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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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pulsionais passam a po<strong>de</strong>r ser nomea<strong>da</strong>s e transforma<strong>da</strong>s em <strong>de</strong>sejos (e fantasias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sejo). Neste movimento, em que o <strong>de</strong>sejo po<strong>de</strong> nascer como <strong>de</strong>sejo (TOROK,<br />

1968/1995), a introjeção possibilita que as experiências pulsionais passem pela<br />

linguagem, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim, ser articula<strong>da</strong>s em palavras. Não é à toa que a autora<br />

afirmará que o instrumento privilegia<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste processo é a nominação e, portanto, que<br />

seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> operação se dá às claras (TOROK, 1968/1995).<br />

Em uma forma <strong>de</strong> apresentar o paradigma <strong>da</strong> introjeção, Abraham & Torok<br />

(1972/1995) propõem pensar a experiência <strong>de</strong>sta como uma “comunhão <strong>de</strong> bocas<br />

vazias”. Sigamos seu raciocínio. Num primeiro momento, o bebê tem a boca preenchi<strong>da</strong><br />

pelo seio materno, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> provém satisfação. Posteriormente, sentin<strong>do</strong> a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

boca esvazia<strong>da</strong> <strong>de</strong> seio, o bebê é alivia<strong>do</strong> pelas palavras <strong>da</strong> mãe a ele en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong>s. Quer<br />

dizer, a boca vazia é preenchi<strong>da</strong> por palavras, e este é o primeiro paradigma <strong>da</strong><br />

introjeção: a passagem <strong>da</strong> boca cheia <strong>de</strong> seio para a boca cheia <strong>de</strong> palavras, e isto só é<br />

possível com a experiência <strong>de</strong> uma boca vazia e, ao mesmo tempo, com a presença <strong>de</strong><br />

uma mãe que assegure a significação <strong>de</strong> tais palavras. A mãe, que afinal <strong>de</strong> contas<br />

também é porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> uma boca vazia, em conjunto com o bebê que gra<strong>da</strong>tivamente<br />

vai passan<strong>do</strong> por experiências <strong>de</strong> boca vazia, formam a comunhão <strong>de</strong> bocas vazias,<br />

<strong>do</strong>ta<strong>da</strong>s <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> linguagem. Este circuito <strong>de</strong> “bocas vazias”, on<strong>de</strong><br />

ca<strong>da</strong> sujeito está em relação com um objeto <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> linguagem, é fun<strong>da</strong>mental para a<br />

introjeção. É <strong>da</strong>í que os autores indicam que “introjetar um <strong>de</strong>sejo, uma <strong>do</strong>r, uma<br />

situação, é fazê-los passar pela linguagem numa comunhão <strong>de</strong> bocas vazias”<br />

(ABRAHAM & TOROK, 1972/1995).<br />

Vemos que o papel <strong>do</strong> outro (objeto) na introjeção é essencial, uma vez que ele<br />

garante, ao sujeito, que suas experiências pulsionais possam ser referencia<strong>da</strong>s à<br />

linguagem. Assim como em Ferenczi, para Torok (1968/1995) a introjeção é o processo<br />

responsável pela entra<strong>da</strong> <strong>do</strong> sujeito no jogo objetal, e é justamente nesta ligação <strong>de</strong>le<br />

com o outro (isto é, com o objeto) que a nominação <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo po<strong>de</strong> se <strong>da</strong>r.<br />

Em uma carta en<strong>de</strong>raça<strong>da</strong> a Freud a fim <strong>de</strong> comentar o artigo sobre narcisismo,<br />

Ferenczi escreve, à propósito <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “emanações <strong>da</strong> libi<strong>do</strong>”, que o Professor<br />

“enten<strong>de</strong> por isto [como] um processo intrapsíquico, i.e., [como] o <strong>de</strong>slocamento <strong>da</strong><br />

libi<strong>do</strong> para a representação <strong>da</strong> percepção <strong>de</strong> um objeto real” (FREUD & FERENCZI,<br />

1995, p. 291, grifos no texto original). Esta pequena observação é interessante para<br />

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