Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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lucro do setor agrícola, por sua<br />
necessidade de energia.<br />
Esse lobby foi responsável por uma das<br />
mais comentadas manobras dos<br />
Estados Unidos, que provocou o<br />
fracasso da Conferência sobre o Clima,<br />
em Haia, em novembro de 2000: a<br />
reinterpretação do Protocolo de Kioto<br />
para incluir as florestas nos<br />
mecanismos de “desenvolvimento<br />
limpo”. Em Haia, os negociadores<br />
europeus rejeitaram esse tratamento<br />
das florestas e se negaram a firmar<br />
qualquer resolução que refletisse um<br />
acordo em torno do tema.<br />
Europa em favor do<br />
acordo<br />
Como era de se esperar, o anúncio de<br />
Bush desencadeou uma verdadeira<br />
ofensiva diplomática. Em fins de abril,<br />
representantes de 44 países se<br />
reuniram de emergência na sede da<br />
Organização das Nações Unidas<br />
(ONU), em Nova Iorque, para tratar de<br />
encontrar uma solução para o problema,<br />
partindo do princípio de que o<br />
Protocolo de Kioto não é perfeito, nem<br />
resolve o problema do aquecimento<br />
global, mas que não existe outra<br />
alternativa fora desse acordo multilateral.<br />
Os desesperados esforços desses<br />
países para convencer a administração<br />
Bush e seus assessores a recuar da<br />
sua posição atual são fruto da convicção<br />
generalizada de que, sem os Estados<br />
Unidos, qualquer acordo sobre o<br />
combate ao aquecimento global<br />
deverá recomeçar do zero.<br />
Os países europeus admitem que a<br />
ausência dos Estados Unidos é um<br />
golpe muito duro nas expectativas<br />
expressas no Protocolo<br />
Política dos EUA<br />
têm levantado<br />
protestos em<br />
todo o<br />
mundo.<br />
de Kioto, mas<br />
manifestaram<br />
a disposição<br />
de continuar<br />
lutando pela<br />
implementação<br />
do acordo.<br />
O ministro holandês do<br />
Meio Ambiente, Jan Pronk,<br />
disse em Nova Iorque, ao<br />
fim de infrutíferas reuniões,<br />
que “o Protocolo de Kioto não está<br />
morto. Mesmo sem os Estados<br />
Unidos, poderemos salvá-lo, se 55<br />
países o ratificarem”. A diretora da Comissão<br />
de Meio Ambiente da União<br />
Européia, Margot Wallstrom, garantiu<br />
que “a UE se manterá fiel ao documento.<br />
Queremos vê-lo legalizado em<br />
2002. Estamos dispostos a conversar,<br />
mas não abandonaremos esta plataforma”.<br />
Um dos negociadores britânicos,<br />
o ex-ministro do Meio Ambiente,<br />
John Gummer, afirmou que<br />
“ninguém quer ir adiante sem os<br />
Estados Unidos, mas nós iremos, se<br />
for necessário”.<br />
A pergunta que se impõe é se o<br />
governo Bush, ao rejeitar definitivamente<br />
o Protocolo, não se oporá a<br />
qualquer esforço multilateral para a<br />
redução das emissões. Como assinalou<br />
o ministro alemão de Meio Ambiente,<br />
Jürgen Trittin: “Se eles (os<br />
Estados Unidos) não querem participar,<br />
esperamos que tolerem o processo<br />
e não coloquem obstáculos”.<br />
Em sua recente visita ao Brasil,<br />
o primeiro-ministro francês,<br />
Lionel Jospin, também<br />
não se furtou a<br />
criticar a atitude de<br />
Washington: “Estamos<br />
estupefatos e muito<br />
preocupados com a<br />
decisão norte-americana<br />
de não respeitar<br />
os compromissos relacionados ao Protocolo.<br />
A longo prazo, tudo isso pode<br />
ameaçar a sobrevivência do planeta.<br />
Trata-se, portanto, de uma obrigação<br />
absoluta, e os norte-americanos não<br />
podem deixar de cumprir seus<br />
compromissos a esse respeito.”<br />
Chantagem<br />
A delegação norte-americana assumiu<br />
o papel de vilão na reunião sobre o<br />
clima, realizada em julho, em Bonn,<br />
onde se recusou a ratificar o protocolo<br />
de Kioto (ver boxe).<br />
“É um jogo de chantagem. Soa forte<br />
dizer dessa forma, mas estão fazendo<br />
chantagem”, opinou o presidente do<br />
Fórum Brasileiro sobre Mudanças<br />
Climáticas, Fabio Feldman, para quem<br />
a posição do governo norte-americano<br />
é apenas uma manobra para ter uma<br />
margem <strong>maio</strong>r de negociação em<br />
Bonn. “É difícil entender esta posição<br />
do ponto de vista internacional, porque<br />
polariza o mundo contra os Estados<br />
Unidos. Sair de fato das negociações<br />
deixa o país completamente isolado e<br />
sujeito a pressões internas e externas,<br />
que o presidente Bush não tem<br />
condições de suportar por muito tempo,<br />
mesmo contando com o apoio do setor<br />
conservador da política norteamericana<br />
e de seus aliados no setor<br />
petrolífero”, acrescentou Feldman.<br />
As pressões estão vindo, de fato, de<br />
todos os lados. No início de <strong>maio</strong>, os<br />
Estados Unidos não conseguiram<br />
reeleger-se para uma das três vagas<br />
dos países ocidentais na Comissão dos<br />
Direitos Humanos da ONU, que<br />
ocupava desde a sua criação, em 1947.<br />
<strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong> 40 <strong>Senac</strong> e Educação Ambiental