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Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac

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improvisadas, falta de saneamento e de<br />

assistência à saúde. Um coquetel<br />

explosivo, ideal para a disseminação de<br />

doenças.<br />

Mortes inexplicadas<br />

Uma das doenças misteriosas atualmente<br />

estudadas pelos pesquisadores é<br />

a febre negra de Lábrea. O primeiro caso<br />

dessa forma atípica de hepatite, com caráter<br />

fulminante, foi registrado em 1963,<br />

em Lábrea, cidade amazonense na calha<br />

do rio Purus.<br />

Desde então, é difícil encontrar uma<br />

família que não tenha perdido alguém<br />

vítima da doença, que causa dor de<br />

barriga, febre alta, diarréia, sangramento<br />

e morte em apenas 48 horas. São casos<br />

que só agora estão fazendo parte das<br />

estatísticas oficiais e cuja causa mortis é<br />

ainda desconhecida.<br />

Outra morte que chamou a atenção<br />

dos pesquisadores ocorreu<br />

também na Amazônia. Em 1995,<br />

o segundo-tenente do Exército<br />

Alberto José da Silva Guimarães<br />

foi atacado por um vírus<br />

desconhecido, quando fazia um<br />

curso de sobrevivência na selva,<br />

no campo militar em Rio Preto<br />

da Eva, a 70 quilômetros de<br />

Manaus. Menos de 24 horas<br />

depois de passar mal, com febre<br />

alta, dores musculares e prostração,<br />

o oficial morreu de causa inexplicada.<br />

A morte do militar levou o Exército a<br />

unir-se à Fiocruz para combater o<br />

“inimigo invisível”: vírus e outros<br />

parasitas causadores de doenças<br />

emergentes, que infestam as florestas<br />

tropicais e podem ser mortais quando<br />

infectam seres humanos.<br />

No Centro de Instrução de Guerra na<br />

Selva, em Manaus, pesquisadores<br />

militares e civis trabalham em dois<br />

laboratórios (análises clínicas e epidemiologia<br />

molecular), e equipes do<br />

Exército e da Fiocruz montam um banco<br />

de fungos e de insetos responsáveis por<br />

um tipo especial de vírus, chamado<br />

arbovírus.<br />

Esse vírus vem sendo pesquisado<br />

também no Instituto Evandro Chagas, do<br />

Pará, que já identificou 190 arbovírus na<br />

Amazônia, dos quais 87 eram desconhecidos<br />

e 34 provocam doenças no<br />

homem.<br />

O surgimento de vírus desconhecidos<br />

não se restringe, porém, a longínquas<br />

áreas da floresta amazônica. Periferias<br />

dos centros urbanos também estão<br />

expostas a doenças emergentes. Em<br />

1999, um homem morreu em Espírito<br />

Santo do Pinhal (SP), sem apresentar<br />

qualquer resposta ao tratamento de seis<br />

dias. Só dois anos depois, pesquisadores<br />

do Instituto Adolfo Lutz<br />

conseguiram identificar a causa mortis:<br />

um vírus até então desconhecido,<br />

semelhante ao terrível Sabiá, que matou<br />

uma engenheira agrônoma em Cotia<br />

(SP), em 1990, e infectou três pesquisadores<br />

no Brasil e nos Estados Unidos.<br />

A pesquisadora Terezinha Lisieux, que<br />

desde 1972 trabalha no estudo de<br />

arbovírus, deve, com sua equipe,<br />

publicar na revista Virus, Reviews and<br />

Research, da Sociedade Brasileira de<br />

Virologia, os resultados do trabalho que<br />

levou ao isolamento desse vírus. Se for<br />

confirmado que é único no mundo, o<br />

vírus deverá, como de praxe, receber o<br />

nome do lugar de origem do paciente.<br />

Assim, além do Sabiá, do Flechal e do<br />

Amapari, teremos um novo vírus<br />

brasileiro: o Pinhal.<br />

Alerta mundial<br />

Desde que a epidemia da Aids varreu o<br />

mundo, a chegada aos grandes centros<br />

urbanos de um novo vírus, sem vacina<br />

e de difícil tratamento, proveniente de<br />

áreas de floresta, não é mais<br />

considerada fantasia ou alarmismo.<br />

A própria Organização Mundial de<br />

Saúde (OMS) já alertou que a<br />

incidência das doenças emergentes<br />

deve crescer nos próximos<br />

anos e que é preciso um eficiente<br />

sistema de vigilância sanitária,<br />

articulado mundialmente, para detêlas.<br />

O verdadeiro frisson vivido anos<br />

atrás com o surgimento do vírus Ebola<br />

na África e sua rápida chegada a países<br />

europeus demonstraram que o processo<br />

de globalização, a multiplicação<br />

e a <strong>maio</strong>r rapidez das conexões aéreas<br />

entre continentes não trazem impactos<br />

somente à economia, mas também à<br />

saúde.<br />

Apenas um indivíduo infectado que<br />

tome um avião e atravesse o mundo<br />

poderá disseminar, em questão de<br />

horas, uma epidemia desconhecida e até<br />

então não diagnosticada em determinada<br />

parte do mundo.<br />

Segundo a pesquisadora<br />

Cristina Possas, doutora<br />

<strong>Senac</strong> e Educação Ambiental 23 <strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong>

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