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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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Nesta trajetória <strong>de</strong> conquista <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a criança se <strong>de</strong>cepciona<br />

ca<strong>da</strong> vez mais com os seus “po<strong>de</strong>res mágicos” que, segun<strong>do</strong> sua crença, eram os<br />

prove<strong>do</strong>res <strong>de</strong> suas vivências <strong>de</strong> satisfação, e neste senti<strong>do</strong> abdica, gra<strong>da</strong>tivamente, <strong>do</strong><br />

sentimento <strong>de</strong> onipotência que conferia a si mesma. Em certo momento, estes adultos<br />

prove<strong>do</strong>res <strong>da</strong>quilo que <strong>de</strong>seja e anseia é que passam a ser reconheci<strong>do</strong>s como<br />

<strong>de</strong>tentores <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> realizar seus <strong>de</strong>sejos e, por este motivo, aquela onipotência é,<br />

agora, transferi<strong>da</strong> para eles. Apenas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>cepções é que a criança percebe<br />

que mesmo estes adultos – seus pais, cui<strong>da</strong><strong>do</strong>res, etc. – também estão submeti<strong>do</strong>s a<br />

alguma outra força, logo também não são onipotentes. De qualquer forma, o que<br />

po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta história maturacional conta<strong>da</strong> por Ferenczi – e que será<br />

importante para a nossa investigação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> adulto sobre a criança -, é a<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>sta - a criança – em relação ao adulto. A este último é conferi<strong>da</strong> uma<br />

autori<strong>da</strong><strong>de</strong> absoluta, uma vez que é através <strong>de</strong> seus po<strong>de</strong>res – por ela registra<strong>da</strong> como<br />

uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> onipotência - que ela po<strong>de</strong> se amparar, com vistas a satisfazer sua<br />

vi<strong>da</strong> pulsional.<br />

A relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre o adulto e a criança é também vista, por Ferenczi, na<br />

dimensão <strong>da</strong> linguagem, e esbarra inevitavelmente no problema <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong><br />

mentira. Para ele, o adulto se aproveitaria <strong>de</strong> sua autori<strong>da</strong><strong>de</strong> para fazer calar a criança,<br />

principalmente em suas interrogações que tocassem em questões frágeis, como aquelas<br />

relaciona<strong>da</strong>s à sexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, religião, ou que pusessem em cheque a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quele<br />

adulto.<br />

No começo, a criança trata as palavras como coisas,<br />

crê nelas; não só toma conhecimento <strong>de</strong>las, mas<br />

aceita-as como verídicas. Entretanto, ao mesmo<br />

tempo que apreen<strong>de</strong>, pouco a pouco, a corrigir seu<br />

erro no tocante aos outros objetos, essa facul<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

falta-lhe quan<strong>do</strong> se trata <strong>da</strong>s <strong>de</strong>clarações verbais <strong>de</strong><br />

seus pais; primeiro, porque os pais a impressionam<br />

por seu po<strong>de</strong>r, imposto e real, ao ponto <strong>de</strong> a criança<br />

não ousar sequer duvi<strong>da</strong>r <strong>de</strong>les; em segui<strong>da</strong>, porque<br />

lhe é frequentemente interdita<strong>do</strong>, sob pena <strong>de</strong><br />

castigos e <strong>de</strong> privação <strong>de</strong> amor, tentar verificar as<br />

<strong>de</strong>clarações <strong>do</strong>s adultos (FERENCZI, 1913a/1992,<br />

p. 32).<br />

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