Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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Procópio<br />
Mineiro<br />
O racionamento de energia expõe a falta de planejamento por parte do<br />
governo e obriga a sociedade a exigir soluções que não tenham custos<br />
sociais ou impactos ambientais demasiado altos<br />
Desde o início de junho, a vida do<br />
brasileiro brilha menos. A ordem é<br />
economizar eletricidade. A meta mínima<br />
é baixar o consumo em 20%, para evitar<br />
que o programa de racionamento passe<br />
a incluir também a suspensão total do<br />
fornecimento por algumas horas, a cada<br />
dia. Os técnicos ainda não chegaram a<br />
um acordo: alguns acham que o<br />
chamado apagão será inevitável a partir<br />
de outubro e que um corte de quatro<br />
horas por dia seria o suficiente.<br />
Outros, porém, como o presidente da<br />
Agência Nacional de Petróleo (ANP) e<br />
integrante da Câmara de Gestão da Crise<br />
de Energia, David Zylbersztajn, calculam<br />
que o ideal seria um escuro total de oito<br />
horas diárias. Os meteorologistas trouxeram<br />
um pouco de alento, em meados<br />
de junho, anunciando a possibilidade de<br />
antecipação do período chuvoso para fins<br />
de outubro, o que permitiria a recuperação<br />
dos níveis de água nas barragens,<br />
suavizando o racionamento. Mas a previsão<br />
dos técnicos do Instituto Nacional<br />
de Meteorologia (Inmet), de que passaria<br />
a chover já em <strong>agosto</strong>, foi ridicularizada<br />
pelos especialistas do Instituto Nacional<br />
de Pesquisas Espaciais (Inpe).<br />
A Petrobrás, por sua vez, acredita que<br />
poderá fazer um esforço especial e<br />
inaugurar quatro usinas termelétricas até<br />
o fim do ano, o que aumentaria o suprimento<br />
energético do Sudeste, a região<br />
mais crítica, por concentrar quase metade<br />
da população nacional e a parte mais<br />
substancial da estrutura industrial do país.<br />
O plano de emergência do governo,<br />
segundo o ministro-chefe da Casa Civil ,<br />
Pedro Parente, gestor da crise energética,<br />
é chegar a 2003 com mais 19,6 mil MW,<br />
produção correspondente a uma usina e<br />
meia de Itaipu: 16,9 mil MW viriam da<br />
expansão da capacidade instalada<br />
nacional (<strong>10</strong> mil MW oriundos de termelétricas<br />
e os outros 6,9 mil de 20 hidrelétricas<br />
de pequeno e médio portes) e os<br />
demais 2,7 mil MW seriam importados.<br />
Nas primeiras semanas do racionamento,<br />
os brasileiros tinham dado um bom<br />
exemplo do empenho com que se<br />
lançaram à redução do consumo: o Nordeste<br />
já chegava aos 19% de economia,<br />
enquanto o Sudeste e o Centro-Oeste<br />
registravam 18,1%, a pouca distância da<br />
meta mínima.<br />
Sustos e esperanças à parte, a grande<br />
surpresa da crise de energia no país é<br />
que nada foi inesperado. Os sinais de<br />
perigo vinham de longe e os setores<br />
técnicos envolvidos com a política<br />
energética produziram seguidos alertas,<br />
indicando a regular baixa na quantidade<br />
de água estocada nas barragens do<br />
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.<br />
Pregavam no deserto, como se diz dos<br />
profetas que prevêem catástrofes,<br />
tornaram-se chatos e desagradáveis e,<br />
por isso, tiveram suas mensagens<br />
ignoradas. O próprio presidente da<br />
República, Fernando Henrique Cardoso,<br />
confessou ter sido surpreendido pela<br />
crise, pois seus auxiliares nunca lhe<br />
transmitiram a gravidade da situação. O<br />
ministro Pedro Parente confirmou a<br />
ignorância do Planalto quanto aos riscos<br />
iminentes no setor de geração elétrica.<br />
Não basta chover<br />
A redução do consumo significa<br />
necessidade menor de gerar energia e,<br />
portanto, utilização de menor quantidade<br />
de água para girar o sistema produtor de<br />
eletricidade nas hidrelétricas. Assim,<br />
sobra mais água nos lagos das usinas e<br />
tenta-se evitar a possibilidade de apagão,<br />
enquanto se espera que Deus prove mais<br />
uma vez ser brasileiro e abra as torneiras<br />
dos céus, de preferência com boa<br />
pontaria, para suprir as regiões certas.<br />
Contudo, os ambientalistas alertam para<br />
o fato de que não basta chover para que<br />
o problema seja resolvido, uma vez que<br />
<strong>Senac</strong> e Educação Ambiental 33 <strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong>