Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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comuns, mas diferenciadas. Ou seja, a responsabilidade é<br />
de todos, mas alguns têm que pagar mais pela degradação<br />
que promoveram.<br />
A declaração de Bush foi extremamente infeliz. Mas, em<br />
função da forte oposição que encontrou na comunidade<br />
internacional, principalmente da União Européia, o governo<br />
norte-americano começa a dar sinais de que recuará. Eu<br />
não acredito que Bush vá manter a decisão de não ratificar<br />
o Protocolo de Kioto. Pode até acontecer uma nova<br />
negociação, mas Washington não vai poder simplesmente<br />
passar por cima de tudo o que já foi discutido pelo mundo<br />
inteiro e ignorar o seu passado de emissões, que é muito<br />
<strong>maio</strong>r. Hoje, os Estados Unidos são responsáveis por 25%<br />
de todas as emissões de gás carbônico fóssil, tendo uma<br />
população de apenas 3 ou 4% de todo o planeta.<br />
S&E.A. – A que o sr. atribui a forte reação da Europa, já<br />
que seus países também se incluem entre os grandes<br />
poluidores da atmosfera?<br />
Haroldo – No caso da Europa, a sua firme posição contra<br />
os Estados Unidos se explica pelo fato de que seriam<br />
diretamente afetados pelas mudanças climáticas. Muita<br />
gente não sabe que o clima que existe hoje na Europa do<br />
Norte é relativamente ameno por causa da Corrente do<br />
Golfo, que passa pelo Caribe e depois sobe, levando calor<br />
àquela região. Se olharmos um mapa, veremos que, na<br />
mesma latitude, o Canadá é muito mais gelado.<br />
Os cientistas já descobriram, porém, que na última idade<br />
do gelo essa corrente não funcionava. Depois que a idade<br />
do gelo chegou ao fim, a corrente começou a funcionar de<br />
novo. Até hoje, eles não sabem qual é o “interruptor” que<br />
liga e desliga essa corrente. Mas, certamente, o<br />
aquecimento da Terra provocará mudanças nas correntes<br />
marinhas, porque o mar vai se aquecer também.<br />
O grande problema para a Europa é que, se houver um<br />
aquecimento de 4 ou 5 o C, como se está prevendo, o<br />
“interruptor” pode se desligar e essa corrente mudar de<br />
rumo, deixando o norte da Europa praticamente inabitável.<br />
S&E.A. – Organizações ecologistas têm visto com<br />
preocupação os efeitos que a entrada em vigor da Alca<br />
pode trazer ao continente. É possível promover uma<br />
abertura das relações comerciais e, ao mesmo tempo,<br />
manter os padrões de proteção ambiental?<br />
Haroldo – Quaisquer desses acordos de livre comércio –<br />
Alca, Nafta ou Mercosul – têm que levar em conta a<br />
questão ambiental. E, certamente, quem estiver mais<br />
avançado nesse campo, em termos de legislação e<br />
fiscalização, como é o caso do Brasil na América do Sul,<br />
vai levar vantagem.<br />
No caso específico do Tratado de Livre Comércio das<br />
Américas (Alca), podemos analisá-lo sob dois aspectos.<br />
Do ponto de vista puramente ambiental, ele pode até ser<br />
benéfico para o continente. Por quê? Porque quando o<br />
Nafta (o tratado de livre comércio entre Estados Unidos,<br />
Canadá e México) entrou em vigor, o México gradativamente<br />
teve de aumentar o nível das exigências<br />
ambientais da sua legislação, coisa que ele fez com a ajuda<br />
dos parceiros ricos.<br />
<strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong> <strong>10</strong> <strong>Senac</strong> e Educação Ambiental