Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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Os professores índios trabalham com<br />
materiais feitos em conjunto com as<br />
ONGs, as universidades e as secretarias.<br />
Experimentais, os livros são,<br />
em sua <strong>maio</strong>ria, simples, em forma<br />
de apostilas ou com duas cores, ou<br />
em xerox. Os assessores (como são<br />
chamados os participantes de projetos<br />
para a educação indígena de<br />
ONGs e universidades) reúnem trabalhos<br />
dos professores índios ou dos<br />
alunos das escolas nas aldeias, e os<br />
formatam. Os livros são avaliados<br />
diversas vezes e são melhorados – a<br />
ilustração é um dado fundamental<br />
nesses materiais –, até ficarem<br />
prontos para edição. Hoje, existem<br />
editados mais de 300 livros de<br />
educação escolar indígena, cerca de<br />
80 publicados pela CPI do Acre,<br />
também pioneira na confecção<br />
desses livros (o MEC criou um<br />
programa de apoio à produção<br />
de material didático indígena).<br />
Os professores são em sua<br />
<strong>maio</strong>ria do sexo masculino, com<br />
idade entre 18 e 50 anos, adultos,<br />
com escolaridade variando do ensino<br />
fundamental incompleto ao magistério<br />
de nível médio, com ou sem<br />
a especialidade da educação intercultural<br />
e bilíngüe. “Não queremos ser<br />
médicos, advogados. Queremos ser<br />
katukina e aproveitar o governo e as<br />
entidades para fazer os projetos que<br />
decidimos aqui. A escola é para segurar<br />
os jovens nas comunidades”, diz<br />
o professor índio Benjamim Shere<br />
Katukina.<br />
“Os índios desejam estar preparados<br />
dentro de sua terra, com sua língua e<br />
sua cultura. A educação escolar<br />
indígena não é a preparação deles<br />
para a nossa sociedade, mas para o<br />
contato”, diz Nietta Lindenberg.<br />
O Brasil tem cerca de<br />
1.600 escolas indígenas,<br />
que atendem a 80 mil<br />
alunos.<br />
História em processo<br />
Hoje,<br />
existem<br />
mais de<br />
300 livros<br />
de<br />
educação<br />
escolar<br />
indígena.<br />
Foram quase 500 anos de política educacional<br />
equivocada. Do período colonial até a Constituição de<br />
1988, prevalecia na educação indígena praticada pelo Governo a idéia da<br />
integração e da homogeneização cultural como forma de dominação: a<br />
diversidade étnica seria eliminada com a incorporação dos índios à<br />
sociedade. Os índios eram vistos como um povo fadado à extinção.<br />
A mudança começou na metade da década de 70, quando foram criadas<br />
entidades de apoio aos povos indígenas. Os índios passam a integrar o<br />
movimento de reorganização da sociedade civil, ao final do regime de<br />
ditadura militar no Brasil, se opondo à educação integracionista praticada<br />
pelo governo.<br />
Na década de 80 nascem, então, os projetos alternativos de educação<br />
escolar indígena, realizados por ONGs, universidades, centros de pesquisa<br />
e entidades nacionais e internacionais de proteção aos direitos dos povos<br />
indígenas. As entidades civis ainda hoje são responsáveis pelas ações<br />
mais bem-sucedidas em relação à educação indígena – existem atualmente<br />
dez ONGs atuando no assunto.<br />
Em 1988, a Constituição Federal assegurou o direito dos índios a uma<br />
educação escolar diferenciada: nos artigos 2<strong>10</strong> e 215, o documento garante<br />
às comunidades indígenas o uso de suas línguas maternas e processos<br />
próprios de aprendizagem, determinando como obrigação do Governo<br />
proteger as manifestações de suas culturas. Em 1991, o Decreto n°26<br />
transferiu da Fundação Nacional do Índio (Funai) para o MEC a<br />
responsabilidade pela coordenação das ações referentes à educação<br />
escolar indígena, e atribuiu às Secretarias de Educação estaduais e<br />
municipais a execução dessas ações<br />
A Constituição de 1988 serviu de base para a atual Lei de Diretrizes e<br />
Bases da Educação Nacional (LDBEN), que em 1996 garantiu também aos<br />
indígenas, nos artigos 78 e 79, a oferta de educação escolar bilíngüe,<br />
intercultural, flexível. No final de 1998, o MEC publicou o Referencial<br />
Curricular Nacional para as Escolas Indígenas, elaborado em dois anos,<br />
com participação de cerca de 500 pessoas, entre índios e participantes dos<br />
programas de educação escolar indígena das entidades civis e do governo.<br />
Foto: J. R. Ripper<br />
<strong>Senac</strong> e Educação Ambiental 45 <strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong>