Numa revolução social nas favelas do Rio ... - Comunità Italiana
Numa revolução social nas favelas do Rio ... - Comunità Italiana
Numa revolução social nas favelas do Rio ... - Comunità Italiana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
capa<br />
Confiança e amizade<br />
Há <strong>do</strong>is anos, a agrônoma Paola<br />
Gaggini, de 40, deixou a Itália<br />
para assumir a coordenação<br />
de cursos profissionalizantes no<br />
Morro <strong>do</strong>s Cabritos. Do brasil, conhecia<br />
pouco.<br />
— Sabia das <strong>favelas</strong> e da desigualdade<br />
<strong>social</strong> — conta Paola,<br />
que veio para o brasil a convite<br />
da Associação de Voluntários para<br />
o Serviço Internacional (Avsi),<br />
ONG voltada para o desenvolvimento<br />
de 40 países.<br />
Quinze jovens foram inseri<strong>do</strong>s<br />
no merca<strong>do</strong> de trabalho em<br />
2006 pela Avsi, quase metade <strong>do</strong><br />
total de alunos.<br />
— Constatei que a comunidade<br />
vivia num contexto muito fecha<strong>do</strong>,<br />
sem perspectivas. Os jovens<br />
aqui no morro têm toda a capacidade<br />
<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Mas não sabem<br />
lidar com ela. Infelizmente, nem<br />
to<strong>do</strong>s levam adiante a idéia de ganhar<br />
um emprego — declara.<br />
Para Paola, o problema pode<br />
estar numa carência de relações<br />
huma<strong>nas</strong>.<br />
— Com a amizade, eles criam<br />
mais comprometimento. É preciso<br />
cativá-los — conclui.<br />
Ensinan<strong>do</strong> e<br />
aprenden<strong>do</strong> a lutar<br />
Há 14 anos, a italiana Nadia Maria<br />
Rocha barbazza, de 39, decidiu<br />
se mudar da Suíça para o<br />
brasil – mais precisamente para<br />
o Morro <strong>do</strong> borel, na tijuca, Zona<br />
Norte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong>. Missionária <strong>do</strong> movimento<br />
cristão Jovens com uma<br />
Missão (Jocum), ela logo aprendeu<br />
que havia entra<strong>do</strong> “em um<br />
mun<strong>do</strong> dentro de outro mun<strong>do</strong>”.<br />
— O cotidiano é sofri<strong>do</strong> na<br />
favela, mas a visão de fora é<br />
limitada. Eu mesma tive que<br />
aprender a ver as coisas boas que<br />
existem no morro — revela.<br />
“A luta contra a violência<br />
não é responsabilidade<br />
ape<strong>nas</strong> das forças de<br />
segurança, mas da<br />
sociedade como um to<strong>do</strong>.<br />
O combate ao crime<br />
passa pelo resgate <strong>social</strong>”<br />
José Mariano Beltrame,<br />
secretário estadual de<br />
Segurança Pública<br />
No Morro <strong>do</strong>s Cabritos, Paola<br />
cria oportunidades de futuro<br />
profissional para os jovens. A<br />
missionária Nadia mora no Morro<br />
<strong>do</strong> Borel, na Tijuca, onde mantém<br />
creche para 400 crianças<br />
Nadia se casou com um companheiro<br />
da Jocum, o carioca Pedro<br />
Rocha Júnior, de 43, ex-opera<strong>do</strong>r<br />
da bolsa de Valores. Os <strong>do</strong>is<br />
filhos <strong>do</strong> casal <strong>nas</strong>ceram e vivem<br />
na favela:<br />
— Fiquei mais forte aqui,<br />
mais segura de que luto porque<br />
sei que é possível mudar a história<br />
— diz Nadia, que mantém<br />
no morro uma creche para 400<br />
crianças, ambulatório e ofici<strong>nas</strong><br />
de música e artes, entre outras.<br />
O objetivo de tu<strong>do</strong> isso: convencer<br />
pessoas a acreditar em si<br />
mesmas.<br />
— A pior pobreza é a que<br />
existe na cabeça, que leva alguém<br />
a achar que o governo ou<br />
outra pessoa tem de salvá-la.<br />
O nosso trabalho é promover a<br />
auto-estima. O resulta<strong>do</strong> disso<br />
representa muito em prevenção<br />
— analisa.<br />
Nadia lembra de con-<br />
quistas que dão senti<strong>do</strong> à<br />
vida na favela:<br />
— Conheci meninos<br />
que mal comiam uma re-<br />
Fotos: Bruno de Lima<br />
— Abbiamo stretto amicizia.<br />
Loro sanno che possono contare<br />
su di noi — afferma Gherar<strong>do</strong>, la<br />
cui figlia di sette anni abita in Europa<br />
e, durante le vacanze, gioca<br />
con i figli più giovani di Márcia.<br />
Alan è determinato:<br />
— Non posso perdere la speranza<br />
di andare avanti. Mi sono<br />
svegliato e ho visto che quella<br />
vita non valeva la pena. L’altro<br />
giorno ho visto un amico nel morro<br />
tutto trasandato, con i capelli<br />
lunghi, sporco, scalzo e mi ha raccontato<br />
che è quasi morto in una<br />
sparatoria. Penso che la sua famiglia<br />
non abbia più speranze.<br />
Fiducia e amicizia<br />
Due anni fa, l’agronoma Paola<br />
Gaggini, 40, ha lasciato l’Italia<br />
per assumere il coordinamento di<br />
corsi professionalizzanti nel Morro<br />
<strong>do</strong>s Cabritos. Del Brasile sapeva<br />
poco.<br />
— Sapevo delle <strong>favelas</strong> e della<br />
disuguaglianza <strong>social</strong>e — racconta<br />
Paola, venuta in Brasile su<br />
invito dell’Associação de Voluntários<br />
para o Serviço Internacional<br />
(Avsi), ONG rivolta allo sviluppo<br />
di 40 paesi.<br />
Quindici giovani sono stati inseriti<br />
nel mercato del lavoro nel<br />
2006 dall’Avsi, quasi la metà del<br />
totale degli alunni.<br />
— Ho constatato che la comunità<br />
viveva in un contesto molto<br />
chiuso, senza prospettive. I giovani<br />
qui nel morro hanno capacità<br />
complete. Ma non le sanno sfruttare.<br />
Purtroppo non tutti portano<br />
avanti l’idea di ottenere un impiego<br />
— dichiara. Secon<strong>do</strong> Paola,<br />
il problema potrebbe risiedere in<br />
una carenza di relazioni umane.<br />
— Con l’amicizia, loro creano<br />
più impegno. Bisogna accattivarli<br />
— conclude.<br />
Insegnan<strong>do</strong> e<br />
imparan<strong>do</strong> a lottare<br />
Quattordici anni fa, l’italiana Nadia<br />
Maria Rocha Barbazza, 39, ha<br />
deciso di trasferirsi dalla Svizzera<br />
in Brasile — più precisamente<br />
nel Morro <strong>do</strong> Borel, a Tijuca, zona<br />
nord di <strong>Rio</strong>.<br />
Missionaria del movimento<br />
cristiano Jovens com uma Missão<br />
(Jocum), ha subito capito che era<br />
entrata “in un mon<strong>do</strong> dentro un<br />
altro mon<strong>do</strong>”.<br />
— Il quotidiano nella favela è<br />
sofferto, ma la visione da fuori è<br />
limitata. Io stessa ho <strong>do</strong>vuto imparare<br />
a vedere le cose buone che<br />
ci sono nel morro — rivela.<br />
Nadia si è sposata con un collega<br />
della Jocum, il carioca Pedro<br />
Rocha Júnior, 43, ex operatore<br />
della Borsa di Valori. I due figli<br />
della coppia sono nati e vivono<br />
nella favela:<br />
— Sono diventata più forte<br />
qui, più sicura del fatto di lottare<br />
perché so che è possibile cambiare<br />
la storia — dice Nadia, che<br />
tiene nel morro un asilo ni<strong>do</strong> per<br />
400 bambini, un ambulatorio e<br />
officine di musica e arte, tra le altre<br />
attività.<br />
L’obiettivo di tutto questo:<br />
convincere le persone a credere in<br />
se stesse.<br />
feição por dia, com pais que bebiam<br />
e que batiam neles. Mas<br />
eles souberam cortar o rumo <strong>do</strong><br />
destino e aproveitaram as oportunidades.<br />
Num lugar onde o poder público<br />
é quase sinônimo de ação<br />
policial, ela confessa que a vida<br />
nem sempre é fácil.<br />
— Onde o poder público se<br />
mostra ausente, a lei (<strong>do</strong> poder<br />
paralelo) é dura. O convívio com<br />
a violência cotidiana é difícil —<br />
admite.<br />
Novata no front<br />
A advogada italiana Laura burocco,<br />
de 32, pensava em ficar no<br />
<strong>Rio</strong> por, no máximo, seis meses.<br />
Desde então, passaram-se três<br />
anos. Laura trabalha para a AR-<br />
CI, associação italiana de cultura<br />
e desenvolvimento. Envolveu-se<br />
até o pescoço em projetos culturais<br />
e de economia solidária, em<br />
mais de dez <strong>favelas</strong> da cidade e<br />
na baixada Fluminense.<br />
Recém-chegada ao <strong>Rio</strong>, cometia<br />
gafes ao transitar, sem noção<br />
das leis <strong>do</strong> tráfico, entre a<br />
favela e o asfalto.<br />
— Uma vez fui ao Morro Casa<br />
branca, na tijuca, toda vestida<br />
de vermelho. Precisei de escolta<br />
para sair em segurança da comunidade,<br />
<strong>do</strong>minada por uma facção<br />
<strong>do</strong> tráfico de drogas rival da<br />
que tem o vermelho como símbolo<br />
— lembra Laura, nem por isso<br />
intimidada em sua peregrinação<br />
pelo <strong>Rio</strong>.<br />
Intercâmbio e preconceito<br />
O líder comunitário Itamar Silva,<br />
da favela Santa Marta, de botafogo,<br />
esteve por mais de uma vez<br />
na Itália. <strong>Numa</strong> dessas, conheceu<br />
o presidente da Arci, Giampiero<br />
Rasimelli que, em visita à<br />
favela, em 2002, vibrou com as<br />
300 crianças da colônia de férias.<br />
Nasceu ali a parceria que viabiliza,<br />
to<strong>do</strong> ano, a visita ao morro<br />
de oito jovens italianos. Durante<br />
15 dias, eles se hospedam em casas<br />
de mora<strong>do</strong>res e trabalham na<br />
colônia como monitores.<br />
Itamar também já levou quatro<br />
jovens da favela para acampar<br />
<strong>nas</strong> montanhas de terni, na<br />
região da Umbria:<br />
— O melhor da viagem foi<br />
ver a arquitetura de peque<strong>nas</strong><br />
cidades medievais. Favelas muito<br />
chiques, ainda assim, <strong>favelas</strong>.<br />
Imaginei nossas <strong>favelas</strong> assim,<br />
urbanizadas, com qualidade de<br />
vida, lixo recolhi<strong>do</strong>, saneadas e<br />
charmosas.<br />
Ele reconhece que a relação<br />
com os estrangeiros nem sempre<br />
é tão afinada:<br />
— O intercâmbio favorece o<br />
encontro de soluções para ambas<br />
as partes, mas o preconceito, às<br />
vezes, atrapalha a comunicação.<br />
No Santa Marta, por exemplo,<br />
não aceitamos posturas paternalistas.<br />
Já houve quem achasse<br />
que deveríamos ser mais dóceis,<br />
discutir menos.<br />
Sobre esse sistema de intercâmbio<br />
– para o qual não conseguiu<br />
o patrocínio da viagem<br />
<strong>do</strong>s jovens da favela – Itamar<br />
adverte:<br />
— Não se trata de turismo,<br />
de visita ao zoológico, e, sim,<br />
da oportunidade de desconstruir<br />
mitos, como o de que to<strong>do</strong> pobre<br />
é violento ou de que sempre<br />
é solidário. Nada disso. Italianos<br />
podem financiar as viagens, os<br />
jovens da favela, não. Por isso,<br />
só fomos uma vez. Acham que<br />
pobre não tem que viajar. Mais<br />
fácil captar recursos para cursos<br />
de carpintaria.<br />
— La peggiore povertà<br />
è quella che esiste nelle<br />
menti, che porta uno a credere<br />
che il governo o un’altra<br />
persona debba salvarlo. Il<br />
nostro lavoro consiste nel promuovere<br />
l’autostima. Il risultato<br />
di ciò rappresenta molto in<br />
prevenzione — analizza.<br />
Nadia ricorda le conquiste<br />
che danno un senso alla vita nella<br />
favela:<br />
— Ho conosciuto bambini che<br />
a malapena facevano un pasto al<br />
giorno, con genitori che bevevano<br />
e li picchiavano. Ma loro hanno<br />
saputo dare un basta al destino<br />
e hanno sfruttato le opportunità.<br />
In un luogo <strong>do</strong>ve il potere pubblico<br />
è quasi sinonimo di azione poliziesca,<br />
confessa che la vita non<br />
è sempre facile.<br />
— Lad<strong>do</strong>ve il potere pubblico<br />
si dimostra assente, la legge (del<br />
potere parallelo) è dura. La convivenza<br />
con la violenza quotidiana<br />
è difficile — ammette.<br />
Alle prime armi sul front<br />
Laura Burocco, avvocato italiano,<br />
32, pensava di rimanere a <strong>Rio</strong><br />
Laura e Itamar: guerrilheiros da<br />
paz de origens diferentes, mas com<br />
o mesmo ideal. Abaixo, espaço de<br />
reuniões no Morro Dona Marta<br />
“O governo italiano<br />
instituiu incentivos<br />
fiscais em favor de<br />
entidades <strong>do</strong> Terceiro<br />
Setor, mas não se<br />
pode perder o foco<br />
<strong>nas</strong> necessidades das<br />
populações assistidas”<br />
Massimo Bellelli,<br />
cônsul geral da Itália<br />
per, al massimo, sei mesi. Da allora<br />
sono passati tre anni. Lavora<br />
per l’ARCI, associazione italiana<br />
di cultura e sviluppo. Si è coinvolta<br />
fino al collo in progetti culturali<br />
e di economia solidale in più<br />
di dieci <strong>favelas</strong> della città e della<br />
Baixada Fluminense.<br />
Appena arrivata a <strong>Rio</strong>, faceva<br />
gaffe allo spostarsi, non conoscen<strong>do</strong><br />
le leggi del traffico di droga,<br />
tra la favela e l’asfalto.<br />
— Una volta sono andata al<br />
Morro Casa Branca, nella Tijuca,<br />
tutta vestita di rosso. Ho avuto<br />
bisogno di una scorta per uscire<br />
salvaguardata dalla comunità,<br />
<strong>do</strong>minata da una fazione del narcotraffico<br />
rivale di quella che ha<br />
il rosso come simbolo — ricorda<br />
Laura, che malgra<strong>do</strong> questo nei<br />
suoi pellegrinaggi non si è lasciata<br />
intimidire.<br />
Interscambio e preconcetto<br />
Il leader comunitario Itamar Silva,<br />
della favela Santa Marta, a<br />
Botafogo, è stato più di una volta<br />
in Italia. Una delle volte ha<br />
conosciuto il presidente dell’Arci,<br />
Giampiero Rasimelli che, in<br />
visita alla favela nel 2002, ha vibrato<br />
per i 300 bambini in colonia.<br />
Lì è nata la partnership che<br />
rende possibile, tutti gli anni, la<br />
visita al morro di otto giovani<br />
italiani. Durante 15 giorni, vengono<br />
ospitati in abitazioni locali<br />
e lavorano nella colonia come<br />
assistenti.<br />
Itamar inoltre ha già portato<br />
quattro giovani della favela ad<br />
accampare nelle montagne di Terni,<br />
in Umbria:<br />
— Il meglio del viaggio è stato<br />
vedere l’architettura di piccole<br />
città medioevali. Favelas molto<br />
chic, ma comunque <strong>favelas</strong>.<br />
Ho immaginato le nostre <strong>favelas</strong><br />
così, urbanizzate, con qualità di<br />
vita, nettezza urbana, risanate e<br />
affascinanti.<br />
40 C o m u n i t à i t a l i a n a / ag o s t o 2007 a g o s t o 2007 / Co m u n i t à i t a l i a n a<br />
41