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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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psíquica; e a maneira como a memória traumática é marca<strong>da</strong> no sujeito. A incorporação<br />

é um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa ativa<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> <strong>da</strong> falha introjetiva e tem a função <strong>de</strong><br />

“cobrir”, digamos assim, a lacuna <strong>de</strong> palavras <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> pela não-introjeção. Este<br />

mecanismo é o pivô <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> clivagem egóica, esta que é uma <strong>da</strong>s feri<strong>da</strong>s mais<br />

profun<strong>da</strong>s <strong>do</strong> <strong>trauma</strong>. Iniciaremos estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a incorporação como uma ação psíquica<br />

resultante <strong>de</strong> uma vivência <strong>de</strong> culpa e vergonha que marcam a relação entre o adulto e a<br />

criança e, por conseguinte, como uma forma encontra<strong>da</strong> pelo sujeito <strong>de</strong> manejar tais<br />

sentimentos, através <strong>da</strong> instauração <strong>de</strong> um silêncio traumático.<br />

Posteriormente estu<strong>da</strong>remos o fenômeno que Ferenczi <strong>de</strong>signou como<br />

“i<strong>de</strong>ntificação com o agressor”, que consiste em uma violenta e absoluta a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong><br />

criança ao adulto, a partir <strong>da</strong> incorporação <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong> culpa <strong>de</strong>ste último. Este<br />

fenômeno é o responsável pela clivagem narcísica, mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa arcaico que<br />

divi<strong>de</strong> o sujeito em duas personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s distintas e que só conseguem comunicar-se<br />

entre si através <strong>de</strong> sintomas. É a partir <strong>da</strong> clivagem que teremos condições <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a magnitu<strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>sestruturação psíquica resultante <strong>do</strong> <strong>trauma</strong>,<br />

principalmente no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> sujeito <strong>trauma</strong>tiza<strong>do</strong> na figura <strong>de</strong> “observa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” e<br />

em sua per<strong>da</strong> <strong>da</strong> certeza <strong>de</strong> si. Finalmente, na última parte <strong>do</strong> capítulo, enten<strong>de</strong>remos <strong>de</strong><br />

que forma o <strong>trauma</strong> <strong>de</strong>ixa marcas no sujeito, uma vez que não é possível encontrar-se<br />

vestígios positivos <strong>do</strong> mesmo no psiquismo. A resposta encontra<strong>da</strong> por Ferenczi é <strong>de</strong><br />

que a memória <strong>do</strong> <strong>trauma</strong> se encontra enterra<strong>da</strong> no corpo.<br />

É necessário, à guisa <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>sta introdução, fazer uma observação no<br />

tocante a uma questão <strong>de</strong> tradução. Na literatura psicanalítica nacional, consoli<strong>do</strong>u-se o<br />

uso <strong>do</strong> termo “<strong>de</strong>smenti<strong>do</strong>” para <strong>de</strong>signar este movimento traumático <strong>de</strong> negação <strong>da</strong><br />

experiência <strong>da</strong> criança por parte <strong>do</strong>s pais. Entretanto, seguin<strong>do</strong> a sugestão tanto <strong>de</strong><br />

Miran<strong>da</strong> (2012) quanto <strong>de</strong> Teresa Pinheiro, optei por utilizar-me <strong>do</strong> termo “<strong>de</strong>scrédito”<br />

para a supracita<strong>da</strong> <strong>de</strong>signação. Esta escolha ressoará integralmente neste trabalho.<br />

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