Comportamento O melhor das estórias do Didú “Há muito, muito tempo, Didú Russo vivia estórias e mais estórias. Lugares, situações, bebidas, aromas... Ficaram na sua memória. E um pouco aqui Na minha juventude, que foi outro dia, gostava demais da boemia. Isso era final da década de sessenta, e a minha bebida era o Pernod, que ainda vinha com 65º de álcool. O mundo andava ainda em voltas ao rock, mas de repente surgiu um movimento de valorização da nossa cultura, algo como está acontecendo agora com a cachaça. Surgiram os endereços de samba e os melhores de São Paulo eram no Bexiga: Catedral do Samba e Telecoteco na Paróquia. Num dia no Telecoteco cantava o Benito di Paula, mas o Didú estava com o quarto ou quinto copo long-drink de Pernod 65º em cima da mesa e cantando o grande sucesso do ano que era do Gilberto Gil... “Chô chuá, cada macaco no seu galho...” e eu lá em cima da mesa até conseguir que o Benito di Paula cantasse o sucesso. De repente, surge um cheirinho incrível e sedutor de churrasco! Puxa vida, que grande idéia, são duas da manhã e até agora não comi nada, um churrasquinho vai cair como uma luva... Bem, olho para a minha mão que fumaçava... Era o meu dedo médio e indicador que fumegavam com a brasa do meu charuto que tostava meus próprios dedos... E eu feliz e amortecido pelo Pernod olhava admirado para aquela cena... E Cho chuá cada macaco no seu galho... 0 ChAmpAgne... Há pessoas realmente muito felizes com a vida. Eu sou um desses caras. Achei o amor da minha vida, com quem estou há mais de 35 anos! Acreditem, ainda por cima quando nos conhecemos, além de jovens, levávamos uma vida de milionários. Verdadeiros milionários. Explico, trabalhávamos numa Secretaria de Estado, a dos Negócios da Cultura, do Esporte e do Turismo de São Paulo. E sabem quem era o Secretário? O incrível e elegante Pedro de Magalhães Padilha, meu falecido amigo e padrasto de outro já falecido grande amigo (como o tempo está passando...), Carlos Eduardo de Barros, o Cacá. Bem, o que isso tem a ver com uma coluna de vinhos e comportamento do <strong>Jornal</strong> <strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong>? Tem a ver, pois, imaginem, meus queridos leitores, a cena seguinte. Você tem 22 anos de idade, é “beatnik” e se transforma durante o dia de trabalho para ser “Oficial de Gabinete” de um Secretário de Estado e vai de terno, gravata e colete para o Palácio dos Campos Elíseos (turbinado por um pacau...) todos os dias. Ao final do dia você consegue o “seu momento” e convida a melhor das mulheres do Palácio e do Mundo, uma verdadeira capa de revista para sair... Onde? Roof do Hilton. O Roof tinha uma orquestra, mesas com visão panorâmica de São Paulo e pista de danças... Imaginem. “Garçom, por favor, uma garrafa de Laurent Perrier, e escargots. Obrigado”. Chegava o Champagne, brindávamos e levantávamos para dançar. No dia seguinte, o Secretário (hoje compreendo) curtia muito a minha juventude, gostava de mim realmente e foi um grande amigo. Me dizia pela manhã: “Didú? Como foi ontem?”, e eu contava a programação. Bem, parabéns. É isso aí. Me dê aqui a nota... hudson Meu avô teve um Hudson 1951. Procurei na internet e achei um igualzinho, na cor Bordeaux e conversível. Era coisa de milionário um carro desses! Saíamos para passear aos domingos lá pelas “matas do Tremembé”. O assento de trás parecia uma sala para mim, e o carro era todo automático. Dá para imaginar o que era isso? Os vidros e a capota baixavam pelo acionar de um simples botão. Eram cor creme os botões. E o cheiro então? Meu avô Licínio Granja, que usava ligas de meia, era homem muito fino e consumia uns produtos que nunca me saíram da memória olfativa. Creme de barba da Yardley, que vinha numa baciazinha de madeira, onde se passava o pincel de pelo de Marta... Brilhantina Lorigan de Coty e Água de Colônia Atkinsons. Esses aromas todos se misturavam ao couro do Hudson e ficaram para sempre em minha memória, como as luvas de seda da Mamãe quando voltava da Ópera tarde da noite com o Papai, e a gente esperava para ver se ganhava algum agrado. Bons tempos aqueles de bons aromas... mAis AromAs Ainda sobre a memória olfativa, lembro-me de que na minha infância e préadolescência os homens eram divididos entre os que usavam English Lavander Atkinsons e os que usavam Vetiver de Guerlain. Isso bem antes do Pino Silvestre e do Lancaster, que meu amigo Arnaldo Gasparian usa até hoje... Acho que curtir os aromas nos vinhos dão grande prazer, só não dão mais prazer que tomá-los, porque cheirar apenas não embriaga... Didú Russo Confraria dos Sommeliers didu@jornalvinhoecia.com.br <strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 48
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 48 Quantos bons negócios você já não fechou apreciando um bom vinho? A Abravinho tem revistas especializadas no mundo do vinho. São milhares de aficcionados pela arte, pela história e pela magia contida em cada garrafa. Um público altamente selecionado, com excelente poder aquisitivo e que entre uma safra e outra está atento à sua mensagem. Anuncie numa das revistas da Abravinho e ganhe muitos apreciadores para o seu produto ou serviço. 1