a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ
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funcionan<strong>do</strong> minimamente bem na vi<strong>da</strong> social, conseguin<strong>do</strong> se a<strong>da</strong>ptar às exigências <strong>de</strong><br />
trabalho <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo, mas internamente dão a impressão <strong>de</strong> não existirem. Ou<br />
melhor, dão vestígios <strong>de</strong> sofrerem <strong>de</strong> um terrível sentimento <strong>de</strong> vazio, em que eles<br />
próprios são toma<strong>do</strong>s como algo indiferente e fútil, sem significa<strong>do</strong> (VERZTMAN,<br />
2002). Sen<strong>do</strong> indiferentes a si mesmos, não expressam nenhum tipo <strong>de</strong> afeição por si e<br />
se <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ram. Não é à toa que Ferenczi frequentemente conjura figuras referentes à<br />
morte, morbi<strong>de</strong>z e mortali<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>de</strong>screver o <strong>trauma</strong> e seus efeitos no sujeito.<br />
Vez por outra po<strong>de</strong>m apresentar experiências <strong>de</strong> inibição grave e angústias<br />
<strong>de</strong>pressivas severas (BOKANOWSKI, 2002/3; VERZTMAN, 2002) que vêm como<br />
alguma flutuação ao esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> marasmo que parecem perpetuamente vivenciar. Ao<br />
largo <strong>de</strong> um discurso <strong>de</strong>ssubjetiva<strong>do</strong> e <strong>de</strong> aparência neutra, po<strong>de</strong>mos às vezes pressentir<br />
uma agonia profun<strong>da</strong> que parece rondá-los. Po<strong>de</strong>m surgir, <strong>de</strong> seu discurso, queixas<br />
somáticas. Como nos diz Mello & Herzog (2009):<br />
As queixas são frequentemente corporais,<br />
localiza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maneira difusa, mas raramente<br />
en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong>s como um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>. Este corpo<br />
também se mostra silencia<strong>do</strong>, esvazia<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e,<br />
muitas vezes, estranho ao sujeito (p. 69).<br />
1.3. As linguagens <strong>da</strong> ternura e <strong>da</strong> paixão<br />
Antes <strong>de</strong> nos ser apresenta<strong>do</strong> o cenário em que se <strong>de</strong>senrola o <strong>trauma</strong> segun<strong>do</strong> o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> <strong>de</strong>scrédito, faz-se necessário consi<strong>de</strong>rarmos aquilo que Ferenczi <strong>de</strong>signou<br />
como linguagem <strong>da</strong> ternura e linguagem <strong>da</strong> paixão 3 . Estes <strong>do</strong>is elementos são, antes <strong>de</strong><br />
tu<strong>do</strong>, o pivô para explicitar as condições nas quais irrompe uma agressão <strong>de</strong> um adulto<br />
contra uma criança, assim como para mostrar o motivo pelo qual ambos são afeta<strong>do</strong>s<br />
por esta ocorrência. Apesar <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias por trás <strong>de</strong>stas duas noções po<strong>de</strong>rem ser<br />
remonta<strong>da</strong>s em alguns textos anteriores <strong>do</strong> autor (PINHEIRO, 1995), é em seu último<br />
artigo publica<strong>do</strong> em vi<strong>da</strong>, o polêmico “Confusão <strong>de</strong> línguas entre os adultos e a<br />
criança”, que elas aparecem explicitamente com estas <strong>de</strong>signações.<br />
3 Freud (1905) utiliza-se <strong>do</strong>s termos “ternura” e “sensuali<strong>da</strong><strong>de</strong>” para explicitar as diferenças entre a vi<strong>da</strong><br />
sexual infantil e pós-púbere. Não será consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> neste trabalho realizar aproximações e distinções entre<br />
os usos que este autor e Ferenczi fazem <strong>de</strong> tais palavras.<br />
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