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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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A introjeção é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> por Ferenczi especificamente como a última etapa <strong>do</strong><br />

mecanismo <strong>de</strong>scrito acima (qual seja, a ligação <strong>da</strong> libi<strong>do</strong> aos objetos externos), e isto se<br />

dá como um processo <strong>de</strong> atração <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> externo para a esfera <strong>de</strong><br />

interesses <strong>do</strong> eu <strong>do</strong> neurótico. Daí advém a observação <strong>de</strong> que o eu <strong>do</strong> neurótico é<br />

patologicamente dilata<strong>do</strong>, pois que se expan<strong>de</strong> e é expandi<strong>do</strong> pelo mun<strong>do</strong> (FERENCZI,<br />

1909/1991). Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar assim, em um primeiro momento e com outras<br />

palavras, a introjeção como sen<strong>do</strong> um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa que tem como função<br />

escapar <strong>da</strong>s representações <strong>do</strong> inconsciente abrigan<strong>do</strong>-se no mun<strong>do</strong> externo, com o<br />

intuito <strong>de</strong> aplacar angústia.<br />

Já po<strong>de</strong>mos entrever <strong>da</strong>í uma outra faceta <strong>da</strong> introjeção que é <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por<br />

Ferenczi: a relação <strong>do</strong> neurótico com o objeto externo, media<strong>da</strong> que é pelo eu. Há a<br />

expansão <strong>do</strong> interesse erótico para o objeto: portanto, o objeto é introduzi<strong>do</strong> na esfera <strong>de</strong><br />

interesses <strong>do</strong> eu. Há aí um para<strong>do</strong>xo que <strong>de</strong>ve ser entendi<strong>do</strong>: se há uma emanação <strong>de</strong><br />

libi<strong>do</strong> para “fora”, a fim <strong>de</strong> ligar-se com o objeto, o último é trazi<strong>do</strong>, entretanto e ao<br />

mesmo tempo, para “<strong>de</strong>ntro”, e passa então a fazer parte <strong>de</strong>ste “<strong>de</strong>ntro”. Neste senti<strong>do</strong>, a<br />

introjeção promove uma fusão <strong>do</strong> objeto com o eu, on<strong>de</strong> este objeto é integra<strong>do</strong> ao<br />

mesmo.<br />

A consequência que este para<strong>do</strong>xo traz é importante: Ferenczi afirma, a partir<br />

<strong>de</strong>le, que “o homem só po<strong>de</strong> amar-se a si mesmo e a mais ninguém; amar a outrem<br />

equivale a integrar esse outrem no seu próprio ego [eu]” (FERENCZI, 1912a/1991, p.<br />

181). Para este autor, to<strong>do</strong> o amor objetal obe<strong>de</strong>cerá a esta particular configuração em<br />

que uma coisa, para ser ama<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ve antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong> ser anexa<strong>da</strong> ao próprio eu <strong>do</strong><br />

sujeito. Aqui, a introjeção tem o papel <strong>de</strong> “territorializar” – anexar um território à sua<br />

proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> - como medi<strong>da</strong> inicial para o estabelecimento <strong>do</strong> amor objetal.<br />

Ferenczi comenta, em cima <strong>de</strong>stas observações, que o amor <strong>do</strong> neurótico é<br />

inevitavelmente egoísta 18 . Ao transformar e constringir os elementos estrangeiros em<br />

elementos familiares – isto é, ao torná-los homogêneos à sua própria estrutura egóica -,<br />

po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r como esta intuição trazi<strong>da</strong> pela introjeção se relaciona<br />

intimamente com o conceito <strong>de</strong> narcisismo, apesar <strong>de</strong> Ferenczi não ter ti<strong>do</strong> esta<br />

tecnologia conceitual à sua disposição, na época em que produziu o conceito <strong>de</strong><br />

18 Lembremos, para o que se segue <strong>de</strong> nossa discussão, que narcisismo é o componente erótico (libidinal)<br />

<strong>do</strong> egoísmo (FREUD, 1914/2004).<br />

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