Numa revolução social nas favelas do Rio ... - Comunità Italiana
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entrevista<br />
A redescoberta<br />
<strong>do</strong> Novo Mun<strong>do</strong><br />
Embaixa<strong>do</strong>r da União Européia (UE) no Brasil, o português João José Soares Pacheco, é um entusiasta<br />
<strong>do</strong> momento político e econômico <strong>do</strong> Brasil, que ele vê como uma das nações mais importantes entre<br />
as emergentes, um lugar onde, segun<strong>do</strong> ele, a Europa está disposta a investir mais <strong>do</strong> que nunca. Em<br />
entrevista exclusiva a <strong>Comunità</strong>, em Brasília, João Pacheco revela a quantas andam as negociações<br />
comerciais entre o Velho Mun<strong>do</strong>, Brasil e Mercosul. Diz que aposta numa evolução ainda mais ágil<br />
nesse intercâmbio com a conclusão da Rodada de Doha [negociações no âmbito da Ordem Mundial<br />
de Comércio (OMC) para redução de barreiras comerciais no mun<strong>do</strong>]. Pacheco demonstra estar atento<br />
também ao que ocorre ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil. Vê com bons olhos a entrada da Venezuela no Mercosul,<br />
embora admita se manter em compasso de espera enquanto aguarda o detalhamento das condições em<br />
torno desse ingresso. Defende ainda a legitimidade da medida boliviana de se apoderar de seus recursos<br />
naturais, mas adverte que tal procedimento pode, sim, afugentar investi<strong>do</strong>res estrangeiros.<br />
Fábio li n o<br />
Divulgação<br />
<strong>Comunità</strong> <strong>Italiana</strong> – Como<br />
o Brasil se insere no seio<br />
da UE?<br />
João Pacheco – Os investimentos<br />
diretos da União<br />
Européia no brasil [mais de 80<br />
bilhões de euros] são superiores<br />
à soma de investimentos diretos<br />
nos outros países bRIC, ou seja,<br />
na Rússia, na índia e na China,<br />
o que é muito importante. Para<br />
nós, o brasil é uma das nações<br />
mais importantes entre os países<br />
emergentes. Nós temos uma<br />
história de relações que é muito<br />
longa, de séculos. E temos<br />
uma história de investimentos<br />
no brasil que para muitas companhias<br />
é centenária. Não é algo<br />
que aconteceu agora, mas há<br />
muitos anos.<br />
CI – Um <strong>do</strong>s objetivos de Portugal<br />
à frente da UE é fazer com que esta<br />
olhe mais para a América Latina,<br />
por intermédio <strong>do</strong> Brasil. A<br />
região estava esquecida? Como<br />
seria esse novo olhar?<br />
JP – Eu não acho justo dizer que<br />
a UE esqueceu a América Latina.<br />
Há um esforço de aproximação.<br />
temos realiza<strong>do</strong> cimeiras com a<br />
região a cada <strong>do</strong>is anos. A última<br />
foi em Viena e vamos ter no<br />
próximo ano uma em Lima (Peru).<br />
Agora, acho que a parceria<br />
estratégica com o brasil vai reforçar<br />
o interesse da Europa na<br />
América <strong>do</strong> Sul e o interesse <strong>do</strong><br />
brasil pela Europa.<br />
CI – O Brasil era o único <strong>do</strong>s países<br />
BRIC que não tinha parceria<br />
estratégica com a UE. A proposta<br />
partiu de Portugal. O que a UE espera<br />
dela?<br />
JP – Nós achamos que é uma iniciativa<br />
que só peca por ter vin<strong>do</strong><br />
agora. Porque, como disse antes,<br />
só não tinha uma parceria estratégica<br />
com o brasil. Reconhecemos<br />
agora que o brasil tem uma<br />
influência cada vez maior no mun<strong>do</strong>,<br />
além da que tem na região.<br />
Nós, europeus, queremos ter uma<br />
boa relação como os países que<br />
tenham a maior influência na sua<br />
região e que tenham mais a dizer<br />
ao mun<strong>do</strong>. Isso ajuda a construir<br />
um mun<strong>do</strong> mais equilibra<strong>do</strong>,<br />
mais multipolar. Além disso, vai<br />
nos trazer uma maior colaboração<br />
em to<strong>do</strong>s os assuntos mundiais.<br />
Por exemplo, a questão das mudanças<br />
climáticas. Um <strong>do</strong>s temas<br />
centrais da nossa parceria estratégica<br />
é ver o que nós podemos<br />
fazer em comum <strong>nas</strong> Nações Unidas<br />
para ir além <strong>do</strong> protocolo de<br />
Kyoto. também <strong>nas</strong> Nações Unidas<br />
devemos trabalhar de forma<br />
mais estreita na Comissão <strong>do</strong>s Direitos<br />
Humanos, na Comissão para<br />
a Paz. Vamos explorar toda cooperação<br />
possível porque temos<br />
valores muito próximos. Vamos<br />
fazer mais <strong>do</strong> que temos agora.<br />
CI – Nos termos da parceria há<br />
uma questão energética. Como<br />
será esse trabalho?<br />
JP – Nós queremos incorporar<br />
mais biocombustível na gasolina<br />
e no óleo diesel na Europa. O<br />
brasil é o líder na produção desse<br />
tipo de produto, sobretu<strong>do</strong> o<br />
etanol. Já temos um memoran<strong>do</strong><br />
de entendimento que já foi assina<strong>do</strong><br />
em bruxelas, durante a visita<br />
<strong>do</strong> presidente Lula de julho.<br />
Devemos desenvolver a cooperação<br />
para explorar novas gerações<br />
de biocombustíveis em outros<br />
países, provavelmente na áfrica,<br />
aproveitan<strong>do</strong> a técnica <strong>do</strong> brasil.<br />
Além disso, vamos desenvolver<br />
nossa parceria no meio da pesqui-<br />
sa, ciência e tecnologia. Aliás, em<br />
setembro, teremos reuniões para<br />
lançar essa parceria com o brasil,<br />
que é, fora <strong>do</strong> G8, o país que mais<br />
produz em termos científicos. Nós<br />
temos interesse em desenvolver<br />
pesquisa e desenvolvimento, não<br />
só na área de energia renovável,<br />
mas em todas as áreas, transporte<br />
marítimo, educação...<br />
CI – Como está a cooperação<br />
nessas questões?<br />
JP – Há duas grandes áreas de<br />
cooperação em educação. Uma<br />
envolve a oferta de bolsas para<br />
estudantes brasileiros de mestra<strong>do</strong><br />
e de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> na Europa.<br />
Nos últimos cinco anos, mais de<br />
2.500 estudantes ganharam bolsas.<br />
Nós queremos <strong>do</strong>brar esse<br />
número. Na outra área, queremos<br />
criar institutos de estu<strong>do</strong>s europeus.<br />
Vamos procurar universidades<br />
que desenvolvem atividades<br />
em relações internacionais para<br />
que invistam em estu<strong>do</strong>s europeus.<br />
temos recursos financeiros<br />
e discutiremos com o governo<br />
brasileiro e entidades universitárias.<br />
Creio que podemos criar<br />
cinco ou seis centros de estu<strong>do</strong>s<br />
europeus aqui no brasil. O que já<br />
é uma boa atuação. temos ainda<br />
rede de cooperação entre universidades<br />
que queremos continuar.<br />
CI – E no setor de transportes?<br />
JP – Nós assinamos um memoran<strong>do</strong><br />
de entendimento com o brasil<br />
sobre transporte marítimo. A idéia<br />
é saber como melhorar ligações<br />
marítimas, sobretu<strong>do</strong> para transporte<br />
de merca<strong>do</strong>rias. Nós achamos<br />
que o brasil tem interesse de<br />
ter mais oferta marítima de transporte<br />
de carga porque isso baixa<br />
o custo da exportação <strong>do</strong> produto<br />
brasileiro, principalmente para<br />
a Europa. E para as nossas empresas<br />
de transportes marítimos<br />
é interessante ter mais negócio.<br />
também estamos ven<strong>do</strong> a possibilidade<br />
de ajuda para melhorar<br />
os portos brasileiros, como dragagens,<br />
e a navegação fluvial. Neste<br />
quesito, inclusive, temos bastante<br />
competência e condição de ajudar<br />
o brasil, e estamos no começo de<br />
um bom diálogo. O país tem grande<br />
potencial de navegação fluvial<br />
que não é aproveita<strong>do</strong>. Na Europa<br />
nós temos uma navegação dinâmica,<br />
competência e interesse de<br />
ter uma parceria com o brasil.<br />
CI – A Europa tem interesse em<br />
investir <strong>nas</strong> obras <strong>do</strong> Programa<br />
de Aceleração <strong>do</strong> Crescimento<br />
(PAC)?<br />
JP – Cada empresa européia está<br />
ven<strong>do</strong> como pode contribuir para<br />
o PAC. É uma área interessante.<br />
Nós também temos interesse <strong>nas</strong><br />
Parcerias Público Priva<strong>do</strong> (PPP) e<br />
de ajudar <strong>nas</strong> agências regula<strong>do</strong>ras.<br />
Ou seja, temos que ter um<br />
clima de segurança que favoreça<br />
os investimentos.<br />
“Eu não acho<br />
justo dizer que<br />
a UE esqueceu a<br />
América Latina.<br />
Há um esforço<br />
de aproximação.<br />
Temos realiza<strong>do</strong><br />
cimeiras com<br />
América <strong>do</strong> Sul<br />
e Caribe a cada<br />
<strong>do</strong>is anos”<br />
CI – O senhor falou em segurança<br />
para os investimentos. O<br />
Mercosul está com a proposta<br />
de inclusão de países que estão<br />
passan<strong>do</strong> com grandes problemas<br />
internos, como a Venezuela.<br />
O senhor acredita que esse fator<br />
pode diminuir os investimentos<br />
europeus na região?<br />
JP – A nossa posição é favorável<br />
à integração regional. E, portanto,<br />
nós vemos com bons olhos o<br />
ingresso da Venezuela ao Mercosul.<br />
É mais um parceiro, importante.<br />
É algo que em principio é<br />
positivo. Agora, precisamos ter<br />
mais clareza sobre as condições<br />
estabelecidas para este ingresso.<br />
O processo de integração da Venezuela<br />
no Mercosul foi feito de<br />
forma contrária aos processos de<br />
alargamento na União Européia.<br />
Lá, os países se candidatam e<br />
têm que negociar uma série de<br />
questões. Aqui foi diferente, mas<br />
essas situações não devem ser<br />
necessariamente iguais. Estamos<br />
confiantes de que a entrada da<br />
Venezuela não vai colocar em<br />
xeque as boas relações que temos<br />
com o Mercosul, e estamos<br />
atentos às negociações.<br />
CI – Como a UE vê os governos latinos<br />
de esquerda?<br />
JP – Na Europa tem governos de<br />
esquerda, de centro e de direi-<br />
28 C o m u n i t à i t a l i a n a / ag o s t o 2007<br />
a g o s t o 2007 / Co m u n i t à i t a l i a n a 29