Ano 10 n.2 maio/agosto 2001 - Senac

omisso e o índio é obrigado a sair para
trabalhar quase como escravo nas
usinas. A terra está sem a cara do
índio, os maridos ficam muito tempo
fora, bebem e brigam, as escolas são
brancas. Além disso, o índio que vive
saindo da aldeia acaba tendo
vergonha de ser índio. Mas, como não
é branco, fica sem saber direito o que
é, e acaba sem vontade de viver”.
Na luta contra o suicídio, os guaranis
e kaiowás têm reconstruído suas
antigas casas de reza e resgatado os
espaços dos Ñande Ru e dos
tekoharuvicha, os chefes místicos,
religiosos e pajés que, por sua vez,
apóiam as retomadas das antigas
terras sagradas.
A retomada da
terra sagrada
Na década de 80, em uma ação
apoiada pelo CIMI e pela Associação
Kaguateka Marçal de Souza, que
reúne representantes dos guaranis
kaiowás, guatos e ofaiés, os índios
começaram novamente a se organizar
e retomar suas antigas terras.
Os guaranis lutam para retomar suas
terras porque, para eles, a terra não é
um bem comerciável. Só lhes
interessa a terra sagrada, onde
viveram seus antepassados e para
onde querem retornar e recompor
suas aldeias, seus tekohas, que são
os núcleos sagrados, que envolvem
terra, sol, alimento, dança lazer,
oração e família. É difícil precisar
quantas são as áreas reivindicadas
pelos guaranis kaiowás que estão nas
mãos de fazendeiros, mas podem
chegar a mais de 100 aldeias,
descaracterizadas e perdidas entre
pastos e plantações de erva mate.
O professor e líder indígena Guto Vera,
da aldeia Paraguassu, no município de
Paranhos, explica que seus ancestrais,
quando fugiam do massacre do
homem branco, iam escondendo seus
pertences – artesanatos, utensílios de
cozinha, enfim, tudo que fosse
possível. Até hoje, os índios procuram
esses objetos, que servem como
prova da existência de guaranis nas
terras que retomam.
As primeiras terras retomadas foram
Guaimbé, Rancho Jacré e Pirakuá.
Senac e Educação Ambiental 15 Ano 10 • n.2 • maio/agosto de 2001