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a teoria ferencziana do trauma - Instituto de Psicologia da UFRJ

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elação à criança. Veremos adiante como po<strong>de</strong>mos esten<strong>de</strong>r ain<strong>da</strong> mais a compreensão<br />

<strong>de</strong>sta estrutura, no que tange aos seus elementos constituintes, para além <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong><br />

violência. Entretanto, neste trabalho, privilegiaremos como exemplo o abuso sexual, por<br />

ter si<strong>do</strong> o objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> que Ferenczi tinha em mente nas suas pesquisas.<br />

Postas estas consi<strong>de</strong>rações, iniciemos a <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> situação em que ocorre a<br />

confusão <strong>de</strong> línguas. Pouco sabemos <strong>da</strong> psicologia <strong>do</strong> adulto agressor. Ferenczi reuniu<br />

os seus esforços e últimos anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> para investigar – e curar – aqueles que sofreram<br />

a agressão: isto é, as crianças <strong>de</strong> outrora. Alguma coisa acontece para suspen<strong>de</strong>r a<br />

barreira que divi<strong>de</strong> a linguagem <strong>da</strong> paixão <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> ternura, o adulto <strong>da</strong> criança.<br />

Trata-se, para Ferenczi, <strong>do</strong> adulto apaixona<strong>do</strong>. É importante que compreen<strong>da</strong>mos que<br />

este adulto é toma<strong>do</strong>, momentaneamente, por uma paixão que, tornan<strong>do</strong>-o cego, o faz<br />

ignorar as injunções civilizatórias (o tabu <strong>do</strong> incesto, por exemplo) que asseguravam a<br />

barreira menciona<strong>da</strong> acima.<br />

“Paixão”, aqui, tem uma significação precisa que remete ao exagero, <strong>de</strong>smesura,<br />

abuso, loucura, imprevisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> (PINHEIRO, 1995; MELLO & HERZOG, 2009). É<br />

um ímpeto, algo <strong>de</strong> momentâneo que inva<strong>de</strong> o sujeito e que, não ten<strong>do</strong> mais<br />

“consi<strong>de</strong>ração à coisa nenhuma” (FERENCZI, 1932/1990, p. 195), atropela os códigos<br />

<strong>da</strong> cultura e perpetra a violência contra a criança. O que seria responsável em incitar<br />

este adulto apaixona<strong>do</strong>? Para respon<strong>de</strong>r esta questão, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar duas óticas: a<br />

<strong>do</strong> adulto e a <strong>da</strong> criança.<br />

Em relação ao primeiro – isto é, ao agressor -, Ferenczi cogita que este po<strong>de</strong> ter<br />

“tendências psicopatológicas, sobretu<strong>do</strong> se seu equilíbrio ou seu auto<strong>do</strong>mínio foram<br />

perturba<strong>do</strong>s por qualquer infortúnio, pelo uso <strong>de</strong> estupefacientes ou <strong>de</strong> substâncias<br />

tóxicas” (FERENCZI, 1933/1992, p. 102). À guisa <strong>de</strong> ilustração, em seu Diário clínico,<br />

aponta a epilepsia como po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser uma <strong>de</strong>stas “tendências psicopatológicas” e a<br />

embriaguez alcoólica, como sen<strong>do</strong> o efeito <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>stas substâncias “estupefacientes”<br />

(FERENCZI, 1932/1990). É muito importante observarmos que a figura <strong>do</strong> adulto<br />

apaixona<strong>do</strong> é um esta<strong>do</strong> momentâneo, evanescente.<br />

Por sua vez, a criança - sempre <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> linguagem <strong>da</strong> ternura -, realiza suas<br />

fantasias <strong>de</strong> seduzir o adulto através <strong>de</strong> brinca<strong>de</strong>iras dirigi<strong>da</strong>s ao mesmo. Normalmente,<br />

tais investi<strong>da</strong>s são codifica<strong>da</strong>s pelo adulto como sen<strong>do</strong> <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> brinca<strong>de</strong>ira e,<br />

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