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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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comprometi<strong>do</strong>s, pois a univoci<strong>da</strong><strong>de</strong> não permite a<br />

dúvi<strong>da</strong>. A dúvi<strong>da</strong> é própria <strong>do</strong> reconhecimento <strong>da</strong><br />

ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, é própria <strong>do</strong> simbólico (PINHEIRO,<br />

1995, p. 77).<br />

Ferenczi diz que a criança recalca a dúvi<strong>da</strong> 13 , o ato psíquico <strong>de</strong> questionar as<br />

palavras <strong>do</strong> adulto, e é então força<strong>da</strong> a a<strong>do</strong>tar uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> fé cega em relação a ele,<br />

renuncian<strong>do</strong> “a to<strong>do</strong> pensamento autônomo” (FERENCZI, 1913a/1992, p. 33). Está<br />

fecha<strong>da</strong>, assim, a genealogia <strong>do</strong> fenômeno clínico <strong>de</strong>scrito por Ferenczi, que consistia<br />

nos pacientes não realizarem qualquer tipo <strong>de</strong> crítica ou expressarem abertamente<br />

<strong>de</strong>saprovação em relação ao analista, manten<strong>do</strong>-se completamente dóceis. Nesta<br />

“resignação infantil”, a criança ain<strong>da</strong> teria, em seu espírito, críticas em relação ao<br />

adulto, mas as dissimularia a fim <strong>de</strong> não travar conflitos com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>quele.<br />

Posteriormente, porém, ela dissimularia tais críticas até para si mesma, transforman<strong>do</strong>se<br />

num ser obediente e com ausência <strong>de</strong> crítica (FERENCZI, 1933/1992).<br />

A atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> não-resistência ao discurso <strong>do</strong> adulto, on<strong>de</strong> o mesmo é toma<strong>do</strong><br />

como uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> inquestionável, capaz <strong>de</strong> aquebrantar as próprias certezas <strong>da</strong> criança<br />

e afugentar suas piores incertezas, transforman<strong>do</strong>-a em um ser passivo diante <strong>da</strong>quelas<br />

palavras, advin<strong>da</strong>s que foram <strong>de</strong> uma autori<strong>da</strong><strong>de</strong> esmaga<strong>do</strong>ra, assemelha-se à relação<br />

entre o hipnotiza<strong>do</strong>r e o médium, conforme observa Ferenczi:<br />

Que as crianças sejam influenciáveis, que sejam<br />

propensas a apoiar-se sem resistência num “gran<strong>de</strong>”<br />

nos momentos <strong>de</strong> aflição, que exista, portanto, um<br />

elemento <strong>de</strong> hipnose na relação entre crianças e<br />

adultos, é um fato inegável, com o qual há que<br />

conformar-se. Portanto, esse gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que os<br />

adultos têm em face <strong>da</strong>s crianças, em vez <strong>de</strong> utilizálo<br />

sempre, como geralmente se faz, para imprimir as<br />

nossas próprias regras rígi<strong>da</strong>s no psiquismo<br />

maleável <strong>da</strong> criança, como algo outorga<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

13 A crença se diferencia <strong>da</strong> convicção a partir <strong>do</strong> momento que ela é o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> recalcamento <strong>do</strong><br />

próprio “ato” <strong>de</strong> duvi<strong>da</strong>r, o que faz com que uma sentença <strong>do</strong> outro seja toma<strong>da</strong> sem resistência pelo<br />

psiquismo. A convicção, por sua vez, seria a consequência <strong>de</strong> um juízo neutro, objetivo e ativo – on<strong>de</strong> o<br />

sujeito em questão seria ator <strong>de</strong>ste processo -, e que se constituiria a partir <strong>da</strong> superação <strong>da</strong> própria<br />

dúvi<strong>da</strong>. O que não significa que tal convicção passe a ser invulnerável à dúvi<strong>da</strong>, em momentos ulteriores<br />

(FERENCZI, 1913a/1992).<br />

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