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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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postura insincera <strong>do</strong> analista, tornan<strong>do</strong>-se, ele próprio, insincero – não apenas com o<br />

outro, mas para consigo mesmo? Seja como for, a insinceri<strong>da</strong><strong>de</strong> e a hipocrisia tornamse,<br />

mais que as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s partes, os elementos que acabam por configurar<br />

uma atmosfera psicológica peculiar – isto é, um ambiente que, por ser forma<strong>do</strong> por tais<br />

características, repete o esquema relacional <strong>do</strong> paciente com o seu mun<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong><br />

criança. Esta falta <strong>de</strong> sinceri<strong>da</strong><strong>de</strong> produzi<strong>da</strong> pela dissimulação <strong>do</strong>s sentimentos que<br />

orbitam na relação participaria no processo <strong>de</strong> a<strong>do</strong>ecimento <strong>do</strong> sujeito quan<strong>do</strong> criança<br />

e o levaria a repetir este tipo <strong>de</strong> relação quan<strong>do</strong> adulto.<br />

À guisa <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>ste item, é interessante observarmos que o problema <strong>da</strong><br />

hipocrisia profissional, para Ferenczi, não está circunscrito apenas a uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong><br />

técnica – por exemplo, à posição “fria” <strong>do</strong> analista naquilo que po<strong>de</strong>ríamos aproximar<br />

<strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “análise clássica”. Mesmo nas experiências técnicas em que buscou<br />

romper com esta posição, assumin<strong>do</strong> uma postura <strong>de</strong> maior liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, Ferenczi<br />

pressentiu – às vezes, <strong>de</strong> maneira ain<strong>da</strong> mais dramática -, este furo na relação, aqui<br />

representa<strong>do</strong> pela hipocrisia. Basta nos lembrarmos que a análise mútua foi resulta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sse pressentimento 11 . Atualmente, em que <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s discursos sobre a técnica<br />

nos levam, praticantes <strong>da</strong> psicanálise, a investir em formas diferentes <strong>de</strong> fazer clínica,<br />

parece que nos asseguramos, com uma certeza <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> apressa<strong>da</strong>, que erradicamos<br />

a hipocrisia profissional <strong>de</strong> nossa atuação. Pelo contrário, a noção (ou consi<strong>de</strong>ração)<br />

<strong>da</strong> existência <strong>de</strong> uma hipocrisia profissional, mais que um <strong>de</strong>talhe que visa distinguir<br />

<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s estratos históricos <strong>da</strong> técnica analítica, é uma baliza que tem a função <strong>de</strong><br />

produzir um <strong>de</strong>sassossego no analista; é um ponto <strong>de</strong> questionamento no qual este<br />

<strong>de</strong>ve ter em mente, no que tange à sua posição em relação a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> paciente em<br />

um certo momento <strong>do</strong> tratamento; é uma interrogação quanto aos <strong>de</strong>stinos que ele,<br />

analista, dá ou <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> <strong>da</strong>r aos seus movimentos contratransferenciais e às suas<br />

convicções teóricas e <strong>de</strong>cisões práticas quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> manejo clínico.<br />

2.3. O peso <strong>da</strong>s palavras<br />

Assim como o prisma <strong>de</strong> Newton em que um feixe <strong>de</strong> luz branca, ao ser naquele<br />

refrata<strong>do</strong>, dispersa e <strong>de</strong>compõe luzes <strong>de</strong> diferentes cores – pois que são resultantes <strong>de</strong><br />

diferentes frequências <strong>de</strong> on<strong>da</strong>s -, o adulto é aquele que digere, digamos assim, as<br />

11 Cf. o item final <strong>do</strong> primeiro capítulo <strong>de</strong>sta monografia.<br />

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