Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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fundiária do Brasil. Segundo dados do<br />
IBGE, 50 mil propriedades rurais<br />
detêm, pelo menos, 20 milhões dos<br />
35 milhões de hectares existentes no<br />
estado.<br />
A destruição cultural<br />
O confinamento dos índios nas<br />
pequenas reservas contribui para<br />
descaracterizar suas culturas. Com<br />
apenas 1,5 hectare por pessoa, a<br />
produção das culturas alimentares<br />
típicas, como o milho (alimento<br />
sagrado), a mandioca, o arroz e o feijão<br />
foram afetadas. Conseqüentemente,<br />
muitos índios passaram a sair à procura<br />
de trabalho. Permanecendo fora de<br />
suas aldeias por longos períodos, os<br />
índios se viam obrigados a trabalhar<br />
como subempregados em usinas de<br />
cana-de-açúcar, em fazendas ou<br />
vendendo artesanato.<br />
Ao substituírem a economia de<br />
reciprocidade baseada na troca de<br />
alimentos e objetos pelo sistema de<br />
mercado do homem branco, os índios<br />
guaranis kaiowás passaram então a<br />
experimentar condições de vida<br />
miseráveis. Esse confronto cultural<br />
tem seu exemplo mais extremo no<br />
mercado agropecuário, onde os<br />
índios, famintos, sem terra e sem<br />
emprego, acabam aceitando trabalhar<br />
quase como escravos nas fazendas,<br />
como vaqueiros, para os mesmos que<br />
tomaram suas terras.<br />
Também são muitos os casos de<br />
prostituição. São alarmantes, ainda, os<br />
casos de tuberculose entre os índios,<br />
decorrentes da má qualidade da<br />
alimentação, com carência de açúcar,<br />
sal, óleo e carne.<br />
Segundo o líder indígena Amilton<br />
Lopes, uma outra ameaça às culturas<br />
indígenas tradicionais são as denominadas<br />
“religiões brancas”. Muitas,<br />
até hoje, insistem na catequese,<br />
como as diversas denominações<br />
protestantes que proliferam dentro<br />
das reservas indígenas. Para Amilton,<br />
o Deus dos índios é Tupã, “que ilumina<br />
a todos por igual e é mais democrático.<br />
O seu templo é o mundo”. Os índios<br />
e os alimentos são filhos da sagrada<br />
Mãe Terra, fecundada por Tupã.<br />
Já o índio e pastor Simão Lopes, que<br />
dirige os cultos pentecostais da Igreja<br />
Visão Missionária na reserva<br />
Amambai, no município de mesmo<br />
nome, acha que o grande mal dos<br />
índios é a bebida alcoólica. Lopes se<br />
refere aos pajés como feiticeiros ou<br />
macumbeiros. Ele diz receber mensagens<br />
divinas e exorciza seus fiéis,<br />
acreditando que a salvação dos índios<br />
está na conversão. Nos seus cultos,<br />
os índios choram muito, deitam-se no<br />
chão. A <strong>maio</strong>ria veste branco e responde<br />
constantemente: “Amém,<br />
amém, Jesus!”<br />
Os suicídios<br />
Justamente nas reservas indígenas<br />
oficiais, onde a terra é escassa, a<br />
cultura descaracterizada e onde atuam<br />
as seitas pentecostais é que ocorre o<br />
<strong>maio</strong>r número de suicídios, principalmente<br />
dos jovens kaiowás.<br />
Segundo o coordenador do CIMI<br />
(Conselho Indigenista Missionário)<br />
do Mato Grosso do Sul, o advogado<br />
Nereu Schneider, o índio se mata por<br />
desespero e não por gosto pela<br />
morte. A cultura indígena não vê o<br />
fim da vida como festa ou motivo de<br />
comemoração.<br />
Na realidade, existe um enorme<br />
conflito entre o que os índios sempre<br />
aprenderam dos mais velhos e a<br />
realidade em que vivem. Segundo<br />
Nereu, não existe outra alternativa:<br />
ou os territórios tradicionais guarani<br />
e kaiowá são retomados ou os índios<br />
continuarão a se suicidar.<br />
Segundo o guerreiro Arma de Gato,<br />
filho do cacique Marcos Verão, os<br />
índios não gostam de falar sobre<br />
suicídio. O guerreiro culpa os brancos<br />
por essas mortes: “O Governo é<br />
<strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong> 14 <strong>Senac</strong> e Educação Ambiental