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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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Participam <strong>de</strong>sta última categoria o “<strong>trauma</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>smame, <strong>do</strong> treinamento <strong>de</strong> asseio<br />

pessoal, <strong>da</strong> supressão <strong>do</strong>s ‘maus hábitos’ e, finalmente, o mais importante <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s, a<br />

passagem <strong>da</strong> criança à vi<strong>da</strong> adulta” (FERENCZI, 1928/1992, p.5).<br />

Po<strong>de</strong>mos apreen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> <strong>de</strong>scrédito uma certa estrutura, isto é, um<br />

conjunto mínimo e invariante <strong>de</strong> componentes que tecem <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s relações<br />

invariantes entre si e que, ao longo <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m cronológica, produzem uma<br />

<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> resposta. Para além <strong>de</strong> um cenário em que ocorre uma violência sexual,<br />

encontramos três personagens: uma criança e <strong>do</strong>is adultos. Há, entre a criança e o<br />

primeiro adulto, uma experiência que é para ela inapreensível – isto é, que está para<br />

além <strong>de</strong> to<strong>da</strong> sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> simbolização. Procura ela então o segun<strong>do</strong> adulto que,<br />

por sua vez, não apenas se furta <strong>de</strong> funcionar como um objeto que po<strong>de</strong>ria fornecer<br />

senti<strong>do</strong> como, também, proíbe que a própria função <strong>de</strong> simbolização se dê, produzin<strong>do</strong><br />

efeitos <strong>de</strong>sestruturantes no psiquismo <strong>da</strong> criança.<br />

É interessante notarmos que o que acontece entre a criança e o primeiro adulto –<br />

isto é, o agressor – é uma experiência que não apenas não encontra lugar no psiquismo<br />

<strong>da</strong> criança, como também é algo muito pouco tolerável para a mente <strong>de</strong> ambos os<br />

adultos. Como vimos, o adulto agressor sentirá um remorso insuportável ao ter<br />

consciência <strong>do</strong> que cometeu e, a partir disto, transformará completamente sua relação<br />

com a criança. O adulto que <strong>de</strong>sacredita, por sua vez, não conseguirá suportar o relato<br />

<strong>da</strong> criança e <strong>de</strong>sautorizará a sua possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> narrar o evento – não apenas para o<br />

outro, mas para si mesma. Seja lá qual for a ocorrência entre a criança e o adulto, tal<br />

experiência estará no registro <strong>do</strong> proibi<strong>do</strong>, em que o silêncio é a medi<strong>da</strong> encontra<strong>da</strong> por<br />

estes três personagens para que na<strong>da</strong> seja revela<strong>do</strong> ou sequer concebi<strong>do</strong>.<br />

Se Freud estu<strong>do</strong>u a dinâmica intrapsíquica <strong>do</strong> <strong>trauma</strong>tismo, Ferenczi põe acento<br />

na relação objetal. Sua <strong>teoria</strong> <strong>do</strong> <strong>trauma</strong> não po<strong>de</strong> ser constringi<strong>da</strong> a uma pesquisa que<br />

<strong>de</strong>lineie apenas os eventos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um aparelho psíquico. É sobretu<strong>do</strong> na forma como<br />

se relacionaram o sujeito e os objetos que o <strong>trauma</strong> <strong>de</strong>ve ser compreendi<strong>do</strong>: <strong>de</strong>sta forma,<br />

o <strong>trauma</strong> está, portanto, na relação. A consequência imediata e prática disto é que a<br />

relação entre analista e analisan<strong>do</strong> po<strong>de</strong> reproduzir o <strong>trauma</strong> na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

tratamento, agravan<strong>do</strong> ou sen<strong>do</strong> instrumento <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong><br />

subjetivação que, à força <strong>de</strong> sua própria história, se a<strong>da</strong>pta a um ambiente analítico e se<br />

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