Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac
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A crítica às termelétricas não se restringe,<br />
porém, aos impactos ambientais gerados:<br />
setores técnicos começam a advertir que<br />
a opção pela termeletricidade pode<br />
envolver uma irracionalidade com<br />
relação à produção industrial. O<br />
argumento fica bem claro se utilizarmos<br />
o exemplo de um chuveiro elétrico. Com<br />
a limitação do fornecimento da energia<br />
hidrelétrica, digamos que o cidadão<br />
decidiu suspender o uso do chuveiro<br />
elétrico, que lhe custava um determinado<br />
valor mensal. Com a entrada do<br />
fornecimento de uma termelétrica, ele<br />
volta a utilizar o chuveiro, mas pagando<br />
uma tarifa mais cara. A termelétrica, por<br />
seu lado, realizou a operação de queimar<br />
gás para criar eletricidade para o<br />
chuveiro.<br />
Os técnicos argumentam que esta é uma<br />
operação ilógica e encarecedora, pois<br />
sairia muito mais barato em tarifa e mais<br />
econômico em termos de consumo de<br />
gás se o próprio combustível fosse<br />
levado à casa do consumidor e<br />
queimasse diretamente no aquecedor do<br />
chuveiro, como aliás já ocorre em grande<br />
parte das metrópoles. Transposto o<br />
exemplo para a área da produção, a<br />
queima de gás numa termelétrica para<br />
gerar a energia cara que será fornecida a<br />
uma indústria, que a utilizará para aquecer<br />
equipamentos e fornos, por exemplo,<br />
encerraria a mesma ilogicidade e<br />
desperdício daquele exemplo do<br />
chuveiro. Mais econômico, mais barato<br />
e mais rápido para colaborar com o<br />
racionamento seria, então, segundo os<br />
especialistas, investir para levar as<br />
indústrias a substituírem a eletricidade<br />
diretamente pelo gás, em seus processos<br />
produtivos.<br />
Outras alternativas<br />
Um estudo técnico, divulgado antes de<br />
se admitir a crise energética, revela que o<br />
Brasil poderia reforçar seu abastecimento<br />
de força e luz apenas com medidas de<br />
aperfeiçoamento do sistema atual, sem<br />
necessidade imediata de novas hidrelétricas<br />
de grande porte e dispensando<br />
inteiramente o programa de termelétricas.<br />
Segundo os cálculos dos especialistas, o<br />
país poderia acrescentar mais 28 mil MW<br />
ao sistema, correspondentes a mais que<br />
duas usinas de Itaipu, com providências<br />
como a repotencialização das usinas mais<br />
antigas, através da instalação de<br />
equipamentos mais eficientes, o que<br />
renderia mais 7,8 mil MW.<br />
Além disso, uma rede de 924 pequenas<br />
hidrelétricas, que precisam de lagos de<br />
apenas 3 km 2 , têm custo reduzido e prazo<br />
curto de construção, acrescentaria 9 mil<br />
MW. A utilização da biomassa, principalmente<br />
bagaço de cana-de-açúcar (em<br />
São Paulo, Pernambuco e Alagoas) e<br />
resíduos da indústria de papel e celulose,<br />
Brasileiro gasta pouco<br />
O brasileiro que está economizando energia nos últimos meses, mesmo<br />
antes de junho, quando começou oficialmente a obrigação de baixar o<br />
consumo em pelo menos 20%, pode estar descobrindo que gastava<br />
em excesso. Ou que é possível sobreviver sem certos confortos, como<br />
ar-condicionado a qualquer momento e o uso corriqueiro do aparelho<br />
de microondas. Não deixa, porém, de reclamar da involução nos hábitos,<br />
que inclui, para muitos, o retorno até ao ferro de passar roupa aquecido<br />
a carvão, e o banho de caneca, com água aquecida no fogão, além de<br />
noites mais escuras.<br />
Ao se descobrir gastador, o brasileiro pode consolar-se com as<br />
estatísticas internacionais, que colocam nosso cidadão entre os<br />
consumidores de energia mais modestos: não mais que 2 mil quilowatts<br />
por ano, em média.<br />
Isto é bem menos que os 25 mil kW de cada norueguês, os 16 mil do<br />
canadense, os 12 mil do norte-americano e os <strong>10</strong> mil kW anuais do<br />
australiano. Mesmo países de desenvolvimento inferior ao do Brasil<br />
apresentam índice de consumo energético superior: a média sul-africana<br />
é de 4 mil kW por habitante; a do Casaquistão, 3,1 mil; a da Malásia, 2,6<br />
mil, e até o jamaicano, com 2,3 mil kW por ano, supera o brasileiro.<br />
Mesmo o vizinho Suriname apresenta média de 4,2 mil kW por habitante,<br />
e a Guiana Francesa, 2,4 mil kW.<br />
Para esquecer um possível complexo de gastador, o brasileiro precisa<br />
saber ainda que o consumo industrial gira em torno de 70% do total,<br />
cabendo às residências o uso restante. E 70% das famílias não passam<br />
de <strong>10</strong>0 kW mensais, enquanto cerca de 20 milhões de casas ainda não<br />
dispõem de eletricidade.<br />
Foto: AFP<br />
<strong>Senac</strong> e Educação Ambiental 35 <strong>Ano</strong> <strong>10</strong> • <strong>n.2</strong> • <strong>maio</strong>/<strong>agosto</strong> de <strong>2001</strong>