistema aérea brasileiro.<br />

Vezanni ainda lamenta o fim<br />

da Varig e conta que, desde o fechamento<br />

da tradicional companhia<br />

brasileira, tem voa<strong>do</strong> ape<strong>nas</strong><br />

com as empresas européias.<br />

Única a realizar vôos diretos brasil-Itália,<br />

a tAM não passa ao representante<br />

comercial, segun<strong>do</strong><br />

ele, “segurança pela comparação<br />

com a tradição das outras”.<br />

Ele acredita que, em médio<br />

prazo, a crise possa prejudicar<br />

mais o turismo <strong>do</strong> que os negócios<br />

em geral.<br />

— O negócio reage e se orienta<br />

de uma nova forma, enquanto<br />

o turismo não, se não tem vôos,<br />

não se viaja para o Nordeste.<br />

As empresas vão se adaptan<strong>do</strong><br />

a essa nova realidade e vão<br />

fazer negócios de qualquer jeito<br />

— ressalta, citan<strong>do</strong> o exemplo<br />

da Vomm brasil, onde viagens de<br />

avião tornaram-se raras, sen<strong>do</strong><br />

substituídas por reuniões virtuais,<br />

pela Internet, com os parceiros<br />

da empresa em Roma e com<br />

os seus representantes e clientes<br />

em to<strong>do</strong> o brasil.<br />

Reviravolta em Brasília<br />

O caos aéreo que se instalou no<br />

país desde o acidente com a avião<br />

da Gol, está servin<strong>do</strong> de mais novo<br />

palco de disputa política entre<br />

governo e oposição no Congresso<br />

Nacional, onde funcionam duas<br />

Comissões Parlamentares de Inquérito<br />

(CPIs): no Sena<strong>do</strong> e na Câmara<br />

<strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s. Além disso, a<br />

crise provocou a queda de um <strong>do</strong>s<br />

amigos <strong>do</strong> presidente Lula, o exministro<br />

da Defesa Waldir Pires.<br />

O novo ministro, Nelson Jobim,<br />

que foi ministro da Justiça<br />

no governo de Fernan<strong>do</strong> Henrique<br />

Car<strong>do</strong>so, chegou para colocar<br />

ordem na casa. Apesar da carta<br />

branca dada por Lula, nos corre<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> Congresso, muito políticos<br />

analisam que a missão de Jobim<br />

é ingrata, pois é um político<br />

de expressão e poderá ser o próximo<br />

candidato a Presidência da<br />

República pelo PMDb em 2010.<br />

Isso prejudicará o projeto político<br />

<strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res,<br />

que deve lançar candidato.<br />

Ce<strong>nas</strong> polêmicas<br />

A divulgação, ao vivo na televisão,<br />

<strong>do</strong>s últimos diálogos entre<br />

os pilotos <strong>do</strong> avião da tAM, além<br />

da condecoração <strong>do</strong> presidente<br />

da Agência Nacional de Aviação<br />

Civil (Anac), Milton Zuanazzi,<br />

indignaram o presidente da Associazione<br />

Arma Aeronáutica <strong>Italiana</strong>,<br />

seção São Paulo, Lorenzo<br />

Volpe e seu vice, Enrico Vezzani.<br />

Esses, entre outros fatores, acabaram<br />

por motivar os <strong>do</strong>is a escreverem<br />

uma carta à imprensa<br />

com o título “tragédia em Congonhas:<br />

Deboche e Condecoração”,<br />

onde mostram a insatisfação<br />

diante da postura de alguns<br />

membros <strong>do</strong> governo brasileiro<br />

nos dias que se seguiram ao<br />

maior acidente aéreo da história<br />

da aviação no brasil.<br />

— Foi um espetáculo político<br />

feito ape<strong>nas</strong> para mostrar que<br />

não era a pista, e sim, erro <strong>do</strong><br />

piloto — opina Vezzani, acrescentan<strong>do</strong><br />

que os deputa<strong>do</strong>s promoveram<br />

“a banalização de um<br />

tema de extrema complexidade”.<br />

— Este foi mais um episódio<br />

que comprova o despreparo, onde<br />

a morte não é levada a sério<br />

— acrescenta.<br />

Em relação à homenagem a<br />

Zuanazzi, eles consideram o caso<br />

“mais grave” , visto que a cerimônia<br />

poderia ter si<strong>do</strong> cancelada.<br />

Eles reprovaram também o caso<br />

Aline Buaes<br />

de “autoridades dentro <strong>do</strong> Palácio<br />

<strong>do</strong> Planalto festejan<strong>do</strong>, com<br />

gestos vulgares, uma reportagem<br />

da televisão sobre uma possível<br />

falha mecânica <strong>do</strong> avião”. A carta<br />

se referiu, especificamente nesse<br />

trecho, à cena, filmada clandestinamente,<br />

em que aparece o assessor<br />

especial da Presidência da<br />

República, Marco Aurélio Garcia,<br />

em aparente comemoração de<br />

notícia no Jornal Nacional<br />

sobre as possíveis<br />

causas <strong>do</strong> acidente.<br />

— Foi um ato de tamanho<br />

absur<strong>do</strong> e degradação<br />

vin<strong>do</strong> de um político,<br />

enquanto ainda se procuravam<br />

corpos nos escombros <strong>do</strong><br />

prédio da tAM — sentencia<br />

Vezzani explica que, por<br />

motivos como estes, “é proibida<br />

por determinação de<br />

uma convenção internacional”<br />

a abertura <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s secretos<br />

da caixa-preta <strong>do</strong>s aviões, para<br />

evitar que se “quebre uma lógica<br />

complicada ligada à segurança<br />

de vôo”.<br />

O vice-presidente da associação<br />

citou como exemplo de<br />

um “excesso ao contrário”, o<br />

caso <strong>do</strong> acidente da Ilha<br />

de Ustica, ocorri<strong>do</strong> em<br />

1980, quan<strong>do</strong> um avião<br />

da companhia aérea italiana<br />

Itavia caiu misteriosamente<br />

no mar matan<strong>do</strong> 81 pessoas.<br />

Vezzani considera que, naquele<br />

caso, ocorreu “um exagero para<br />

preservar a imagem” da Aeronáutica<br />

italiana, pois, nunca<br />

foram reveladas as informações<br />

da caixa-preta, o que, até hoje,<br />

suscita inúmeras polêmicas e interpretações<br />

conspiratórias para<br />

o caso.<br />

“O negócio reage<br />

e se orienta de<br />

uma nova forma,<br />

enquanto o<br />

turismo não, se<br />

não tem vôos,<br />

não se viaja para<br />

o Nordeste. As<br />

empresas vão<br />

se adaptan<strong>do</strong><br />

a essa nova<br />

realidade e vão<br />

fazer negócios de<br />

qualquer jeito”,<br />

en r i c O Ve z z a n i,<br />

Presidente d a VO m m Br a s i l<br />

16 C o m u n i t à i t a l i a n a / ag o s t o 2007<br />

a g o s t o 2007 / Co m u n i t à i t a l i a n a 17<br />

Linda DuBose

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