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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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CAPÍTULO II: RELAÇÃO TRAUMÁTICA<br />

2.1. Argumento<br />

A relação entre o adulto e a criança é <strong>de</strong>scrita por Ferenczi como sen<strong>do</strong> marca<strong>da</strong><br />

pela insinceri<strong>da</strong><strong>de</strong> e hipocrisia, pela mentira e pelo não-dito. Ele verifica este fato na<br />

clínica, ao observar a configuração transferencial entre analista e analisan<strong>do</strong>, e chega a<br />

concluir que um ambiente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> tais caraterísticas teria a potência <strong>de</strong> ser<br />

<strong>trauma</strong>tizante para uma criança. Ao longo <strong>de</strong> sua obra, ao se <strong>de</strong>bruçar sobre o tema <strong>da</strong><br />

pe<strong>da</strong>gogia, não raro nutre a esperança <strong>de</strong> que se po<strong>de</strong>ria realizar uma profun<strong>da</strong> reforma<br />

no sistema educacional, com vistas a torná-lo menos rígi<strong>do</strong> e mais libertário. A<br />

psicanálise po<strong>de</strong>ria fornecer não apenas o conhecimento em relação ao <strong>da</strong>no potencial<br />

que a educação excessivamente rígi<strong>da</strong> po<strong>de</strong>ria ocasionar nos indivíduos (Ferenczi, <strong>de</strong><br />

fato, a consi<strong>de</strong>rará como traumática, e a análise <strong>do</strong> caso Schreber mostrará muito bem<br />

seu estrago), como também po<strong>de</strong>ria oferecer subsídios para a construção <strong>de</strong> um novo<br />

sistema educacional, cujo norte ético estaria orienta<strong>do</strong> para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e a sinceri<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

propician<strong>do</strong> ao indivíduo in<strong>de</strong>pendência e autonomia. Entretanto, este projeto não ficará<br />

circunscrito apenas ao campo <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia.<br />

Neste capítulo, investigaremos a questão <strong>do</strong> <strong>de</strong>scrédito <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> perspectiva<br />

<strong>ferencziana</strong>. Para isto, <strong>de</strong>vemos enten<strong>de</strong>r como funciona a relação entre o adulto e a<br />

criança, principalmente no que tange à sua dinâmica discursiva. Em que momento a<br />

criança se encontra particularmente vulnerável para que o <strong>de</strong>scrédito tenha lugar? Por<br />

que motivo um adulto <strong>de</strong>sacreditaria a criança <strong>de</strong> sua própria experiência? Estas são<br />

algumas <strong>da</strong>s questões que tentaremos respon<strong>de</strong>r. Começaremos falan<strong>do</strong> sobre a<br />

“hipocrisia profissional”, pois este é o fenômeno clínico (ou ao menos, um <strong>do</strong>s) que<br />

<strong>de</strong>sembocou na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>scrédito teria a potência <strong>de</strong> ser <strong>trauma</strong>togênico. Depois,<br />

entraremos na investigação sobre a relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r existente entre o adulto e a criança,<br />

tal como concebi<strong>da</strong> por Ferenczi e, por fim, vamos articular estas informações com o<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> <strong>de</strong>scrédito.<br />

2.2. A hipocrisia profissional<br />

Ferenczi observa que a atmosfera analítica produzi<strong>da</strong> pela postura fria e<br />

reserva<strong>da</strong> <strong>do</strong> analista se assemelharia <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>masia<strong>do</strong> intensa com um certo<br />

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